terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Igrejas Locais

IGREJA LOCAL, ONDE?
O local e a forma de reunião de igreja.
Onde e como a Igreja local deve reunir-se?



Preambulo
Procurei, com algum entusiasmo, alguns documentos e fraguentos datados do primeiro e segundo séculos, dos chamados pais da igreja, para ver até que ponto os crentes e os ensinadores eram fieis ao ensino confiado a Paulo par a Igreja que Senhor está hoje a formar, a Igreja Corpo de Cristo” que, diga-se, assenta no modelo constante nos escritos do Apóstolo Paulo[1].
Alguns destes documentos e fragmentos e datas previsíveis, são:
Passion Narrative (30-60), Lost Sayings Gospel Q (40-80), Signs Gospel (50-90), Didache (50-120), Evangelho de Tomé (50-140), Oxyrhynchus 1224 Gospel (50-140), Fayyum Fragment (70-200), Epístola de Brnabé (80-120), Escritos de Clemente (80-140), Escritos de Inácio de Antioquia (105-115), Oxyrhynchus 840 Gospel (110-160), entre outros.
Muitos dos seus autores, ou pseudónimos, eram conterrâneos dos apóstolos ou “discípulos” dos apóstolos, o que torna mais impressionantes as conclusões que esta análise concede.

O que verifiquei foi verdadeiramente decepcionante: muito poucas referências ao ensino do Mistério. Muito formalismo, muita religião, muito messianismo judaico, muito judaísmo farisaico, e muito pouco ensino constante das Epístolas de Paulo. De momento, poderão pensar que isso é de somenos importância. Mas, logo veremos como é imprescindível essa referência.
Nisto confere os alertas do próprio Apóstolo:
«Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho.» (Actos 20:29);
«Bem sabes isto: que os que estão na Ásia todos se apartaram de mim; entre os quais foram Fígelo e Hermógenes.» (II Timóteo 1:15);
«E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns. Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idóneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra[2] (Idem, 2:17-21);
«Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.» (Idem, 4:3-4);
«Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalónica; Crescente, para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério…»
«Ninguém me assistiu na minha primeira defesa; antes, todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão. E o Senhor me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém!» (Idem, 4:9-11, 16-18).

Dizia eu, a um irmão meu na carne, acerca da fé que cremos: partimos do princípio que todo o ensino humano, independentemente da sua fonte (católico romano, protestante, evangélico, ou outro qualquer), está errado. Nós, somos como os bereanos: vamos às Escrituras saber se é assim, na dependência do Espírito Santo que nos foi dado para entendermos os mistérios de Deus (I Coríntios 2). Quem não partir deste princípio corre o risco de estar errado e terá muitos motivos para ter dúvidas da fé que crê.

Assim, com o presente estudo, nos propomos questionar uma prática que herdamos dos nossos pais na fé e analisá-la à luz das Escrituras Sagradas, especialmente as reveladas através do Apóstolo Paulo, já que pertencemos à Igreja “corpo de Cristo”, ao pano do Mistério de Deus”, e fazemos parte das “igrejas dos gentios”.






Introdução
Uma das maiores ambições dos crentes, depois de constituírem um grupo considerável, é conseguirem um local próprio e independente onde se reunir. Ter um local próprio, uma capela ou um templo, faz parte de um dos seus ideais! Se poderem apetrechá-lo com as melhores condições de conforto, comodidade, com equipamento de som e imagens, equipamento de entretenimento, passatempo e diversão, são tudo coisas que fazem parte de uma igreja local de sucesso.
Esta é a configuração de uma igreja próspera na concepção moderna. A corroborar essa imagem está o índice de crescimento de membros, que é tendencialmente alto.
Com isto concorre uma das igrejas da grande tribulação: a Igreja de Laodiceia (Apocalipse 3:15-17):
«Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu) …»

Hoje, sabemos que o “mistério da injustiça já opera” (II Tessalonicenses 2:7), que atingirá o seu cumprimento com a revelação ou manifestação do injusto, o anticristo. Assim como o mistério de Cristo terá o seu cumprimento com a manifestação do “Cristo” (Colossenses 3:1-4; Filipenses 3:20-21; Romanos 8:18-21), o ministério da injustiça atingirá o seu cumprimento com a manifestação do anticristo (v. 8-9). A igreja da Laodiceia incorporará o exemplo das igrejas locais que criará as condições da aceitação do anticristo.

Alem destas considerações prévias, intriga-me bastante o carácter influenciador que a chamada Igreja Católica Romana ainda tem sobre o mundo religioso da cristandade, inclusivamente protestante.
É que, por muito que nos custe dizer e admitir, muita das doutrinas que são ensinadas nas igrejas evangélicas são de inspiração católica romana. Diga-se: de inspiração primeiramente da tradição farisaica que o catolicismo romano adoptou. O protestantismo, não obstante algumas reformas, nunca se libertou definitivamente desta influência e nunca voltou e abraçou definitivamente o ensino da graça, na sua pureza, conforme revelado nas epístolas de Paulo.
Por vezes, a discussão e a atitude se limitou a combater a forma, mas nunca questionou a sua legitimidade, ou seja, a legitimidade da sua existência ou prática. Assim, a generalidade das discussões se limitaram a alterar a forma, mas a continuam a sua prática como se fosse válida nos dias da dispensação da graça de Deus.
Neste contesto, a questão não será se um determinado ensino ou prática está ou não instituída nas Escrituras Sagradas. Mas, se faz parte da revelação do Senhor Jesus Cristo glorificado, como Cabeça da Igreja “Corpo de Cristo”, da mensagem conforme foi confiada ao Apóstolo Paulo, ou não. Por isso ele escreveu:
«Mas, a seu tempo, manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador.» (Tito 1:3); 
«Se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada; como me foi este mistério manifestado pela revelação como acima, em pouco, vos escrevi, pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo…» (Efésios 3:2-4);
«Igreja, da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus…» (Colossenses 1:25);

Neste sentido, e quanto ao ensino e prática, temos como referência de vida da graça: Paulo! Ele escreveu:
«O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco (Filipenses 4:9);
«Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores (I Coríntios 4:16);
«Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo.» (I Coríntios 11:1);
«Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam.» (Filipenses 3:17).

Claro que o Apóstolo não está a constituir-se modelo na essência espiritual do crente, pois nesse sentido o Senhor Jesus Cristo é o nosso modelo de ideal espiritual[3] (Efésios 5:1-2; 4:6; 3:16-21; 4:20; Colossenses 3:10), como Cabeça de Igreja que é (e não como Messias, pois esse carácter é modelo para os crentes da Profecia, e não do Mistério). Paulo é modelo para os crentes membros do “Corpo de Cristo” na experiência da graça de Deus. Deus constituiu Paulo como modelo de como se deve viver na e pela graça de Deus: seja na conversão (I Timóteo 1:15-16), na vida prática (Filipenses 3:17; 4:9), na forma de reunião (I Coríntios 11:1 e seguintes), entre outros aspectos (ver: I Coríntios 11:12; II Coríntios 5:10-6:5; 12:5-10).
Ora, no tema em consideração, é muito importante atentar para o que o Apóstolo Paulo escreveu e o exemplo que nos deixou.

Um dos ensinos e práticas que a cristandade e as igrejas evangélicas abandonaram do ensino Paulino é a forma de reunião. E, também este, como em muitos outros, as igrejas protestantes em geral e as igrejas evangélicas em especial mantêm a prática católica romana.

Vejamos, agora, alguns textos da Palavra de Deus, relativo às igrejas locais primitivas:
«Saudai Priscila e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios; saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles (Romanos 16:3-5);
«As igrejas da Ásia vos saúdam. No Senhor, muito vos saúdam Áquila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles (I Coríntios 16:19);
«Saudai os irmãos de Laodicéia, e Ninfa, e à igreja que ela hospeda em sua casa (Colossenses 4:15); 
«Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, ao amado Filemom, também nosso colaborador, e à irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que está em tua casa» (Filemon 1:1-2).

Priscila e Áquila foram encontrados em Roma, em Corinto e em Éfeso, e sempre com igrejas em sua casa. Em todos esses casos, as igrejas que se reuniam em sua casa funcionava paralelamente às igrejas locais da localidade a quem Paulo escrevia. Não há referência de que Paulo lhes escrevesse directamente; só lhes manda saudações. Não deixa de ser sintoma de que andavam bem e eram exemplares; não eram dignos de repreensão, mas de louvor e saudação. De acordo com os textos de II Timóteo 4:19 e 1:15-18, ele estaria na terra de Onesífero, que era Éfeso. Muito provavelmente, e pela linguagem do Apóstolo, em sua casa se reunia a igreja fiel, porque a inicialmente constituída já se tinha separado de Paulo e do seu ensino.
Com base nos textos supra citados, não há dúvidas que as igrejas locais se reuniam em casas particulares.  Essas casas não eram o que poderíamos chamar de um prédio característico e específico de uma igreja.  Eram casas em que as pessoas moravam, e eram abertas como um local de reunião para a igreja.
As igrejas locais não tinham prédios de igreja. Os edifícios religiosos não apareceram antes do ano de 232 d.C.. Não há referência à sua existência anterior dessa data.
  






AS IGREJAS LOCAIS NO NOVO TESTAMENTO
Em Casas Particulares
Menções e Modelos Bíblicos

Para entendermos este assunto, teremos de o enquadrar no seu espaço e tempo. E teremos de começar por citar Hebreus 13:
«E, por isso, também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério(12-13).

O propósito de Deus na Profecia é restaurar todas as coisas na terra à sua condição anterior à queda do homem. Na essência, o Senhor quer criar as condições necessárias para poder voltar visitar o homem e habitar com ele, na terra.
«E habitarei no meio dos filhos de Israel e lhes serei por Deus…» (Êxodo 29:45);
«E andarei no meio de vós e eu vos serei por Deus, e vós me sereis por povo.» (Levítico 26:12);
«E me disse: Filho do homem, este é o lugar do meu trono e o lugar das plantas dos meus pés, onde habitarei no meio dos filhos de Israel para sempre; e os da casa de Israel não contaminarão mais o meu nome santo, nem eles nem os seus reis, com as suas prostituições e com os cadáveres dos seus reis, nos seus altos…» (Ezequiel 43:7);
«Exulta e alegra-te, ó filha de Sião, porque eis que venho e habitarei no meio de ti, diz o SENHOR. E, naquele dia, muitas nações se ajuntarão ao SENHOR e serão o meu povo; e habitarei no meio de ti, e saberás que o SENHOR dos Exércitos me enviou a ti.» (Zacarias 2:10).

Mas esta situação nunca foi possível antes do Senhor Jesus Cristo realizar a Sua obra na cruz do Calvário, e o Seu povo ser remido. Por isso, foi dito:
«E, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isso disse ele do Espírito, que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado(João 7:37-39).

