sábado, 8 de julho de 2023

Novo Modelo de Vida

Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues.” (Romanos 6: 17, ARC).

Como vencer o pecado ou como viver a santificação? Duas perspetivas da mesma questão.

O escritor sagrado continua a explicação no capítulo 7 de Romanos para demonstrar que o velho sistema da lei não funciona, hoje, nem é aplicável ao “Corpo de Cristo”. E explica como se processa a santificação ou a aplicação deste nova “forma de doutrina” na nossa vida. Não esqueçamos que os capítulos 6, 7 e 8 estão a falar do mesmo assunto: como viver, experimentar e aplicar o Evangelho de Deus na nossa vida terrena.

Então diz:
Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus."
(…)
"Mas, agora, estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos (presos: no pecado, 6: 17); para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra (a lei)” (7: 4-6).

O argumento que invoca para dizer que o velho modelo está caduco, é porque estamos mortos em Cristo para a Lei. Assim, estamos mortos para o pecado, pelo corpo de Cristo e mortos para a lei. E, como estamos mortos para aquilo que nos condenava, diz no capítulo 8: “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.

Então, como viver para Deus? Pela ressurreição de Cristo, ou seja, com uma nova vida – “para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela (por causa, para a…) glória do Pai, assim (assim, i.e., ressurretos, como novos, e por causa da mesma glória) andemos nós também numa nova vida” (6: 4), e “sirvamos a Deus em novidade de espírito” (7: 6), ou seja, com um “novo espirito”, ou “nova mentalidade”, ou “novo entendimento”, ou nova “forma de ensino a que fomos entregues”.

O “novo espírito” contrasta e rivaliza com o velho espírito: o “espírito da lei”! O “espírito da lei” ou a aplicação da lei, desperta a nossa carne e aplica-se na carne, no nosso corpo! (Não é natureza pecaminosa, como algo abstrato que se manifesta no nosso corpo como algo autónomo. Isso não existe. São construções imaginativas para explicar o que não entendem. A carne é o nosso corpo carnal, os nossos membros, feitos de carne.) Mas, este “novo espírito” desperta a nossa mente e aplica-se no nosso entendimento. Como é dito:
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim (na minha mente, v. 23-25), mas não consigo realizar o bem.” (v. 18).

Então, e uma vez que na nossa carne, no nosso corpo, em nossos membros, não habita bem algum, é com a nossa mente, renascida, instruída e cheia da Palavra de Deus que podemos “dar fruto para Deus” (7: 4).

Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado” (23-25).

O “homem interior” é a mente e o coração (2: 29). Como em João 12: “Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure” (v. 40), ou como em Efésios 1: “entender com os olhos do coração...” (v. 18).

Então, na perspetiva da carne, diz: “… com a carne, sirvo à lei do pecado…” e, conclui: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Mas, na perspetiva do espirito, da mente, do entendimento, diz: “Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus” (7: 29).

Então, na perspetiva da carne (corpo), o crente diz: “a minha carne inclina-se para as coisas da carne…” (8:5) e com ela, “sirvo à lei do pecado…”; mas, na perspetiva do espírito (mente), o crente diz: “o meu espirito inclina-se para as coisas espirituais” (8:5), e, assim que “eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus” (7: 29).

O escape, a batalha espiritual, a vida vitoriosa só é conseguida e garantida na nossa mente. Do corpo, da nossa carne, nada se aproveita. Por isso diz: “os que estão na carne não podem agradar a Deus” (8: 8), e: “a carne e o sangue não herdarão o reino de Deus” (I Coríntios 15: 50), e “o corpo do pecado seja desfeito” (Romanos 6: 6), como, também diz: “os manjares são para o ventre, e o ventre, para os manjares; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros” (I Coríntios 6: 13).

