“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei carne nem sangue, nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, MAS PARTI PARA A ARÁBIA e voltei outra vez a Damasco. Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor. Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto.” (Gálatas 1: 15-20).
Esta referência que o
próprio Paulo faz à sua ida à Arábia, logo após o aparecimento do Senhor é
muito importante para compreender a vocação e apostolado distinto de Paulo.
Um pormenor, também, muito
importante, quando comparamos esta descrição do próprio com o relato de Atos,
verificamos que Lucas omite esta referência que corresponde a três anos da vida
de Paulo (Atos 9: 19-31). Porquê?
Porquê a Arábia e que tem a
Arábia a ver com Paulo e com o seu ministério?
Notem que o apóstolo está a
relatar a Sua chamada e a relaciona-la com o Evangelho que recebera diretamente
do Senhor. E, especialmente, a descartar qualquer contacto ou influência humana,
inclusivamente dos apóstolos de Israel. Por isso, era importante referir que “não
consultou a carne nem sangue, nem tornou a Jerusalém, a ter com os que já antes
de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia…”
Para entendermos esta
referência de Paulo à Arábia temos de retroceder no tempo cerca de três mil e
quinhentos anos a trás, ao tempo de Moisés. Moisés, quando fugiu do Egipto, foi
para as terras de Midiã, onde casou, teve filhos e viveu cerca de quarenta anos,
como relata o livro de Êxodo:
“Moisés fugiu de diante
da face de Faraó, e habitou
na terra de Midiã…” (2: 15). E, passado esse tempo, “apascentava
Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto
e veio ao monte de Deus, a Horebe. E apareceu-lhe o Anjo do SENHOR em
uma chama de fogo, no meio de uma sarça…” (3: 1-2).
Estudos e descobertas mais
recentes têm localizado o monte Horebe, o monte de Deus, não na península do
Sinai, como a tradição o faz, e têm enchido aquelas terras com idolatria, mas
tem-se demonstrado que se localiza na península arábica, nas terras de Midiã,
onde Moisés viveu e onde o Senhor apareceu, como disse:
“E Deus disse: Certamente
eu serei contigo; e isto te será por sinal de que eu te enviei: quando houveres tirado este povo
do Egito, servireis a Deus neste monte.” (3:11).
Este é o monte santo onde o
Senhor se manifestou a Israel e ao mundo, e entregou as tábuas da Lei a Moisés
(I Reis 8: 9; Malaquias 4: 4), como também disse:
“Eis que estarei ali diante de ti sobre a rocha em
Horebe; ferirás a rocha, e dela sairá água, e o povo beberá. Moisés
assim o fez na presença dos anciãos de Israel.” (17: 6).
O que mais me surpreende
neste contexto é ver a forma como o Senhor tem protegido estes lugares, preservando-os
do vandalismo e da idolatria, em que está interdito ao publico ainda hoje, como
fez durante séculos com a tumba onde o Senhor Jesus esteve sepultado.
Mas este lugar tem um
significado muito especial para os servos de Deus, designadamente para ter um
encontro especial com Deus.
Foi neste monte que Elias esteve com Deus, quando fugia de
Jezabel e recebeu as últimas instruções divinas para o seu ministério:
“Levantou-se, pois, comeu
e bebeu; e, com a força daquela comida, caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe,
o monte de Deus.
Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do SENHOR e lhe disse:
Que fazes aqui, Elias?” (I Reis 19: 8-9).
Há quem diga, os mais especulativos,
que poderá haver ali um portal onde os seres celestiais comunicam com a
terra!!!! (Tipo João 1: 51).
Agora, chegou a vez de Saulo
se recolher ao monte de Deus, a Horebe, nas terras de Midiã, na península
arábica, depois que o Senhor lhe aparecra e lhe dizer que mais vezes lhe
apareceria, para ter um tempo especial com o Criador e com o Senhor Jesus
Cristo.