Por isso mesmo, o Senhor permitiu que fosse feito uma habitação precária e provisória para manifestar a Sua presença, enquanto a redenção não fosse feita. Foi o tabernáculo no deserto e, depois o Templo em Jerusalém. Nestes lugares, considerados sagrados cerimonialmente, eram os lugares da manifestação de Deus:
«E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o Testemunho, que eu te darei. E ali virei a ti e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do Testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel.» (Êxodo 25:21-22).

Não podemos afirmar que fosse uma habitação permanente, mas o lugar onde Deus manifestava a Sua presença. Porque, na realidade, não seria um templo de algumas dezenas de metros quadrados, ou centenas, que conteria a presença de Deus.
Diz o texto sagrado:
«O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas;  e de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação, para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.» (Actos 17:24-28).

Salomão também disse, inspirado pelo Espírito Santo:
«Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado.» (I Reis 8:27; II Crónicas 6:18).

Assim, tendo o Senhor concluído a obra da salvação do Seu povo e do Seu “Corpo”, deixou escrito:
«Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele (Romanos 8:9). 

Um dos resultados da salvação de Deus é a presença do Espírito Santo, no indivíduo, cuja presença constitui, ainda, uma garantia do gozo dessa salvação. Neste sentido o Senhor acrescenta:
«Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.» (I Coríntios 3:16-17);
«No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito.» (Efésios 2:21-22).

Mas, a questão não é somente essa. Vejamos, então:
Quando o Senhor se manifestou ao mundo o relógio da Profecia estava a tocar as badaladas dos últimos dias. Paulo escreveu às igrejas da Galácia e disse que a vinda do Senhor correspondia à “plenitude dos tempos” ou do “cumprimento”, ou do “fim dos tempos” (4:1-4). Disse ele aos coríntios que a nós “são chegados os fins dos tempos” (10:11).
Nesta metáfora o Senhor se referiu, muitas vezes, à “meia-noite”, ou seja, o fim dos dias do homem, os “tempos dos gentios” (Mateus 25:6; Marcos 13:35).
O momento era de trevas e de incredulidade: dos gentios, desde a Torre de Babel e, agora dos judeus, o próprio povo de Deus. Judeus e gentios se tinham aliado para se revoltarem contra Deus e contra o Seu Ungido (Salmo 2).
O mundo se tinha tornado mau, liderado pelo “príncipe deste mundo”! E, conseguiu o seu objectivo crucificando e matando o “Messias”. Segundo a Profecia de Daniel 9 a morte do Messias encerrava a penúltima semana do fim da profecia. Iria-se iniciar a última semana, caracterizada pela grande tribulação, e que corresponderia a sete anos, ou duas vezes 42 meses, ou duas vezes a 1260 dias. Também é definido por tempos, tempo e metade de um tempo, duas vezes.
O Senhor tinha dito:
«Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis.» (João 5:43).

O Senhor referia-se à manifestação do anticristo que, quando se manifestar, irá liderar a rebelião do mundo contra o Senhor, sendo depois objecto da sua adoração.
Nesta depravação geral e global do mundo, o Templo de Deus que deveria ser um lugar santo e sagrado, onde Deus manifestava a Sua presença, se tinha tornado numa casa de “ladrões e salteadores”, como o Senhor tinha dito:
«E os ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada por todas as nações casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões (Marcos 11:17);
«Dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores (Lucas 19:46).

Estes dias de incredulidade e de depravação culminarão com a “abominação que chegará ao lugar santo”, conforme predissera Daniel e foi confirmado pelo Senhor, quando disse:
«E sairão a ele uns braços, que profanarão o santuário e a fortaleza, e tirarão o contínuo sacrifício, estabelecendo a abominação desoladora.» (Daniel 11:31).
«E, na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador.» (Daniel 9:27) [4].
«Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (quem lê, que entenda), então, os que estiverem na Judéia, que fujam para os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; e quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado, porque haverá, então, grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco haverá jamais. E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos escolhidos, serão abreviados aqueles dias.» (Mateus 24:15-22).

Certamente que o Senhor se referia à presença do anticristo que a meio dos sete anos da grande tribulação matarás os guardiões do Templo (as duas testemunhas – Apocalipse 11), fará cessar o sacrifício contínuo, entrará no Templo de Deus e se assentará nele como um deus, para ser adorado como tal… bem como à sua imagem (Apocalipse 13).
O Apóstolo Paulo escreveu:
«E se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus (II Tessalonicenses 2:3-4).

Sendo este o cenário nos dias da vida e da morte do Senhor Jesus Cristo, o Senhor “morreu fora da porta”! Porque, dentro das portas do Templo e da cidade de Jerusalém só havia mal, abominações e imundície. À semelhança do que aconteceu com Moisés que, quando Israel construiu o bezerro de ouro e o adorava, foi montar a tenda da congregação fora do arraial e, ali, buscar ao Senhor (Êxodo 33:7).

Neste mesmo contexto o Senhor disse à samaritana:
«Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.» (João 4:21-24).
O Senhor não estava a negar a importância do templo de Jerusalém, pois isso estaria contra tudo o que os profetas haviam dito, quer quanto ao passado do templo como ao futuro dele. O Senhor não veio para anular a Lei e os Profetas mas para os cumprir (Mateus 5:7). O que o Senhor estava a afirmar – e devemos entendê-lo no seu contexto histórico e profético – era que, na eminência da manifestação do anticristo, no contexto das profecias para os últimos dias, o povo deveria estar preparado para fugir para os montes e, ali, buscar ao Senhor. O Senhor não pretendia fazer uma mudança na forma de culto, prevendo a alteração da dispensação de Israel para a Igreja, como alguns pretendem ensinar. O contexto é todo ele profético e messiânico. E, o que temos aqui é que ia haver uma mudança forçada e necessária na forma de culto por causa da corrupção que estava a dominar Israel os locais “sagrados” instituídos. E, com a manifestação do anticristo essa corrupção seria total. De forma que, os locais que ainda hoje se mantêm de caracter público e religioso, instituídos como sagrados, não são mais que estabelecimentos mundanos e terrenos.
Assim, nas palavras do Senhor Jesus Cristo, e no contexto do que falava, aproximava-se a hora de fugir para os montes e adorar lá, já que, o templo seria entregue ao anticristo e à sua abominável imagem! Talvez um reptil! Esta é a imagem da sua própria natureza, conforme Apocalipse 13, que é a semelhança de dragão (Apocalipse 12).

Este cenário é o que foi montado pelo homem, dominado pelo anticristo, de inimizade contra Deus, de rebelião, de incredulidade e de trevas.
Relativamente às trevas, disse o Senhor:
«Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.» (João 1:4-5);
«E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.» (João 3:19;
«Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.» (João 8:12);
«Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo (João 9:5);
«Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo; andai enquanto tendes luz, para que as trevas vos não apanhem, pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Essas coisas disse Jesus; e, retirando-se, escondeu-se deles.» (João 12:35-36);
«Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar (João 9:4).[5]

Vejam se entende a mensagem do Senhor: O mundo tinha entrado em trevas, pela incredulidade e rebeldia do homem. Mas, o Senhor era e é a luz do universo. Assim, estando o Senhor no mundo, e enquanto Ele estivesse no mundo, o mundo poderia ter a luz. Mas, morrendo o Senhor, e saindo do mundo, a luz seria apagada e o mundo voltaria a ficar em trevas.
Este cenário é o que se mantém nos dias de hoje, mesmo sendo os dias da dispensação da graça. É que, havendo a suspensão da Profecia e a introdução da Dispensação da Graça, os dias que caracterizam o mundo são os mesmos. Diz o Apóstolo Paulo:
«Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado; e, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;» (II Tessalonicenses 2:7-8).

Ou seja, embora o anticristo esteja preso (Apocalipse 17 – “foi, já não é, mas que virá”), a sua forma de actuar já opera: corrupção e oposição a Deus e à Sua Palavra.
Os dias são parecidos com os da grande tribulação, à excepção dos juízos. Por isso, alguns menos atentos confundem os dias que correm com os dias da grande tribulação. Mas, ao nível dos acontecimentos eles são incomparáveis. No entanto, ao nível espiritual e moral eles são muito semelhantes: dias de inimizade, de incredulidade e de trevas!

Assim, e na questão que abordamos, relativamente à habitação de Deus e à forma de manifestação de Deus, temos a convergir três factores:
1.     Nenhum templo físico e humano pode conter a presença de Deus, nem mesmo os céus e o céu dos céus!
2.     O templo de Deus em Jerusalém, inicialmente constituído como sagrado, tinha sido corrompido e, entretanto destruído… temporariamente até ao reatamento da Profecia;
3.     Deus não habita em templos feitos por mãos de homens; mas, os remidos de Deus é que são a morada de Deus em Espírito.

Esta é uma das razões porque o Senhor Jesus Cristo adoptou as casas particulares como os locais privilegiados para propagar a Sua mensagem, promover a devoção e a adoração a Deus, como teremos oportunidade de ver.
Esta é uma das razões porque, depois da morte do Senhor Jesus Cristo os crentes se reuniam habitualmente nas casas; Os discípulos deixaram de se reunirem nos supostos lugares sagrados para buscar a Deus e passaram a busca-lo em qualquer lugar. O princípio passou a ser este:
«Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam…» (Atos 17:30);
«Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda.» (I Timóteo 2:8);

Além disso, com a introdução da dispensação da graça – ou a Lei da Casa da Graça – o modelo de vida espiritual para o “Corpo de Cristo” não contempla qualquer tempo, lugar, práticas, símbolos, alimentos, vestes, posições ou pessoas sagradas, mas assenta, essencialmente, num modelo espiritual e intelectual de vida[6].
No ensino de Deus para o “Corpo de Cristo” não há qualquer referência a pessoas sagradas (tipo sacerdotes ou descendência de Levi’s), dias sagrados (tipo sábados, domingos ou dias festivos), vestuário sagrado (tipo mitras, casaco e gravata, etc.), práticas sagradas (tipo lavagem do corpo ou de mãos – com carácter cerimonial, imposição de mãos, estar de joelhos, ou de mãos levantadas), nem lugares sagrados (como templos, capelas, casas de oração).
Os lugares sagrados que, ainda hoje, se procura incutir nos crentes não passa de influências messiânicas e estão desprovidos de qualquer conteúdo espiritual, pois não é nesse sentido que o Espírito de Deus conduz o crente. Se assim fosse, estaria contra o próprio ensino da revelação do Mistério, contra a própria natureza de Deus e contra a prática naturalmente promovida pela Palavra de Deus para o Seu povo.

Vejamos os exemplos que temos na Palavra de Deus, designadamente e primeiramente, nos dias de ruptura espiritual na Profecia; depois, nos dias posteriores à morte do Senhor Jesus Cristo e, especialmente, após a introdução da Dispensação da Graça de Deus com a revelação do Mistério:[7]


A CASA ONDE O SENHOR FOI ADORADO PELA PRIMEIRA VEZ COMO HOMEM
«E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra.» (Mateus 2:11).
O Senhor foi encontrado “onde não havia lugar” (Lucas 2:8). E, esse lugar não foi o templo em Jerusalém, nem em qualquer outro templo sagrado, embora a cristandade o procure em templos; não foi encontrado nos palácios de reis e de príncipes, embora muitos tenham a pretensão de o promover aí. O Senhor foi visitado, pela primeira vez, numa casa particular, desprovida de qualquer conforto, qualquer beleza, de qualquer dignidade humana!

