terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Paulo e o Batismo da Água


Por estranho que pareça, Paulo não só batizou com água (I Coríntios 1: 13-16), durante muitos anos do seu ministério (Coríntios, Atos 19 – 15/20 anos de ministério) como foi batizado (Atos 9: 18). A verdade é que nunca encontramos em Paulo nenhum lamento disso ou qualquer palavra que espelhe algum desconforto por ter cometido algum erro ou que reflita algum arrependimento por ter batizado!

Para muitos combatentes do batismo da água estas questões ainda lhes são uma espinha na garganta, pois para eles é um verdadeiro anátema batizar com água! E não descansam enquanto não dividirem o “Corpo de Cristo” e destruírem o templo de Deus com o pretexto de retirarem a “água” do “Corpo”.

Paulo escreveu:
«11 Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloe que há contendas entre vós. 12 Quero dizer, com isso, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo. 13 Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo? 14 Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio; 15 para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. 16 E batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro» (I Coríntios 1).

A questão que Paulo levanta no texto e que condena veementemente, são as contendas entre aqueles irmãos: a divisão de CRISTO! Eles estavam enriquecidos com todo o conhecimento dos mistérios de Deus e dotados de todos os dons do Espírito (1: 4-8), mas estavam divididos e desentendidos em diversos assuntos. Eles estavam habilitados por Deus com múltiplas capacidades para «estarem unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer» (v. 10), mas optaram pelas divisões e contendas (cap. 6). Eles estavam capacitados com línguas, com profecias e com fortunas pessoais, mas faltava-lhes o elemento essencial que promovia a fundamentação, a edificação e o fortalecimento, que era o AGAPE (Capítulo 13), o amor de Deus!

 E, sobre isso, diz ele no capítulo três: 
«17 Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo. 18 Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio».

Aos Romanos diz:
«Não destruas por causa da comida a obra de Deus» (14: 20).

E, aos Coríntios, volta e diz:
«11 E, pela tua ciência, perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu. 12 Ora, pecando assim contra os irmãos e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo» (I Coríntios 8).

É verdade que ele diz:
«Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio» (v. 14)

Notem: ele dá graças a Deus, e não: "lamento ter batizado..." 

Presumem alguns ensinadores, que ele disse uma grande coisa contra o batismo na água! Mas, a razão por que dá graças a Deus está no versículo seguinte:
«Para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome…» (v. 15).

Ou seja, Paulo não batizou mais para não alimentar e promover mais divisões! Paulo não batizou mais porque estivesse errado, ou porque era um anátema, mas para que não dissessem que ele era importante ou com alguma importância equivalente ao Senhor Jesus Cristo, e fosse assim um elemento de divisão. O Senhor é o único elemento de união do Corpo.

É, também verdade que Paulo diz que o ministério que o Senhor lhe deu não contemplava o batismo na água, como ele mesmo diz:
«17 Porque Cristo enviou-me não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã. 18 Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus» (I Coríntios 1).

Ou seja, (1) o Senhor enviou-o (não há dúvida); (2) para evangelizar (3) e não falou em batizar. O Senhor enviou-o para falar da cruz e não para falar do batismo da água, porque os dois temas não são comparáveis: a CRUZ ou a obra da cruz é a obra da cruz; o batismo na água é batismo na água. Por isso, também,

«NÃO ENCONTRAMOS QUALQUER PROIBIÇÃO DE PAULO PARA NÃO BATIZAR OU A PROIBIR O BAPTISMO NA ÁGUA!»

E, neste sentido não podemos ser mais apóstolos que Paulo, como se tivéssemos tido qualquer revelação, seja para fazer seja para deixar de fazer! Não podemos ir além do que está escrito. E, aqui entra a «sabedoria e a prudência espiritual» (Efésios 1: 8) ou a «sabedoria e a inteligência espiritual» (Colossenses 1: 9).

Em I aos Coríntios, capítulo 15, diz Paulo:
«Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles, então, pelos mortos?» (v. 29).