Em II
Coríntios 12 Paulo faz nova referência a este momento, quando disse:
“O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é
eternamente bendito, sabe que não minto. Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs
guardas às portas da cidade dos damascenos, para me prenderem, e fui descido
num cesto por uma janela da muralha; e assim escapei das suas mãos. Em verdade que não convém
gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um
homem em Cristo que, há catorze anos (se no corpo, não sei; se fora do corpo,
não sei; Deus o sabe), foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo,
se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu
palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar.” (11: 31 a
12: 4).
“Para bom entendedor
meias palavras bastam”, diz um velho ditado. E, muito provavelmente, esta referência
e sequência quer se reportar aos episódios de Gálatas supra citados. E, notem,
como Paulo faz, em ambos os textos, um juramento e uma invocação ao testemunho
de Deus (Gálatas 1: 20 – “Deus sabe que não minto”). Como, se
compararmos os dois textos, vemos que o apóstolo quer demonstrar que a sua vocação
apostólica foi dada imediatamente à aparição do Senhor, como também o refere em
vários outros textos. E, neste, como diz, terá sido na Arábia, no monte Horebe,
que Paulo terá sido transportado pelo Espírito de Deus e, em espírito, ao “terceiro
céu… e depois ao paraíso”, ao lugar que pertence ao “Corpo de Cristo” para
receber a mensagem do próprio Corpo de Cristo, onde o Senhor Jesus Cristo se
encontra, “acima de todos os céus”.
Em II Timóteo o apóstolo
faz, também, esta ligação entre a aparição gloriosa e especial do Senhor e a
sua salvação, revelação e vocação apostólica:
“Portanto, não te
envergonhes do testemunho de
nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes, participa das
aflições do evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e chamou com uma
santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi
dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos, e que é manifesta, agora, pela aparição de nosso
Salvador Jesus Cristo, o qual
aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho, para o que fui constituído pregador,
e apóstolo, e doutor dos gentios; por cuja causa padeço também isto, mas
não me envergonho, porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é
poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia.” (1: 8-12).
“Aparição”
(gr. “epiphaneia”), manifestação luminosa, gloriosa. A mesma palavra
usada pelo apóstolo no capítulo 4, verso 8: “e não somente a mim, mas também
a todos os que amarem a sua vinda.” Uma clara referência à aparição do
Senhor a Paulo no caminho de Damasco, porque é a única que encaixa naquela
descrição. Como, também, é referido na I epístola a Timóteo:
“Fiel é a palavra e digna
de toda aceitação: que
Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o
principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia,
para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa
longanimidade, e servisse eu
de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna. Assim, ao Rei
eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos
séculos. Amém!” (1: 15-17).
E, aos
Efésios:
“Por esta causa eu,
Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes ouvido a
respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros;
pois, segundo uma revelação,
me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco,
resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo” (3:
1-4).
E, porquê Arábia? Porque não
Jerusalém?
Esta mensagem de Deus, a
Dispensação da Graça de Deus, a Revelação do Mistério não contempla qualquer
povo especial, não admite nação privilegiada, pois “todos pecaram”, judeus e
gentios, e “todos carecem da graça de Deus”. E, Israel, e especialmente Jerusalém,
estavam “destituídos dos novos planos de Deus”. Eles tinham mergulhado na
incredulidade. Tinham rejeitado e matado o seu Rei. Tinham optado pelo governo
do “príncipe deste mundo”, e revestiram-se de trevas. Neste sentido, esclarece o
próprio escritor aos Hebreus:
“Por isso, foi que também
Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele, fora do
arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13: 12-13).
“Saiamos fora”, quer
dizer: “fora da cidade”, “fora Jerusalém”. Por isso, receio que, todos aqueles
que hoje promovem a Jerusalém terrena não estejam a promover o Anticristo e a
sua cidade, a “cidade apostata” (Apocalipse 11: 8), a “grande Babilónia” (???).
Poderá ser!!!