  
A CASA DE PEDRO FOI USADA PARA UMA REUNIÃO
«E Jesus, entrando na casa de Pedro, viu a sogra deste jazendo com febre. E tocou-lhe na mão, e a febre a deixou; e levantou-se e serviu-os. E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele, com a sua palavra, expulsou deles os espíritos e curou todos os que estavam enfermos…» (Mateus 8:14-16).
Nos primeiros dias do Seu ministério, o Senhor Jesus usou a casa de Pedro para fazer reuniões e apresentar a Sua mensagem, fazer milagres e promover e libertação ao remanescente.


A CEIA DA PÁSCOA DO N. T. FOI REALIZADO NUMA CASA PARTICULAR
Na última semana do ministério de Jesus, Ele disse aos Seus discípulos:
«E, no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, chegaram os discípulos junto de Jesus, dizendo: Onde queres que preparemos a comida da Páscoa? E ele disse: Ide à cidade a um certo homem e dizei-lhe: O Mestre diz: O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos. E os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. E, chegada a tarde, assentou-se à mesa com os doze.» (Mateus 26:17-20).
«E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça» (Lucas 22:15).

O nosso Senhor poderia ter escolhido celebrar a sua última ceia pascal com os Seus discípulos numa sinagoga, no Templo, ou em algum outro lugar de importância religiosa ou política. Contudo, Ele escolheu celebrá-la numa casa comum e simples.
Assim sendo, Ele deu a Sua aprovação à residência comum como sendo um lugar consagrado e santificado, digno dos mais solenes cultos de adoração.


JESUS ESCOLHEU AS CASAS PARTICULARES COMO LOCAIS PRIVILEGIADOS PARA ANUNCIAR O EVANGELHO DO REINO A ISRAEL
«E, alguns dias depois, entrou outra vez em Cafarnaum, e soube-se que estava em casa. E logo se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta eles cabiam; e anunciava-lhes a palavra.» (Marcos 2:1-2).
O Senhor Jesus Cristo fez nas casas onde ficava hospedado aquilo que, se ouve dizer, só ser possível e digno fazer nos edifícios religiosos, como templos, capelas ou “casas de oração”. O Senhor assumiu o que o Apóstolo Paulo veio a consagrar mais tarde, quando escreveu a Timóteo: «pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo…» (II Timóteo 4:2).


O PENTECOSTES CUMPRIU-SE NUMA CASA PARTICULAR
«Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.» (Actos 2:1-2).
Muitos cristãos nunca tomaram verdadeiramente consciência de que os principais momentos espirituais do propósito de Deus aconteceram em casas particulares.
Este momento profético – que foi dos mais importantes e imprescindíveis no cumprimento da Profecia – é muito significativo. Este momento referia-se ao cumprimento da Profecia, ao trâmite seguinte à morte e ascensão do Senhor Jesus Cristo (no quadro da Profecia, repita-se), que era o baptismo do Espírito Santo, e corresponderia à unção e selagem do remanescente de Israel. Este cumprimento terá a sua confirmação na selagem dos cento e quarenta e quatro mil assinalados, logo que seja reatada a Profecia (depois do arrebatamento da Igreja, que encerrará o Plano do Mistério).
De acordo com os relatos dos profetas estes dias serão caracterizados pelo domínio e influência do anticristo, inclusivamente no templo de Jerusalém. Os cento e quarenta e quatro mil não irão ao encontro do Senhor no templo, mas nalguma casa particular, nos montes, nos desertos, ou algum outro lugar semelhante!
Estranhamente, para muitos, este momento importante do propósito de Deus para o mundo não se cumpriu no templo sagrado, nem num palácio, mas numa casa particular!

  
NAS RUAS E NAS CASAS
«Eles adoravam juntos, regularmente, no Templo, todos os dias, reuniam-se em pequenos grupos nas casas para a comunhão, e compartilhavam as suas refeições com grande alegria e gratidão» (ACTOS 2:46 – A Bíblia Viva).
A Igreja do remanescente de Israel, no Pentecostes, não somente se reunia em pequenos grupos nas casas, mas também em reuniões maiores em lugares públicos.


ONDE REÚNIR?
«E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo.» (Actos 5:42).
Os crentes não se reuniam no Templo em si, mas nos pátios, ou perto do Templo. Eram reuniões ao ar livre.
Os escritos dos chamados “pais da igreja” não têm qualquer referência a algum prédio especial para as igrejas se reunirem, mas reuniam-se em casas particulares:
Num dos diálogos escritos de Justino, o mártir, está escrito:
«Rústico, o Perfeito, perguntou a Justino Mártir o seguinte: “Onde vocês se reúnem?
Justino disse: “Onde as pessoas escolhem e podem, ou você supõe que todos nós nos reunimos exactamente no mesmo lugar? Nada disto, porque o Deus dos cristãos não está confinado a um só lugar”.» (100-165 dC).


SAUL (OU SAULO) O PERSEGUIDOR DA IGREJA MESSIÂNICA, EM CASAS
Saulo, ainda no contexto profético, revestia o papel do anticristo, o líder da rebelião contra Deus e contra o Seu Cristo. Neste cenário ele perseguia a Igreja da Profecia, indo de casa em casa, e arrastava os crentes para fora e os colocava na prisão. Relata a Escritura:
«Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere» (Actos 8:3).
Onde Saulo de Tarso ia encontrar “o povo do caminho”, para os arrastar para a prisão e os levar à morte? Ele encontrava-os nas casas particulares. Ele próprio, mais tarde, iniciaria igrejas em casas, nas suas viagens missionárias.
E, porquê nas casas particulares? Porque era aí que eles se reuniam. Certamente que, o facto de Saulo buscar os crentes em casas particulares, era um sinal de que ele pretendia apanhá-los em flagrante, em pleno culto. Desta maneira, ele conseguia deter os verdadeiros e em maior número de crentes.


UMA IGREJA DE PROSÉLITOS
«E, no dia imediato, chegaram a Cesareia. E Cornélio os estava esperando, tendo já convidado os seus parentes e amigos mais íntimos. E aconteceu que, entrando Pedro, saiu Cornélio a recebê-lo e, prostrando-se a seus pés, o adorou. Mas Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que eu também sou homem. E, falando com ele, entrou e achou muitos que ali se haviam ajuntado(Actos 10:24-27).
Este poderá ser um bom exemplo de como iniciar uma verdadeira igreja local, de acordo com o Novo Testamento. Alguém que esteja faminto por Deus reúne os membros de sua família e amigos em sua casa. Depois, convida um ministro de Deus para na sua casa compartilhar, com a sua família, a Palavra de Deus. E, nesta simplicidade, pode nascer uma nova igreja local.



A PRIMEIRA IGREJA DO MISTÉRIO NA EUROPA
«E, saindo da prisão, entraram em casa de Lídia, e, vendo os irmãos, os confortaram, e depois partiram.» (Actos 16:40).
A Igreja de Filipos foi iniciada em casa de Lídia. O  livro de Actos não conta como a igreja cresceu. Muito provavelmente, quando o grupo não podia mais caber na casa de Lídia, os membros formaram uma outra igreja em casa em alguma outra parte da cidade. Desta maneira eles continuaram a crescer, a dividir-se e a multiplicar-se.
Por vezes, alguns ensinadores das Escrituras querem passar a ideia que as igrejas locais do primeiro século eram enormes, de centenas ou milhares de crentes. Essa ilusão vem da referência que é feita à conversão de três mil pessoas no Pentecostes. No entanto, ignoram que poucas dessas pessoas eram naturais ou residentes de Jerusalém ou da Judeia. Eram crentes dispersos pelas nações que tinham ido celebrar a festa das Semanas ou Pentecostes a Jerusalém. Os crentes verdadeiramente de Jerusalém seriam poucos, não mais de uma ou duas centenas.
As igrejas locais do Novo Testamento, na sua maior parte, não passavam de duas ou três famílias, que se reuniam numa casa particular[8]. E, quando elas cresciam não procuravam locais públicos, para formarem uma mega igreja, mas saia um grupo para formar outra igreja local na mesma localidade. Em Éfeso havia mais que uma igreja local. Para a cabeça de alguns crentes, isso pode parecer complicado ou carnal – desmembrar a igreja; mas não. Não é a localidade que determina a igreja, mas as pessoas que a compõem.
Já no programa do Reino era assim:
«Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.» (Mateus 18:20).
Assim acontecerá com os crentes no período da grande tribulação, como é o que acontece nos dias da Igreja “Corpo de Cristo”, onde o estado espiritual do mundo é o mesmo.

«Ao longo da história da cristandade, o maior crescimento da Igreja deu-se quando ela não usava locais formais de reunião. Na sua história, a Igreja cresceu mais rapidamente quando ela permaneceu flexível, móvel e militante», escrevia um historiador cristão.
E, ainda hoje, o movimento cristão que cresce mais rapidamente no mundo é o que começa em casas. Os cristãos tiveram o seu maior crescimento quanto os seus membros permaneceram flexíveis e móveis. Os cristãos multiplicaram-se mais quando o seu objectivo principal era os relacionamentos,  e não os rituais ou cerimónias e formalismos. E, segundo o testemunho daqueles que vivem com esse modelo, essa experiencia permanece.



A CASA DE PAULO EM ROMA
«E, logo que chegamos a Roma, o centurião entregou os presos ao general dos exércitos; mas a Paulo se lhe permitiu morar por sua conta, com o soldado que o guardava.»
«E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara e recebia todos quantos vinham vê-lo, pregando o Reino de Deus e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum.» (Actos 28:16, 30-31).

Estas palavras finais que encerram o livro dos Actos dos Apóstolos revelam que Paulo usou a sua própria habitação em Roma, que alugara, para anunciar a Palavra de Deus, como recebia a todos que o procuravam para ouvirem dele todo o conselho de Deus.
Que privilégio tinha aqueles crentes, de ouvirem em primeira mão aquele que recebera a revelação directamente do Senhor, como puderem visitá-lo para tirar quaisquer dúvidas que tivessem acerca da doutrina do Mistério.
Lamentavelmente, poucos usaram deste privilégio. Não sabemos se esta estadia de Paulo em Roma é coincidente com a descrição que faz na segunda epístola a Timóteo. Mas, se era, lemos que muitos o abandonaram em Roma, e outros nunca mais o visitaram. Esta foi a razão e o reflexo do seu desvio doutrinário e os que contribuíram para o estado corrupto em que a cristandade se encontra. Outros, porém, arriscaram as suas vidas em visitar Paulo, como foi Onesífero. Pelo que nos dá a entender, ele pagou com a sua própria vida, já que o Apóstolo termina não falando dele, mas de sua casa!
Além disso, pode parecer estranho o seguinte facto: se a epístola de Paulo aos romanos foi estrita no período descrito em Actos 20 (de acordo com a generalidade dos historiadores e teólogos cristãos), na qual refere e saúda vários crentes que estão em Roma, porque Paulo não se junta a eles, na igreja em Roma, mas aluga uma casa e se reúne à parte? Certamente que não é a localidade que define a igreja local, mas as pessoas que se juntam para louvar a Deus, de acordo com a “revelação do Mistério”. No “Corpo de Cristo” não há paróquias: a igreja da freguesia!
Podemos correr o mundo e nunca veremos qualquer local onde possamos dizer: “Aquele é o templo onde se reunia a Igreja de Corinto!” ou “Olhe para aquele lindo prédio! Era ali onde se reunia a Igreja dos Efésios!” ou “Eis aqui  a capela da Igreja dos Tessalonicenses!” Não há nenhum edifício assim. Pelo que saibamos, as igrejas que Paulo iniciou reuniam-se em casas.