Tem havido muitas explicações para este texto, descontextualizando-o. Mas, temos de o entender no contexto de toda a epístola e no próprio capítulo. Paulo está a falar da ressurreição – E A RESSURREIÇÃO DE CRISTO:
(1)  «Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou» (v. 16);
(2)  «E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé» (v. 14);
(3)  «E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus» (v. 15);
(4)  «E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados» (v. 17).
(5)  «E também os que dormiram em Cristo estão perdidos» (v. 18).
(6)  «Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens» (v. 19).
(7)  «Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos» (v. 32).

O que Paulo está a dizer é: «Porque se batiza em nome de Cristo se ele não ressuscitou? Porquê se batiza em nome de um morto?»

O facto de Paulo usar o plural não é para invocar os batismos dos gentios, já que não há qualquer referência ou fundamento histórico, pois o contexto anterior e posterior é a ressurreição do Senhor Jesus Cristo (v. 32). O plural usado por Paulo no texto é para realçar a generalidade do assunto.

Ora, com isto, o apóstolo está a referir algo que era comum no seio dos crentes em Corinto, e usa-o várias vezes como um exemplo, e não como tema de divisão, matéria de combate espiritual, “instrumento” de destruição do “Corpo de Cristo”.

A verdade é que muitos ensinadores das Escrituras não sabem lidar bem com a Palavra de Deus nem com o propósito em Ele a ter revelado para o “Corpo de Cristo”: não para dividir mas para unir. E como têm falta de capacidade espiritual de edificar, construir, exortar e fundamentar com a semente da vida, resta-lhes destruir. Infelizmente, muitos crentes sinceros, dedicados, mas ingénuos, têm-se deixado usar como “carne para canhão” (figura militar usada para referir-se aos militares que vão na linha da frente e são os primeiros a dar o “corpo às balas”, enquanto os maus militares ficam na retaguarda a deleitarem-se nas suas mortes… e receberem os seus “louros”. Em Cristo isso não funciona assim)! É hora de acordar e disponibilizarem-se nas mãos de Deus para edificação, união e fundamentação nas obras do Espírito de Deus.

É claro que as obras do Espírito de Deus são o «amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança…» (Gálatas 5); e, aqui, nunca há lugar a divisão ou a separações! E, claro está, nunca pode haver unidade espiritual sem estas virtudes do Espírito! Por isso, os que querem dividir podem muito bem ser confrontados com estes princípios espirituais: para, primeiro, procurarem obter estas virtudes.

Aqui, também, não há referência a conhecimento ou a doutrina! Porque, o elemento do conhecimento parte essencialmente de elementos internos e externos de cada um: parte, por isso, da capacidade de cada um: é essencialmente humana para entender as coisas do Espírito de Deus: é o Espírito de Deus e o nosso espírito (Romanos 8: 16). Mas, isso é outro tema e não é o que estamos a tratar aqui… mas o «guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz» (Efésios 4: 1-6). Por isso, estou certo que os que dividem não sabem o que é o «vínculo da paz» porque não têm paz consigo próprios e refletem essa falta de paz com a forma como lidam com os outros membros do “Corpo de Cristo”.

Já muito mal e muita divisão foi feita com o pretexto do “batismo da água”, pecados gravíssimos que causaram divisões e separações irrecuperáveis no “Corpo de Cristo”, com repercussões devastadoras, mesmo para as futuras gerações, e em nome de um Deus que nada tem a ver com isto e vai em oposição a tudo quanto Ele pensou para o Seu povo. 

Oro para que os estimados leitores não se deixem influenciar com esses discursos – sublimidade de palavras, de sabedoria humana, que não serve a Deus mas à carne dos próprios (I Coríntios 2:1; Colossenses 2: 8, 23) – e não se envolvam com estas batalhas que destruirá a todos os que as travarem, pois «são obras que sofrerão detrimento» (I Coríntios 3: 15). Somos chamados a lutar, mas as “guerras de Deus” não contra o “Corpo de Cristo”!

«Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor» (I Coríntios 15: 58).