Não ignoremos que a
Revelação do Mistério, ao contrário da Revelação Profética, não foi dada ao
povo de Israel, nem pelo povo de Israel, nem para o povo de Israel, mas para os
gentios – “O Corpo de Cristo”, que tem uma nova identidade: não judeus
nem gentio (Gálatas 3: 28; Colossenses 3: 10-11); a primeira manifestação do
Senhor nesta Dispensação da Graça foi fora de Israel, a caminho de Damasco. A
principal revelação do Senhor glorificado a Paulo terá sido dada fora de
Israel, no monte Horeb, na Arábia. A primeira igreja local cristã foi fora de
Israel, em Antioquia. As últimas revelações do Senhor a Paulo para o “Corpo de
Cristo” foram dadas na prisão, em Roma. E, quando Paulo tomou a iniciativa de
ir a Jerusalém, a primeira vez, passados três anos (Gálatas 1: 18), o Senhor
lhe apareceu para o mandar sair de lá, URGENTEMENTE, por amor à sua vida e
ministério:
“E aconteceu que,
tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de
mim. E vi aquele que me
dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém, porque não receberão
o teu testemunho acerca de mim.” (Atos 22: 17-18).
Mesmo as últimas revelações proféticas dadas aos apóstolos de Israel aconteceram fora de Israel: Daniel na Babilónia; Ezequiel, que narrou a saída da Presença da Glória de Deus, aconteceu junto ao Rio Quebar, também na Babilónia. Pedro escreveu a sua carta desde a Babilónia. João escreveu o seu Apocalipse desde a ilha de Patmos. Por isso, é dito ao remanescente de Israel, e a todos que buscam a Deus: “Sai dela, povo meu” (Apocalipse 17-18), pois, hoje, para encontrar a Deus não é em Israel nem no povo de Israel. E, o próprio remanescente será protegido por Deus fora de Israel, pois esta nação será dizimada pelas nações e pelos exércitos do anticristo (Lucas 23, Apocalipse 11-12), por causa da sua incredulidade (Hebreus 3-4; II Pedro 2). E, só na vinda do Senhor em poder e grande glória à Terra, segundo a revelação profética, Israel será restaurado com o remanescente (Romanos 11: 25-32; 9: 27; Apocalipse 14; Atos 3: 17-26). E, quando a Escritura diz para amar o Israel de Deus é o remanescente… “estes pequeninos…” (Mateus 25), o “pequeno rebanho” (Lucas 12: 32), os “escolhidos ou eleitos” (Mateus 20: 16; 22: 14; 24: 22, 24, 31), "este é o "Israel de Deus" (Gálatas 6: 16), o grupo de crentes judeus, messiânicos, e com a esperança de Abraão, Isaque e Jacob, e ainda vivos depois de ter iniciado a "Dispensação da Graça" (I Coríntios 15: 6), porque, os outros (os incrédulos), estão irremediavelmente perdidos, como diz o Espírito Santo: “serão endurecidos” (Romanos 11: 7; II Coríntios 3: 14). E, mais: se hoje algum “filho de Israel” se salva, não é por mérito próprio, ou com algum privilégio sobre a misericórdia de Deus, mas beneficia da misericórdia demonstrada aos gentios, ou seja, Israel está a beneficiar da graça que pertence aos eleitos dentre os gentios, como está escrito: “Assim também estes, agora, foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada” (Romanos 11: 31).
Então, este novo plano e
programa de Deus não passa pela nação de Israel, mas foi estabelecido, do ponto
de vista histórico, na sequência da sua queda e incredulidade (Romanos 11),
preservando, mesmo assim, um grupo de eleitos que Deus tem designado salvar de
entre os judeus e de entre os gentios (Efésios 1: 4; Romanos 11: 1-7); “Os
outros serão endurecidos” (v. 7). Nós devemos amar aquele povo, orar por
ele, por sua salvação, mas não podemos ir contra os propósitos de Deus.