DA SOMBRA À SUBSTÂNCIA
Todos os tipos e sombras do Antigo Testamento foram totalmente cumpridos em Cristo: na pessoa e no Seu “Corpo” místico. Não precisamos mais do Tabernáculo, das vestes  sacerdotais do Templo, da sua mobília, ou de nenhuma outra coisa semelhante. Cristo é tudo em todos e nós estamos completos n’Ele.
Não precisamos mais de um “Lugar Santo”,  como tinham os judeus . Não precisamos de um altar de incenso, da pia, dos pães da proposição, nem do Urim ou Tumim. Não precisamos das sombras, pois temos a substância – O CRISTO.

Diz o Apóstolo:
«Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão.» (Gálatas 5:1).

Os membros da Igreja “Corpo de Cristo” têm o privilégio de gozar da liberdade que temos em Cristo, liberdade do legalismo judaico, bem como de todo e qualquer legalismo e formalismo dominado pela “corrupção” religiosa em que a cristandade está entregue, muitas vezes influenciada por tradições pagãs e de homens.
Hoje, somos livres para adorar a Deus estando a sós ou acompanhados com outros santos, a qualquer hora do dia ou da noite, e em qualquer lugar, como escreveu Paulo a Timóteo:
«Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda.» (I Timóteo 2:8);
«Foge, também, dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor(II Timóteo 2:22).



DO FORMALISMO À LIBERDADE
«E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim. E vi aquele que me dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho acerca de mim(Actos 22:17-18).
É bem sugestivo o texto supracitado. Paulo está no Templo, em Jerusalém. E, o Senhor diz-lhe: sai do templo e de Jerusalém, porque não será aqui que ouvirão a minha palavra.
Mas, não é só sugestivo, mas também é representativo: representativo de todos os templos ou edifício instituídos como religiosos e sagrados: não está aí a voz de Deus! Essas não são as condições adequadas para a liberdade do Espírito de Deus. É o local indicado para a manifestação de outros “espíritos”, mesmo o espírito e orgulho humanos, mas não para Deus. À semelhança das palavras do Senhor acerca da mensagem de João, o Baptista:
«Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Sim, que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que vestem roupas finas assistem nos palácios reais. Mas para que saístes? Para ver um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta.» (Mateus 11:7-9).

E, porquê não insistir na mensagem anunciada nos templos, na tentativa de “converter”, “reformar”, levar ao arrependimento e ao retorno daqueles que se têm desviado e saído do rumo traçado por Deus?
A verdade é que o Senhor não abre a porta da possibilidade de reforma. O caminho é a ruptura. A história da igreja é exemplo disso. Mesmo a chamada “reforma protestante” nunca foi uma reforma, antes uma ruptura contra o sistema instituído.
Assim nasceram os mais importantes e significativos movimentos cristãos, designadamente os chamados “Irmão” que criaram uma ruptura com o sistema protestante instituído – a Igreja Anglicana – e começaram a reunir-se em casas a estudar a Palavra de Deus. Foi, verdadeiramente, um movimento espiritual e crescente! Lamentavelmente, os representantes actuais deste movimento já não respeitam os princípios que lhe deu origem. Precisamente, por isso mesmo, já foi objecto de ruptura por “Irmãos” que se mantêm a estudar a Palavra de Deus, em casas!
De maneira que, a volta aos templos religiosos, não é mais que um regresso ao curso da degeneração religiosa – mesmo que a sua mensagem seja em sentido contrário – e a confirmação dessa mesma degeneração.

Diz o Apóstolo:
«Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs subtilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo»;
«Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum, senão para a satisfação da carne(Colossenses 2:20-23).

Vejamos, também, o que o Senhor deixou escrito:
«E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus. Eu sei as tuas obras…»
«Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo. Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono.» (Apocalipse 3:14-15; 20-21).
É interessante atentar para o discurso do Senhor: primeiramente escreve ao anjo para toda a igreja. Mas, termina apelando: “quem ouvir…!” O que revela que o Senhor não vê qualquer esperança para a igreja… mas em alguém que, na igreja, e individualmente, ouve a voz do Senhor!
Ou seja: não reforma, mas ruptura! A igreja instituída segue o seu curso normal, que é de degeneração progressiva! No tempo certo, o Senhor levanta aquele ou aqueles por quem a Sua obra continua a ser feita!



INSTITUIÇÃO VERSUS ANONIMATO[9]
“Jesus Veio Para Acabar Com As Construções Humanas”[10]
Ralph Mahoney, um conhecido formador de líderes, escreveu no seu livro “O Cajado do Pastor”, páginas 445 e seguintes:
Jesus veio para quebrar o poder do sistema religioso de Ninrode, o qual se orgulhava muito das construções religiosas.
E enquanto alguns falavam sobre o Templo, de como era adornado com formosas pedras e dádivas, Ele disse:
«Quanto a estas coisas que contemplais, os dias virão em que não será deixada pedra sobre pedra que não seja derribada» (Lucas 21: 5,6).
«E respondendo Jesus, disse-lhes: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não  seja derribada»  (Marcos 13:2).
Havia uma boa razão pela qual Jesus acabaria com os templos. «Assim diz o SENHOR: O céu é o meu trono, e a terra é o escabelo dos Meus pés. Onde está a casa que Me edificariam?» (Isaías 66:1).
«…O Altíssimo não habita em templos feitos por mãos humanas...»  (Actos 7:48).
«O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templo feito por mãos humanas» (Actos 17:24).

Deus queria habitar nos corações do Seu povo. Este era o Seu plano.
«Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?» (I Coríntios 3:16).
«Deus habita em nós, e o Seu amor é aperfeiçoado em nós» (I Coríntios 4:12).
«… Pois sois o templo do Deus vivo, como Deus disse: neles habitarei, e entre eles andarei, e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo» (II Coríntios 6:16).

Pastor, você é como o rico insensato da parábola de Jesus?
«E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores...» (Lucas 12: 18).

Seja como o Senhor Jesus e os Seus apóstolos, os quais enfatizaram A MENSAGEM – E NÃO A ARGAMASSA (construções). A MENSAGEM produz corações prontos a fornecerem a Deus um lugar de habitação. A argamassa (Catedrais – Zigurates) acaricia os egos dos que constroem estas coisas.









IGREJAS LOCAIS EM CASAS PARTICULARES
- Realidade Versus Fantasia

Porquê o ajuntamento das igrejas em casas particulares? Há alguma vantagem prática nisso?
Já vimos que a razão principal era espiritual. E, essa razão seria mais que suficiente. O mundo religioso instituído, com tudo o que o identifica – inclusivamente os templos – pertencem ao mundo degenerado e corrompido. Deus conta-os como tal. Tudo isso faz parte do processo religioso iniciado por Eva, sob a inspiração da “velha serpente”, e culminará na “grande babilónia” (Génesis 3 e Apocalipse 18).
Por outro lado, com a mudança dispensacional, e não havendo agora nada sagrado, senão a vida dos membros do “Corpo de Cristo”, que “são o templo de Deus”, não há lugares privilegiados para buscar e adorar a Deus. Ou seja, o culto a Deus não passa por templos religiosos. Pelo contrário: deve ser evitada essa forma de culto. Na presente dispensação a forma privilegiada para buscar a Deus é nas casas particulares. Por isso, e sem qualquer instituição para isso (nem podia deixar de ser, já que é assim que a graça de Deus funciona: sem qualquer lei, senão a revelação da graça), Paulo deixa um exemplo: as igrejas reunidas em casas particulares!

No entanto, Deus tem sempre algo melhor para o Seu povo. Nada surpreende o nosso Senhor. Mas, Ele sempre nos surpreende, pela positiva. E, quando ocorre algum facto que pareça ser desfavorável, a sabedoria de Deus actua de forma a torna-lo factor favorável e multiplicador. A cruz do Calvário é o maior exemplo disso! Aquilo que parecia ser um gesto de fraqueza de Deus, foi a maior demonstração do poder de Deus e da sabedoria de Deus (I Coríntios 1).
Por isso, questionamo-nos: além dos factores espirituais, haverá alguma vantagem na reunião da igreja local em casas particulares?






AS IGREJAS EM CASAS PARTICULARES SÃO FÁCEIS DE INICIAR
Para se iniciar uma igreja numa casa os crentes não precisam de comprar propriedades,  nem construir um prédio; não  precisa de um púlpito, de bancos de igreja, de hinários, nem de um instrumento musical. Não precisa de um coro, de um plano bem montado e delineado, definido para médio ou longo prazo. Não precisa pertencer a uma denominação, nem de se torna seu membro. Não precisa ter uma reunião aos domingos, ter um boletim da igreja, nem ter uma reunião no mesmo lugar todas as semanas. Não precisa ter uma placa com o nome da sua igreja, e menos com uma descriminação dos seus propósitos ou objectivos. Ela não precisa nem deve ter nome, senão Aquele que invoca: O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Na verdade, os crentes nem precisam de chama-la “igreja”, contanto que os seus membros se identifiquem à Igreja “Corpo de Cristo” e que, quando estiverem reunidos como igreja saibam que são a verdadeira representação daquela. Não quero dizer que as situações acima descritas sejam más ou erradas, mas também não são necessárias. O Apóstolo Paulo não usava nenhuma das coisas acima descritas no seu ministério de evangelização, porque o seu ministério não assentava em pessoas, nem em programas, em métodos, ou em capacidades humanas, mas exclusivamente na Palavra de Deus e na acção do Seu Espírito.
Muitas das igrejas modernas deixaram a simplicidade do Novo Testamento e acrescentaram tantas coisas extras que, em muitos dos casos, elas estão completamente desfiguradas. Muitas das igrejas locais, pela forma como estão instituídas, perderam totalmente a sua identidade como tal – à luz da revelação do Mistério. Por isso mesmo, também tem sido mais difícil iniciar novas igrejas locais como envolver mais crentes sinceros na vida e ministério cristãos.
As igrejas locais passaram a ser locais de aparato e aparência, de formalismos, de exibição humana, onde são exibidos sermões e palestras, enão a Palavra de Deus; Onde se dá primado à retórica que ao conteúdo bíblico; Onde se valoriza a aparência e não o conteúdo; Onde se valoriza o humano em detrimento do Divino; Onde se exalta o social em detrimento do espiritual; As igrejas locais foram transformadas em centrais de caridade e sedes de instituições sociais; Passaram a ser compostas por profissionais da religião, cujos membros e ministros estão presos aos mais diversos formalismos, a horários, ao orgulho da sua organização, dos seus números e estatísticas, à sumptuosidade dos seus edifícios e património, à sua capacidade de organizar eventos, mobilizar pessoas, angariar fundos, etc., etc., etc..