E, quando o apóstolo diz que “os nossos corpos são membros de Cristo” (v. 15), e que “o nosso corpo é o templo do Espírito Santo” (v. 19), está a falar da ressurreição (v. 14) e da união com o Senhor em espírito (v. 17). Porque, neste corpo de pecado “não habita bem algum” (Romanos 7: 18) e, salvo melhor opinião e melhor esclarecida, não parece que Deus fizesse morada num corpo de pecado e nestas condições deploráveis, de forma real e pessoal, como está na glória, mas, antes, de forma “representativa”! Ou estaria num “pão” porque disse: “isto é o meu corpo”! (Lucas 22: 19). Como, também diz, que “estamos assentados em Cristo, nos lugares celestiais” (Efésios 2: 5-7), e, ainda, estamos aqui na Terra! Paulo fala na perspetiva da “mente de Deus” e do “propósito de Deus”: da nossa “posição em Cristo”, como em Romanos 8: 29-30 – “aos que dantes conheceu… já os glorificou”. Como, ainda, quando diz: “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (I Coríntios 6: 20), quererá dizer que devemos glorificar a Deus nas nossas ações e decisões enquanto estamos neste corpo. Pelo que, devemos usar o corpo para a gloria de Deus (Romanos 12: 1-2), e isso é decidido na mente (ler textos citados).

E, então, nesta realidade terrena, e nesta nova condição espiritual, frequentemente o apóstolo dizia: “Deus, a quem sirvo em meu espírito…” (Romanos 1: 9; 7: 6; II Coríntios10: 3-6; Filipenses 3: 3). E, é nesta sequência e é neste novo sentido que o nosso escritor inspirado continua a dizer no capítulo 8: “… que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito…”, e: “…que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito” (Romanos 8: 1, 4). Ou seja: Paulo tinha adotado este novo sistema de vida espiritual, não andando segundo a lei do pecado, que se manifesta pelas obras do corpo (Colossenses 3: 6; Gálatas 5: 17), mas andava segundo a mente e a lei do entendimento instruída pela Palavra de Cristo.

E, noutro lado, diz: “Porque quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo” (I Coríntios 2: 16).

Mente de Cristo” para se referir à revelação recebida (v. 6-7, 10). O mesmo que o “espírito de Cristo” (Romanos 8: 9, 10, 15, 16, 26 e 27). Não confundir o “Espírito de Deus” com o “Espírito de Cristo”. Estão em sintonia, mas são “espíritos” diferentes! I Coríntios 2: 10-16 explica este sentido de “espírito”, como “mente”, “entendimento” de Cristo, que se refere à revelação da “Palavra de Cristo”, a “Palavra” que estava na mente de Cristo, e que, quando a aceitamos (Efésios 1: 13), passou a habitar em nós (Efésios 3: 16-17, com Colossenses 3: 16) e ficou gravada no nosso coração (II Coríntios 3: 3). Este, creio, é que é o selo, o penhor do Espírito, gravado na nossa mente e coração, que fará o “clik” da ressurreição à Voz de Cristo na Sua vinda. Por isso diz: “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é d’Ele” (8: 9).

É neste pensamento que, segundo creio, o apóstolo também diz: “A carne luta contra o espírito, e o espírito luta contra a carne…” (Gálatas 5: 16-18). Ou seja: temos o nosso corpo, com as suas paixões carnais a puxar para baixo, e a nossa mente, o espírito, a puxar para cima! (Colossenses 3: 1-4).

É na mente que a batalha espiritual se trava; é na mente que sairemos vencedores ou derrotados espiritualmente. A batalha espiritual é a guerra do entendimento e do conhecimento de Deus, pela sua compreensão e obediência (II Coríntios 10: 3-6; Efésios 6: 12). E é na mente, no espírito, que essa batalha se trava, como é no espírito que servimos a Deus e "damos o fruto que Deus" espera de nós, segundo este novo modelo da graça, e determinará tudo o que seremos na Eternidade.

Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus” (II Timóteo 1: 13).

Reconheço que é uma linguagem nova para a generalidade dos crentes, e que não é fácil compreende-la e assimila-la, como disse Pedro (II, 3: 15-16), mas é a que me faz sentido; e, espero que entendam. Também dará para perceber como a cristandade está muito distante do atual modelo de fé do “Corpo de Cristo”, e vão-se entretendo com a “religião evangélica”, e outras. Não desperdices estas verdades e estas experiências.

A graça do Senhor seja com o vosso espírito para compreender a “mente do Senhor”, revelada a Paulo e aos seus santos, a Igreja “Corpo de Cristo”.
 Saudações em “um só Corpo” e em “uma esperança” em Cristo!