“Regozijo-me, agora, no
que padeço por vós e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja;
da qual eu estou feito
ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para
convosco, para cumprir a palavra de Deus: o mistério que esteve oculto desde
todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos seus santos; aos
quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios,
que é Cristo em vós, esperança
da glória” (Colossenses 1: 23 a 2: 3).
Mesmo Paulo, que era hebreu,
da tribo de Benjamim, Deus o chamou por ter duas nacionalidades: Judeu e
gentio; mas, a sua principal invocação era de ser gentio (Atos 16: 35-40; 22: 25-27),
porque desprezava tudo aquilo que tinha herdado do judaísmo (Filipenses 3; II
Coríntios 11). E, no seu caso, o Senhor até lhe mudou o nome de Saul (hebraico)
para Paulo (grego). E, ele, não só foi chamado para um Evangelho distinto e um
apostolado distinto, como a sua vida foi distinguida por Deus para ser distinta,
um exemplo vivo de como a graça opera nos pecadores crentes, transformando-os e
usando-os com excelência no Seu ministério. E, os apóstolos e profetas da
Igreja “Corpo de Cristo”, como os fundamentos sobre os quais foi edificada a
Igreja, eram compostos maioritariamente por gentios (I Coríntios 3, 12; Efésios
2: 18-22; 3: 5; 4: 11), colaboradores de Paulo entre os gentios, entre outros, Apolos,
Tito, Timóteo, Tiquico (ver: Atos 20: 4; Colossenses 4: 10-17; II Timóteo 4: 9-13).
E, alguns da circuncisão que, depois do acordo e reconhecimento publico do
apostolado distinto de Paulo pelas colunas da Igreja messiânica (Atos 15 e
Gálatas 2), passaram a colaborar com Paulo.
Outro sinal, talvez, até, o mais importante, é que as Escrituras, que até então tinham sido escritas na linguagem do povo de Israel, em Hebraico, estas escrituras, após a manifestação da apostasia de Israel, da morte do Senhor Jesus Cristo e do início do "Novo Homem", o "Corpo de Cristo", passaram a ser escritas na língua dos gentios: o grago; e, assim foi concluída a revelação de Deus (Gálatas 6: 11; II Coríntios 12: 4; Gálatas 1: 5-8; Colossenses 1: 23-2: 3 [1: 25]; II Timóteo 4: 17).
Mas, para aqueles que querem
desacreditar este servo de Deus e menosprezar o seu ministério e apostolado
(contra o mandamento de Deus e em clara e manifesta rebelião com Deus)
“recomendo” o “exercício” de retirem as suas epístolas das suas Bíblias e,
depois, digam-nos que mensagem têm para dar: de salvação e edificação para os
filhos de Deus: só fica o Evangelho para um Reino terreno, a Lei e as obras!
Porque não foi para Jerusalém?
Porque Jerusalém estava entregue à corrupção, aos demónios, á incredulidade-….
E, para não pensarmos que
foram tudo facilidades para o apóstolo, lembremo-nos das palavas dele:
“E, para que me não
exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne…”
(II Coríntios 12: 7).
Faz-me lembrar o encontro de
Jacó com Deus: entrou como Jacó, e saiu como Israel; neste caso, este entrou
como Saulo e saiu como Paulo; Jacó entrou fugitivo e saiu com a bênção; Paulo
entrou como fugitivo e perseguido e saiu com a “plenitude da bênção do Evangelho”; Jacó entrou saudável e saiu a
“mancar”, com uma marca física, para não se esquecer do propósito de Deus; Paulo
saiu de Horebe com “um espinho na carne”
para não se ensoberbecer e se lembrar do propósito de Deus… um começa um plano
para Israel, o outro suspende-o e começa um novo plano: o plano da graça de
Deus.
O que mais lá se passou e
durante quanto tempo não sabemos, mas sabemos da mensagem que nos foi
comunicada. Estejamos atentos a ela.