As informações que têm chegado da China e do México – onde têm sido posta em prática esta experiência de igrejas em casas, em alguns sectores – é que o número de crentes e igrejas locais tem crescido imenso com este processo de evangelização e implantação de igrejas locais: o processo natural de Palavra de Deus. Isso está acontecendo sem o uso de edifícios públicos e instituídos de igrejas “formalmente” constituídas. Há quem lhes chame de “reavivamento” a este movimento de igrejas em casas.
De acordo com o “U.S. Center For World Mission”  (Centro Americano Para Missões Mundiais), mais de 22.000 chineses estão vindo a  Cristo a cada dia. É o equivalente a 7 dias de Pentecostes a cada 24 horas. Isso está acontecendo neste exacto momento. A maior parte dessa explosão de uma nova fé está vindo das comunidades rurais da China, onde vive 80% da população chinesa.[11]

Isto não é novo. Lembro-me de ler numa revista cristã, no tempo em que os países de leste vivam atrás da “cortina de ferro”, que os índices de crescimento da igreja eram superiores aos índices em qualquer país livre, ocidental. A razão era que, os crentes, se reuniam em casas particulares, nos montes e no isolamento.
Em contraste com isso encontravam-se as igrejas instituídas, que tinham alguma tolerância do governo, e os seus membros não passavam de pessoas algo envolvidas com o sistema politico!
Esta é a realidade inata no indivíduo: o ser humano tem a tendência de tornar as igrejas demasiado complexas. Mas Deus, pela Sua Palavra, chama-nos de volta à simplicidade e à naturalidade da multiplicação.
Recordamos o que já observamos: o período mais explosivo do crescimento da Igreja na história, até recentemente, aconteceu durante os primeiros anos, quando os crentes se reuniam em casas particulares e não tinham nenhum prédio “sagrado” de igreja.

Há um princípio simples que é expresso aqui: Quando mais obstáculos que atrapalham a implantação de novas igrejas forem removidos, tanto maior será o crescimento que veremos.





  
A IGREJAS EM CASAS SÃO FERRAMENTAS EVANGELÍSTICAS
Pelos exemplos que a Palavra de Deus nos dá e do próprio testemunho da história da Igreja, nos seus melhores momentos, e pelo testemunho de muitos evangelistas mais recentes, “o melhor método debaixo do céu para a evangelização é a implantação de igrejas em casas. Nunca houve método melhor e nunca haverá.[12]
Poderíamos citar aqui o exemplo do Senhor a evangelizar Zaqueu:
«E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque, hoje, me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu e recebeu-o com júbilo… E disse-lhe Jesus: Hoje, veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.» (Lucas 19:1-9).

Há uma concepção errada que a cristandade assumiu como seu principal objectivo: “ganhar o mundo!”
No entanto, se isso fosse verdade e possível iria contra tudo o que está revelado. A Escritura Sagrada previu que o próximo momento da Profecia – á ultima semana de Daniel – seriam sete anos, ou 84 meses, ou 2520 dias de domínio do anticristo e tribulação. Esta tribulação representará o clímax da rebelião humana contra Deus e o topo da corrupção humana. O mundo estará em trevas, adorará o anticristo e receberá o sinal da sua perdição (Apocalipse 13-14). E, contrariamente à “salvação do mundo”, Deus enviar-lhes-á a “operação do erro para que creiam a mentira” com o ministério do anticristo e do falso profeta (II Tessalonicenses 2). A “fé não é de todos” (II Tessalonicenses 3:1-3).
A Profecia foi suspensa, com a introdução da obra do Mistério, mas os dias são os mesmos: trevas, rebelião e incredulidade. Pode haver alguns despertamentos espirituais pontualmente e generalizados, mas nunca “ganhar o mundo para Deus”, porque Deus tornou isso impossível!
Além disso, tudo isso iria contra tudo o que Deus definiu na revelação do Mistério.

O problema da Cristandade é confundir a “Grande Comissão do Messias” no cumprimento da Profecia, com a “Comissão do Mistério”. Hoje a ordem não é “ide por todo o mundo” (Mateus 28:18-20; Marcos 15:15-16). A mensagem do Mistério já “chegou a todo o mundo” (Colossenses 1:6, 23). A responsabilidade da Igreja local, agora, é guardar e defender a verdade (I Timóteo 3:14-16).

E, tratamos este aspecto do nosso assunto, porquê? Para nos tentar elucidar de que a mensagem de Deus – a revelação do Mistério – não se destina ao mundo, mas aos crentes: os salvos e aqueles que o Senhor elegeu chamar! A comissão do Mistério está em Efésios 4:1-16 ou II Coríntios 2:14-7:10). A mensagem do Mistério é a mensagem do “Corpo de Cristo”. Para os perdidos é a lei (I Timóteo 1:8-11).
A ideia de ir atrás das “massas”, formar grandes igrejas, criar “mega igrejas”, não é mais que o que o anticristo fará! Como disse Nimrod: “façamos uma cidade, uma torre (sinal do céu) e um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face da terra” (Génesis 11:4).

Oramos a Deus para que use este esclarecimento, no sentido de nos desvincularmos do espirito da cristandade, para não irmos na enxurrada do mundo, mas nos identifiquemos com a verdade do “Corpo de Cristo” tal como está planeado por Deus e, potencialmente ocupa o Seu lugar: os lugares celestiais. Assim, nada de mundo, mas da vocação celestial (Efésios 4:1).







AS IGREJAS EM CASAS SÃO MAIS BÍBLICAS, GENUÍNAS E INFORMAIS
Li, algures, que determinada família tinha alguma dificuldade de visitar determinada igreja, porque os seus membros vestiam-se com roupas que eram muito caras para as condições financeiras da sua família. A sua família sentia-se incomodada naquele ambiente!
Há muitos crentes que gostam de ir à “igreja” para mostrar a sua roupa nova, mostrar o seu carro; prestam-se a criticar os outros pelo que usam, pelo corte de cabelo, por aquilo que vestem; criticam quem canta e como canta, criticam os ensinadores das Escrituras e pela forma ensinam e se apresentam; atentam mais para o tipo de retórica, que para o conteúdo da mensagem. Dão mais valor ao formal que à comunhão. E, o que é a “comunhão do Mistério”? (Efésios 3:9 – Assim no grego).
Tem-se escrito, por aqueles que tem adoptado esta forma de reunião, que muitos que não frequentam uma igreja do tipo formal,   frequentam uma igreja numa casa porque ela é mais descontraída e tem um ambiente mais espiritual, genuíno e fraternal ou familiar.

Frequentemente, o que ouvimos? Em primeiro lugar, ouvimos que, “quando a igreja começa a crescer, logo ficam preocupados em encontrar um lugar para se reunir”.
Porém, as “igrejas em casas” suprem todos os requisitos de forma ideal. Elas deveriam sempre ser consideradas, tanto para a implantação inicial como para  expansões posteriores.

Esta é outra tendência humana que tende a se sobrepor à tendência do Espírito de Deus que nos guia de acordo com a última revelação de Deus: a revelação do Mistério. E, essa tendência é a da carne, que inspira todos os actos religiosos. Estes, e a religião como um todo, reproduz-se em todo o tipo de actos formais.
Não estamos a falar de desordem! I Coríntios 14 diz que as reuniões de igreja devem ser feitas “para edificação” (para crescimento espiritual – v. 26), “em paz” (harmonia – v. 33), “decente” (elegantemente, honradamente) e em ordem” (ordenadamente, casa um no seu lugar – v. 40). Ou seja, não em confusão (desordem, caus, desorientação – v. 33).
A formalidade é atribuir aos gestos valor de culto[13]. É atribuir a um objecto, tipo mesa, cadeira, cálix, púlpito, valor de culto, ou seja, são sagrados! Tive conhecimento que numa igreja local foi criada uma contenda porque um jovem se encostou na mesa onde era celebrada a “ceia do Senhor”. Dizia aquele irmão: esta é a mesa do Senhor, não se pode contaminar! Ora, isto é formalismo e está contra tudo o que foi revelado no “Mistério”.
Há volta deste tema muito mais poderia ser dito. Muitos comportamentos, gestos, actos, práticas, símbolos, lugares, formas, dias, e muitas outras coisas têm tomado o lugar do “Espírito de Vida” e da “vida do Espírito”.

Mas, não somente a formalidade. As igrejas locais em casas particulares exigem mais envolvência dos próprios crentes, sabendo compartilhar as coisas que possui. “Obriga” o crente a valorizar mais “os domésticos da fé” (Gálatas 6:10). “Obriga-nos” a despir do espírito egoísta e individualista.
Por isso, também poderemos dizer que, esta forma de cultuar a Deus testa a nossa espiritualidade, naquilo que é essencial (e não as formalidades).

Além disso, esta forma de culto a Deus, exige e envolve mais os membros da igreja na vida espiritual, como, também mais facilmente, pode ser censurado e disciplinado o “crente carnal”. É neste sentido que o Apóstolo diz aos coríntios: “nem sequer comais!” (I Coríntios 5:11).
Assim, os membros do “Corpo de Cristo” estão mais identificados com o Senhor que com um local de reunião, com uma denominação ou com outro elemento identificador religioso!








AS IGREJAS EM CASAS FACILITAM O TREINAMENTO DOS SEUS MEMBROS
Os educadores têm entendido há muito tempo que o melhor método de treinamento ainda é o método de aprendizagem, isto é, o treinamento  de “um mestre a uma aprendiz na prática”. É o que um ferreiro, um picheleiro, ou advogado teria recebido há cem anos atrás. Eles aprendiam observando e praticando, e, ao mesmo tampo, sendo responsáveis diante de um mestre da profissão.
Esse foi o método do Senhor. Os Seus discípulos aprendiam observando, ouvindo e praticando, enquanto conviviam com o próprio Mestre dos mestres.
Este, também, foi o método de Paulo aos seus colaboradores, como Timóteo, Tito, Tiquico, Trófimo, entre outros. Em Actos dos Apóstolos, Paulo diz:
«Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós, servindo ao Senhor com toda a humildade e com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram; como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas(Actos 20:18-20).

Um exemplo paradigmático é a experiência de Apolos. Vejamos o que está escrito:
«E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, varão eloquente e poderoso nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor; e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o baptismo de João. Ele começou a falar ousadamente na sinagoga. Quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais pontualmente o caminho de Deus (Actos 18:24-26).
E assim terá acontecido: Áquila e Priscila deixando acabar o discurso de Apolos na Sinagoga, foram ter com ele e, em particular, procuraram orientá-lo no ensino da Igreja “Corpo de Cristo”, a verdade que já estava em vigor na presente dispensação da graça. Diz texto sagrado: “o levaram consigo”! Muito provavelmente o levaram para a sua casa, onde Áquila e Priscila reuniam uma igreja local (I Coríntios 16:19).
Nas igrejas em casas os “dons” podem ser treinados no sentido de fazerem de facto a obra de Deus, de acordo com a revelação do Mistério. Ao mesmo tempo, eles estarão sob a supervisão do “evangelista” (iniciador) ou de um “pastor ensinador” (já constituída – Efésios 4:11), criando as condições necessárias para o normal crescimento da igreja local nos parâmetros da revelação do Mistério.
Uma pequena igreja numa casa tem mais probabilidade de que as pessoas tímidas encontrem sua identidade no Corpo de Cristo e se envolvam mais incisivamente na obra de Deus.





AS IGREJAS EM CASAS FORMAM A VERDADEIRA COMUNHÃO
A comunhão do Mistério. O que é?
«E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou» (Efésios 3:9).
A palavra traduzida por “dispensação” no grego é “koinonia” (Strong: 2842 – koinwnia koinonia), que significa “fraternidade, associação, comunidade, comunhão, participação conjunta, relação”.

Para muitos crentes a comunhão se limita a frequentar a “igreja” ao domingo! Mas, o culto cristão não é uma missa! A comunhão do mistério não se limita a expor ou a ouvir um pregador ou pastor que, muitas vezes, do qual se diz: “ouvir a Palavra de Deus!” Na generalidade dos casos, isso até é um verdadeiro insulto a Deus e à Sua Palavra. Qualquer um pode pegar na Bíblia e falar dela. Mas, falar a Palavra de Deus, só os que forem instruídos e enviados por Deus (Romanos 11:15).
Comunhão cristã não se limita a frequentar uma igreja formalmente instituída, fazer parte das práticas religiosas, participar da chamada “ceia do Senhor”, fazer orações, pregar ou ouvir a, também chamada (a maior parte das vezes de forma abusiva e errada), Palavra de Deus.
Não há vida cristã sem uma verdadeira comunhão na igreja local; e, comunhão, é muito mais que o enunciado atrás. Comunhão é, como a própria palavra significa, “estar em união com…”!
Ora, a única forma que permite ou garanta resultados plenos desta união são as reuniões em casas, onde os seus membros poderão abrir os seus corações sem quaisquer restrições e dar e receber da abundância das bênçãos espirituais de Deus. E, esta comunhão espiritual, depois, reflecte-se nos diversos aspectos da nossa vida, mesmo materiais.
Os membros das igrejas instituídas, das grandes igrejas e das “mega igrejas” são abstractos e anónimos. São “mercadoria” no mercado religioso das igrejas. São pessoas informes! São adeptos! São associados! Mas, nas igrejas em casas, os seus membros não têm nada com que se identificar, senão com o Senhor e com o Seu “corpo” espiritual.

Vejamos o que significa esta comunhão na Epístola aos Filipenses:
«Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afectos e misericórdias, completai a minha alegria…» (2:1-2).
Como?
«Penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento…» (2:2).
E, como podemos revelar tal unidade?
«Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por (1) humildade, (2) considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não (3) tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.» (2:3-4).
E, isto tudo, se resume nas palavras:
«Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus…» (2:5).

Parafraseando o texto:
«Se há, pois, alguma exortação (solicitação – palavra de conforto, auxílio. gr. “parakaleo”) em Cristo, alguma consolação (convicção – discurso de persuasão – gr. “paramuthion”) de amor, alguma comunhão (gr. “koinonia”) do Espírito, se há entranhados afectos e misericórdias (antes: “entranhas de misericórdia), completai a minha alegria… em que,
Penseis (gr. “phroneo”, i.e. pensamento – o mesmo pensamento) a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma (gr. “sumpsuchos” – a mesma alma), tendo o mesmo sentimento (gr. “phroneo”, i.e. tenhais um pensamento)
«Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por (1) humildade, (2) considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não (3) tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.» (2:3-4).
Assim, para Paulo a comunhão dos filipenses passava por terem um ministério abundante da Palavra de Deus (conforme Colossenses 3:16), com palavra de solicitação ou exortação, com uma palavra de consolação de amor, numa acção unânime do Espírito de Deus, que estreita os laços dos crentes desde as entranhas.
Tal atitude espiritual leva os membros da igreja a um entendimento comum da Palavra de Deus – Deus só tem um pensamento na Sua revelação, a um amor comum – ou uniforme para com todos, a um sentimento comum nos propósitos e a uma acção uniforme, na realização desses propósitos.
Para que essa comunhão tenha um verdadeiro curso, será necessário retirar as questões pessoais da comunhão – partidarismos e glórias pessoais – e dar lugar à humildade, à valorização dos outros e, tudo o que fizer, faça-o para o crescimento dos outros membros.
Além do exemplo máximo do Senhor, o Apóstolo cita mais outros três exemplos:
(1)  De si próprio:
«E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós.» (V. 17);
(2)  De Timóteo:
«E espero, no Senhor Jesus, que em breve vos mandarei Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo dos vossos negócios. Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado; porque todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus.» (V. 19-21);
(3)  De Epafrodito:
«Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão, e cooperador, e companheiro nos combates, e vosso enviado para prover às minhas necessidades; porquanto tinha muitas saudades de vós todos e estava muito angustiado de que tivésseis ouvido que ele estivera doente… Recebei-o, pois, no Senhor, com todo o gozo, e tende-o em honra: porque, pela obra de Cristo, chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso da vida, para suprir para comigo a falta do vosso serviço.» (V. 25-30).

Chamo a atenção para a palavra sentimento que, na nossa versão é traduzida por “sentimento”, quando deveria ser transcrita como “pensamento”. Isto é importante porque a vida cristão não assenta em sentimentos e emoções, mas no pensamento correcto que resulta do verdadeiro entendimento da revelação do Mistério do “Corpo de Cristo”. Creio, convictamente que este “pensamento” é o conhecimento uniforme da doutrina. É a “unidade da fé” que todos devemos chegar pelo ministério dos dons (Efésios 4:1-16).
«Prossigo para o alvo, para o prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.» (Filipenses 3:14-15)[14];
«Pensai nas coisas que são de cima…» (Colossenses 3:2).
«Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica» (Filipenses 1:27).
Segundo este texto, comunhão é estar em sintonia no espírito, alma e corpo na realização conjunta da vontade de Deus, de acordo com a revelação do Mistério. Este texto deve ser entendido conjuntamente com Filipenses 3:20, onde ocorre as palavras da mesma família: Polites (Strong: 4177), ou seja, “cidadão”, diga-se: cidadão celestial.

Na epístola que o Apóstolo Paulo escreve a Filemon, dá-nos alguns exemplos de comunhão:
1.     O Sentido da Comunhão:
a.      Os relacionamentos espirituais estão acima dos relacionamentos humanos, sociais, profissionais, ou de qualquer outra ordem. Paulo diz a Filemon: mais que servos, ou membros, são irmãos:
«E tu torna a recebê-lo como ao meu coração… não já como servo; antes, mais do que servo, como irmão amado, particularmente de mim e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor. Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.» (1:12, 16-17).

2.     Comunhão na Obra do Ministério:
a.      «Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo, e o irmão Timóteo, ao amado Filemom, nosso cooperador (Strong: 4904 sunergov sunergos – companheiro de trabalho, co_laborador, conforme v. 24)» (v. 1);
b.     «Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores.» (v. 24)
                                                              i.      A comunhão na obra de Deus, tanto a pregar como a alojar e receber a igreja em sua casa era “cooperação na obra de Deus”.

3.     Comunhão no Ministério da Palavra:
a.      «E a Arquipo, nosso companheiro (Strong: 4961 sustratiwthv sustratiotes – companheiro de armas, companheiro de lutas, camarada), e à igreja que está em tua casa…» (v. 2).
                                                              i.      A comunhão também envolve o ensino e a defesa do ensino da Palavra de Deus. O combate, na linguagem do Apóstolo envolve sempre a “defesa do Evangelho que lhe foi confiado”.

4.     A Comunhão da Fé:
a.      «Para que a comunicação (Strong: 2842 koinwnia koinonia – fraternidade, comunhão) da tua fé seja eficaz, no conhecimento de todo o bem que em vós há, por Cristo Jesus. Tive grande gozo e consolação da tua caridade, porque por ti, ó irmão, o coração dos santos foi reanimado(v. -7).
                                                              i.      Esta comunhão envolvia a recreação dos membros da Igreja, por vezes envolvendo-se no suprimento das suas necessidades.
                                                           ii.      O Apóstolo chama a comunhão da fé. E esta comunhão deveria ser eficaz no conhecimento (grego: “epignosis”), ou perfeito conhecimento do Mistério pela forma prática como deveria agir para com todos os crentes. Mesmo para com aqueles que, uma vez, o lesaram, como foi o caso de Onésimo.
b.     «Assim, pois, se me tens por companheiro (2842 koinwnia koinonia), recebe-o como a mim mesmo.» (v. 17).
                                                              i.      Recebe-o, como? Mais que “servo”, que ainda era, à luz da lei civil romana, mas como membro da Igreja local, que se reunia em sua casa. O que temos aqui não é mais que receber à comunhão um convertido. É um caso semelhante ao “disciplinado” de Corinto: depois de arrependido, deve ser recebido à comunhão.

5.     Comunhão nos Sofrimentos
a.      «Saúdam-te Epafras, meu companheiro de prisão por Cristo Jesus» (v. 23). Strong: 4869 sunaicmalwtov sunaichmalotos, ou seja, co-prisioneiro, prisioneiro com…”
                                                              i.      Muitas vezes o apóstolo Paulo fala da forma como os crentes participavam com ele nas prisões, visitando-o, como Onesíforo (II Timóteo 1), enviando-lhe ofertas, como os Filipenses por Epafrodito (Filipenses 2), auxiliando-o nas suas doenças, como o médico Lucas (v. 24; Colossenses 4:14; II Timóteo 4:11), ou mesmo sendo enviados por ele com a mensagem que recebera do Senhor, ou seja, divulgando as suas cartas e o seu conteúdo, como Tiquico (Efésios 6:21-22), ou Timóteo (Filipenses 2:19) e o próprio Onésimo (Colossenses 4:7-9).
                                                           ii.      Epafras não precisava de estar preso. Ficou preso por ter ido visitar Paulo a Roma. Esta é a identificação cristã com os sofrimentos dos ministros do Evangelho.[15]

A comunhão cristã não se limita a um culto religioso. Todos os escritos de Paulo fazem referência a uma comunhão plena, que envolve a convivência, a ajuda material, alojamento, uma confraternização dominical com refeição, etc.[16]
Escreveu um irmão a este respeito: «Em nossas igrejas em casa geralmente almoçávamos juntos aos domingos. Todas as famílias participam, preparando e servindo as refeições. A formação de relacionamentos ocorre muito mais facilmente neste tipo de situações ‘familiares’».

Infelizmente, a realidade que assistimos nas igrejas locais que conheço é totalmente diferente! Em muitas situações, passado cinco minutos de ter terminado a pregação sinto-me expulso do “salão de reuniões” porque todos os “assistentes” já foram embora e querem fechar a porta!
Os membros das igrejas confundiram completamente o sentido das reuniões: não reunir para ouvir uma palestra religiosa, mas para a comunhão dos santos. E, comunhão é “estar em união”.
Aquele que a Escritura diz que, “tomou o bocado e saiu logo” foi Judas Iscariotes! (João 13:30). Por isso, não é de estranhar que muitos tenham dificuldades de reconhecer o “pão” da comunhão, ou seja “os membros do Corpo de Cristo” (I Coríntios 10:17; 12:12), e sejam objecto da disciplina do Senhor. E, sobre os quais, Paulo diz: “Na noite em que foi traído…” (I Coríntios 11:23), exemplificando como os coríntios podem fazer o mesmo no “Corpo de Cristo” místico – A Igreja”, ao desprezar os seus os membros. Fazendo isto aos membros, estavam a fazê-lo a Cristo:
«Ora, pecando assim contra os irmãos e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo.» (1 Coríntios 8:12), conforme Romanos 14:15, que diz:
«Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.»

Infelizmente, é isto que tenho assistido, mesmo de pregadores! Estão completamente desajustados do “espírito” e da letra da verdade!







AS IGREJAS EM CASAS RESOLVEM O PROBLEMA DO CRESCIMENTO SUSTENTADO
Algumas das congregações crescem tanto que precisam construir prédios maiores, alugar instalações maiores, ou fazer dois cultos. Isso é o que chamamos de um “problema agradável”.
A sua grande ambição é serem grandes: uma grande igreja: uma mega igreja!
Outros, vão mais longe e investem na criação da sua própria comunidade, centralizados numa norma de conduta de fé! Por vezes, inspirada nos textos bíblicos, ou baseada nas Escrituras Sagradas. E, a intenção pode ser boa, mas os exemplos conhecidos são de um acentuado desvio do modelo do “Corpo de Cristo”. Não passa de mais uma denominação ou religião.
Em resposta a este crescimento, por vezes agradável, há, também, uma solução agradável. Os anciãos e pastores devem começar a treinar pastores novos e diáconos, designando-lhes uma área da cidade. Em seguida, devem confiar-lhes algumas famílias para iniciarem uma igreja em casa nestas áreas da cidade, com o propósito alimentar e educar o seu “bebé”.

Muitas das vezes as igrejas locais não crescem ou não crescem de uma forma consistente e sustentada porque é centralizada numa pessoa ou numa família. Quando isso acontece, não é por uma resposta de Deus espiritual, mas pela acção carnal dos membros envolvidos. A escritura diz que o corpo cresce na “justa operação de cada membro”:
«Do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.» (Efésios 4:16).

O trabalho já caiu muito antes de dar os seus sinais, quando os líderes pensam que a obra de Deus depende exclusivamente de si ou da sua intervenção. Na verdade, os líderes passam e a obra de Deus permanece; as igrejas locais passam, mas a obra de Deus permanece; os movimentos passam, mas a obra de Deus permanece.

É da responsabilidade de quem lidera dar oportunidade e delegar funções naqueles que manifestam características de pastores e diáconos, e estão firmes no “corpo de doutrina” (I Timóteo 3). Mesmo que eles errem algumas vezes, ou não façam as coisas como nós gostaríamos que fossem feitas. Deus é que dá o crescimento, não nós.
Todo este trabalho de preparação deve ser feito com oração, estudo da Palavra de Deus e humildade, à semelhança do exemplo deixado pelo Apóstolo Paulo:
«E, havendo-lhes por comum consentimento eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.» (Actos 14:23).

De seguida, cabe analisar as pessoas que têm dom e possuem as características humanas e espirituais para esta tarefa:
«Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei: aquele que for…» (Tito 1:5-9);
«A ninguém imponhas precipitadamente as mãos…» (I Timóteo 5:22).

Após isso, devem ser identificadas as pessoas que se colocam disponíveis para esta obra:
«Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.» (II Timóteo 2:15).

Então, essas pessoas devem ser convidadas ao trabalho e empossadas nas suas responsabilidades:
«E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idóneos para também ensinarem os outros.» (II Timóteo 2:2);

Desta forma, Deus dá o Seu aval:
«Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.» (Actos 20:28).

Assim, os evangelistas são chamados a assumir as suas responsabilidades:
Paulo, como sábio arquitecto, colocou o fundamento, ou plantou. Apolo, como obreiro pastor e diácono e nós como pastores e diáconos, devemos regar e cuidar da plantação. Mas, só Deus é que dá o crescimento (I Coríntios 3).[17]

Escrevia um obreiro desta seara: «Tenho visto muitas e muitas igrejas morrendo por causa de um espírito possessivo na liderança. As igrejas que Deus está abençoando são as igrejas que continuamente dão tudo o que Deus lhes dá».

Michael Green[18] escreveu: «Para a igreja primitiva os prédios não eram importantes. Eles não tiveram nenhum prédio de igreja durante o período de seu maior crescimento».
E, escreveu, mais: «Hoje em dia, os prédios de igreja parecem importantíssimos para muitos cristãos. A sua manutenção consome o dinheiro e o interesse dos seus membros. Isso geralmente afunda-os em dívidas e isola-os dos que não frequentam a igreja.
«Em alguns casos, até mesmo a palavra “igreja” mudou o seu significado. Ela não significa mais um grupo de pessoas, como significava na época do Novo Testamento. Nos dias atuais, “igreja” muitas vezes significa, incorrectamente, um prédio.»
Há muitas vantagens nas igrejas em casas. A mais importante delas é a simplicidade e facilidade da sua multiplicação.
Os movimentos de igreja que cresceram mais rapidamente na história foram os que não tiveram enormes estruturas organizacionais. Os movimentos mais bem-sucedidos têm enfocado os aspectos essenciais sem hesitações.







A IGREJA EM CASAS
Conclusões

Não é nosso propósito acabar definitivamente com os locais de culto tradicionais, ou alterar a forma de culto que têm sido adoptadas pela generalidade dos cristãos, com um templo, uma capela, um púlpito, um coral, um pastor, ou um clero, etc., etc., etc.
Pretendemos, antes, fazer os crentes reflectir acerca do que é um culto a Deus, e o que implica estar em assembleia em culto a Deus. Essencialmente, elucidar-nos do verdadeiro significado espiritual de reunião do povo de Deus, assente no modelo deixado pelo Apóstolo Paulo, quer pela palavra quer pelo exemplo, o modelo da “dispensação do Mistério” despido de qualquer formalismo cerimonial, despido do tradicionalismo e profissionalismo, e voltar à simplicidade, à pessoalidade, à familiaridade, à espiritualidade genuína e à comunhão autêntica e sincera.
Além disso, não devemos fazer as coisas para competir com outras igrejas. Estamos simplesmente apresentando uma expressão válida de "igreja" que se baseia na Palavra de Deus e que tem provado ser eficiente, tanto na igreja primitiva como nas igrejas atuais em muitos pontos do mundo.
Paulo escreveu, neste sentido:
«Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa mente; uns por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; mas outros, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me regozijarei ainda.» (Filipenses 1:15-18).

Não estamos a afirmar, também, que Deus está chamando todo o Seu povo de todos os lugares a estar fazendo exactamente a mesma coisa. A Igreja de Jesus Cristo é impressionantemente flexível e versátil em suas muitas expressões, quando não é limitada por regras rígidas e inflexíveis.

È de toda a conveniência esclarecer que este tipo de assembleia nada tem a ver com “reunião de células”. O conceito de células é o estilo da roda e a igreja em casa é o estilo da videira. Uma célula é considerada como um braço de uma igreja local na sua vertente evangelistica, ao passo que uma igreja em casa é uma igreja em si mesma e funciona como uma igreja.

Alguns de nós temos idade suficiente para nos lembrarmos de quando era altamente questionável o início de um grupo em casa de qualquer tipo, ou de qualquer outra coisa fora dos próprios prédios de igreja. Havia um certo receio de que isso afastaria as pessoas da "igreja". Agora, esses grupos são muito desejáveis, e considerados como uma forma de crescimento da igreja.

Posso testemunhar, e muitos dos leitores, também, que os melhores momentos que vivemos como crentes, e de melhor crescimento e fortalecimento das igrejas locais, foi quando fazíamos reuniões em casas particulares.[19]

Deus está chama-nos para darmos mais um passo e reconhecermos que podemos, de facto, ter uma igreja, no sentido mais amplo da palavra, numa casa.
Algumas das maiores congregações do mundo hoje tiveram o seu início numa casa. Quando se tornaram uma igreja? Será que eram igrejas quando tinham dez membros e se reuniam numa casa? Ou será que eram igrejas somente quando tinham cem ou mil membros? Será que se tornaram igrejas quando se reuniam num prédio especialmente projectado para isso e chamado de "igreja"?
A resposta é óbvia. Eram igrejas quando começaram nas casas; e, se tivessem continuado a se reunir em casas, continuariam a ser igrejas.
Deus está sacudindo e mexendo em nossas atuais estruturas de igreja e levando-nos de volta ao básico. A maior parte do que chegamos a considerar agora como sendo essencial para as igrejas locais tradicionais na verdade não é absolutamente essencial.
Quando olhamos para a simplicidade das Igrejas no Novo Testamento e a comparamos com a Igreja institucionalizada dos nossos dias vemos pouca, ou nenhuma semelhança.
A Igreja em alguns países é mais semelhante a uma corporação. Algumas denominações são enormes redes, que, em muitos casos, são governadas politicamente, em vez de serem governadas por uma autoridade espiritual ordenada por Deus. Isso tem causado um incomensurável desastre e divisões durante centenas de anos.
Que Deus nos dê o entendimento, a humildade e a graça para admitirmos o quanto nos afastamos da simplicidade e da pureza da Igreja do Novo Testamento. Em seguida, nos dê a graça de voltar a essa simplicidade e pureza com quebrantamento e dedicação.






A IGREJA EM CASAS
Questões Práticas

P. Podemos Desenvolver Um Programa De Igreja Completo Numa Igreja Em Casa?
R. Cremos que sim. E mais, as “igrejas em casas” têm as melhores condições espirituais e humanas para implantar e desenvolver o programa de uma verdadeira igreja. E, iniciado o trabalho, o Senhor nos capacitará a suprir as necessidades de todos os indivíduos e famílias que frequentam as reuniões. O Espírito Santo é poderoso para nos tornar criativos em nossas abordagens com relação ao suprimento destas necessidades. As igrejas em casas não serão atraentes a todos. Alguns precisarão de frequentar igrejas com a capacidade de apresentar programas mais diversos e sofisticados, mas a sua motivação poderá não ser a melhor. Não estamos em competição com outras igrejas. Estamos trabalhando juntamente com elas no cumprimento da “Comissão da Graça de Deus”.

P. E As Crianças? Elas Terão Aulas Especiais? Há Lugar A “Escola Dominical”?
R. Algumas igrejas em casas tem reuniões para crianças separadas dos jovens e adultos. Outras têm uma só reunião conjunta. É surpreendente o quanto as criancinhas e os adolescentes aprendem pelo simples facto de estarem com os jovens e adultos no culto regular. As crianças, adolescentes e jovens têm é de ser envolvidos.

P. Quantas Vezes Por Semana Se Reúnem As Igrejas Em Casas?
R. Uma ou duas vezes por semana é comum. Os anciãos e os membros da igreja logo verão a frequência, de acordo com as suas necessidades. Não há nada na Bíblia que diga com que frequência devemo-nos reunir. 

P. Devemo-Nos Reunir Sempre Na Mesma Casa?
R. Nem sempre é sábio reunirmo-nos na mesma casa pela seguinte razão:
1. Precisamos compartilhar com os outros a bênção de sermos os anfitriões de uma igreja em casa.
2. Mudando-se o local de reuniões de vez em quando podemos alcançar e evangelizar diferentes vizinhanças.
3. Somos mantidos em união pelos vínculos dos relacionamentos, e não pelo local de reunião. Portanto, as mudanças são uma questão de segurança.
4. Evitamos o problema das reclamações dos vizinhos por fazermos cultos religiosos nas suas proximidades.

P. A Ideia Das Igrejas Em Casas Não Abre A Possibilidade De Qualquer Pessoa Iniciar A Própria Igreja?
R. O Apóstolo Paulo disse em Romanos 10:15 o seguinte: «Como pregarão se não forem enviados?» Somente os que forem enviados têm autoridade espiritual para implantarem igrejas. Até mesmo Paulo não se aventurou a sair e implantar igrejas até que tivesse sido enviado pelo Espírito Santo e pela liderança de igreja local (Actos 13:1-4). A estes, Paulo chama de “Evangelistas”[20] (Efésios 4:11-16; II Timóteo 4:5).
Infelizmente, essa leviandade tem dominado também as igrejas tradicionais: qualquer religioso hábil poderá iniciar uma igreja local, e o têm feito com frequência. Por isso, não poderá ser evitado que os mesmos iniciem também igrejas em casas.


Vítor Paço
Espinho
2012-01-10




[1] São frequentes na net muitos destes documentos, alguns abundantemente discutidos e comentados.
[2] “Se purificar” e “aparte-se da iniquidade” é uma referência à doutrina: o ensino de Paulo, de acordo com o contexto. Paulo está a comentar os falsos ensinos dos apóstatas Himineu e Filetos. Estes são vasos de desonra. Os que são fiéis aos ensinos dados a conhecer por Paulo são vasos de hora e aptos para o serviço do Senhor. Depois de saber disto o leitor ficará sem desculpa.
[3] Neste sentido o Senhor não poderia ser modelo para nós, porque o Senhor nunca precisou da graça de Deus ou do favor de Deus para realizar a obra que fez. Tudo o que o Senhor fez, fê-lo por mérito próprio e pelo Seu próprio poder: “Eu tenho poder…”, disse Ele. O Senhor ocupa o lugar mais elevado na glória, e como cabeça da Igreja “Corpo de Cristo” (Efésios 1:19.23) por mérito próprio. O Senhor não tinha pecado ou qualquer fraqueza para apelar à graça de Deus, ou depender dela. Nós, e Paulo, sim. Precisamos da graça de Deus para fazer a vontade de Deus. Ou, melhor: não podemos fazer nada que agrade a Deus se não for pela Sua graça – este é o modelo de vida constante da revelação do Mistério para a Igreja “corpo de Cristo” confiada a Paulo. Em contraste com o Senhor, Paulo disse: “Não posso…” (Romanos 7), ou “posso todas as coisas n’Aquele…” (II Coríntios 12:1-10). E, tudo o que não encaixa neste ensino é anátema, carnalidade e mundanismo (Gálatas 1-2).
[4] Note o leitor que, de acordo com a profecia de Daniel 9, o Senhor estava a cerca de três anos da Sua morte, ou seja, a três anos do fim da 69ª semana, ficando sete anos – os sete anos da grande tribulação – para se cumprir. Se atentarmos bem para o ensino do Senhor nos Evangelhos não é mais que preparar os discípulos para a dificuldade daqueles tempos da GT. Tudo isso é Profecia. Não confundir com os tempos do Mistério: são parecidos – na sua natureza de trevas, de incredulidade e de erro – mas diferentes no carácter e nos eventos!
[5] O Senhor referia-se ao período que será dominado pelo anticristo… conforme Mateus 24:14 e seguintes, será o tempo do fim, quando a desolação chegar ao lugar santo! Quando se dará a última grande perseguição ao povo de Deus e os “santos morrerem no Senhor”. O mundo estará entregue ao anticristo e aos seus adoradores. Nenhum crente estará no mundo (Apocalipse 7-B), à excepção dos 144 mil, que terão uma protecção especial do Senhor (Apocalipse 12 – A semente da mulher, Israel).
[6] Recomendamos a leitura de Romanos 7:23, 7:25, 10:2, 12:2; I Coríntios 14:14, 15, 20; II Coríntios 10:5, 12; Efésios 1:18; 3:19; 4:18; Filipenses 4:7; Colossenses 1:21; II Tessalonicenses 2:2; I Timóteo 6:5; II Timóteo 2:7; II Timóteo 3:8; Tito 1:15 (para “entendimento”) e de Romanos 1:9; 7:6; 8:10, 16; 12:1-2, 11; I Coríntios 2; 5:4-5; 6:20; 14:15-16; II Coríntios 3:8; 7:1; Gálatas 5:5; 6:1, 8, 18; Efésios 1:17; 3:16-21; 4:23; 6:17-18; Filipenses 1:19, 27; 2:1; 3:3; Colossenses 1:8; 2:5; I Tessalonicenses 1:5-6; 4:8; 5:19, 23; I Timóteo 4:12; II Timóteo 1:7; 4:22; Filemon 1:25 (para “espirito”, como sinónimo de “mente” – I Coríntios 2:16).
[7] Esta transição prática foi gradual… até que, na dispensação do Mistério, se tornou definitiva.
[8] À excepção das igrejas que se reuniam em Coríntio e em Roma, que parece indicar que seriam mais numerosas, a generalidade das igrejas locais não seriam mais de uma dezena. Em algumas localidades, parece indicar que tenham mais de uma igreja local, como no caso de Corinto: «Saúdam-vos afectuosamente no Senhor Aquila e Prisca, com a igreja que está em sua casa» (I Coríntios 16:19). Ou seja: havia a igreja local em corinto a quem Paulo escreveu e, pelo menos, mais uma igreja que se reunia em casa de Priscila e Áquila.

[9] Instituição, no sentido de algo publico, organizado, organização ou instituto; Anonimato, no sentido oposto àquele!
[10] Este autor está descontextualizado dispensacionalmente, mas os apontamentos são sugestivos e interessantes!
[11] Fonte: “Relatório Calebe”, REVISTA MINISTÉRIOS, edição de Jan/Fev, 1990, por Loren Cunninghan, fundador e presidente da JOCUM (Jovens com uma missão).
[12] Assim começou, também o movimento dos chamados “Irmãos”, quando alguns crentes começaram-se a reunir em casas particulares para estudar a Bíblia. Um verdadeiro reavivamento se deu! Agora, este “movimento” tomou a forma denominacional e, em muitos casos, ficou piores que as denominações! Assim tem acontecido com quase todos os movimentos e despertamentos espirituais.
[13] É ao legalismo e ao formalismo que o Apóstolo diz: “Estou crucificado com Cristo, e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” (i.e., o legalismo que ele combatia – Gálatas 2:20-21), e “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam…” (i.e., o que ele se orgulhava – Filipenses 3:13) ou “pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra” (rudimentos do mundo do capitulo 2 – Colossenses 3:1-4). Basta ler o contexto para perceber que se trata do sistema mosaico que colide com o modelo de vida do “Corpo de Cristo”.
[14] Remover o judaísmo e o legalismo em que a fé de Saulo de Tarso assentava e orgulhava (v. 4-7) e esquecer essas coisas, prosseguindo para a compreensão e vivência do Mistério de Cristo, era o desejo do Apóstolo, conforme o mesmo sentido de Colossenses 3:1-4 – retirar o legalismo e viver o Cristo.
[15] Não se trata de visitar presos por serem presos. “Lembrai-vos dos presos” (Hebreus 13:3) que estão presos por amor do Evangelho.
[16] É a esta matéria que o Apóstolo se refere quando diz aos crentes para “receberem-se uns aos outros sem questionar”, conforme diz em Romanos 14-15, e em I aos Coríntios 8 a 11, ou em Gálatas 2 – Pedro comia…; como é a isto que se refere o Apóstolo quando faz referência a “ceia pascal” em I Coríntios 11; como, também, é a isto que o Apóstolo se refere quando diz que “aquele que se diz irmão” e vive iniquamente, o qual deve ser cortado da comunhão e, sentencia: “com o tal, nem ainda comais” (I Coríntios 5:11-13).
[17] Esta passagem do texto sagrado é muitas vezes referida como se tratando de ensinar e orar – plantar e regar. Mas, de acordo com o contexto, trata-se de “colocar o fundamento” e de “edificar sobre ele”. Ou seja, Paulo, como arquitecto escolhido e designado por Deus, foi-lhe confiada a dispensação do “Corpo de Cristo”. Ele colocou o fundamento: cristo, de acordo com a revelação do Mistério (Romanos 16:25-26). Agora, todos os obreiros desta obra devem ver como edificam sobre ele, i.e., se respeita o fundamento e se está de acordo com os projectos da casa (lit. “dispensação” – ordenamento da casa”). E, quem destruir a casa de Deus que está a ser edificada, ou se a edificar mal, sofrerá detrimento e castigo de Deus: “Deus o destruirá” (v. 16-17).
[18] Director da Faculdade de Saint John de Nottingham, Inglaterra.
[19] Nesta área de Espinho, Portugal, nascemos e crescemos a fazer reuniões na casa do irmão Viriato Sobral, e também na casa de outras famílias de crentes que nos abriam as portas. Por outro lado, também podemos testemunhar do prejuízo que foi ter verificado como alguns trabalhos em casas foram terminados para dar lugar a “igrejas” tradicionais, com todos os vícios e males que as caracterizam. Um verdadeiro retrocesso no caminho da verdade!
[20] Evangelista: Este dom espiritual é, erradamente, atribuído aos pregadores do Evangelho! Se entenderem “Evangelho” como o Apóstolo Paulo o entendia, está correcto. Se se trata de um pregador que se limita a apresentar o plano da salvação de Deus, está incorrecto. O “plano de salvação” é uma pequena parte do “Evangelho” de Paulo.

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