O Amor de Cristo e o Amor de
Deus
A generalidade dos cristãos e mesmo os estudantes da Bíblia nunca se aperceberam da diferença que as
Escrituras Sagradas fazem do amor de Deus e do amor de Cristo. Pior que isso,
confundem estes dois tipos de amor. Há, certamente, uma relação estreita
entre os dois: não poderá haver um amor sem o outro, mas são diferentes, na sua característica, nos motivos, nas causas e nos propósitos, porque,
especialmente, são de pessoas diferentes.
Quando se fala do amor de
Cristo as pessoas pensam logo na sua vinda ao mundo, fazer-se homem, morrer na
cruz do calvário e salvar o mundo! Mas, depois de analisadas as Escrituras verificamos que não é bem a isso que se refere.
Então, para percebermos
esta diferença teremos de socorrer-nos dos escritos do Apóstolo Paulo, pois
somente ele fala deste aspeto do amor de Cristo para com a Sua Igreja, a “Igreja
Corpo de Cristo”.
Assim, quando vemos as
referências que o Apóstolo Paulo faz ao amor de Cristo verificamos que ele não
tem o sentido genérico, como o “amor de Deus” por todo o mundo, mas restringe o
objeto do Seu amor à Sua Igreja “Corpo de Cristo”, como o seu povo exclusivo
(Tito 2:4).
Vejamos:
«25 Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26 para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível» (Efésios 5).
Analisemos, agora, o texto de Efésios 3:
«25 Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26 para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível» (Efésios 5).
Analisemos, agora, o texto de Efésios 3:
«Pai... 15 do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, 16 para
que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com
poder pelo seu Espírito no homem interior; 17 para que Cristo habite, pela fé, no vosso
coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, 18 poderdes
perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o
comprimento, e a altura, e a profundidade 19 e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que
sejais cheios de toda a plenitude de Deus».
Reflitam bem nestas
palavras: « (1) conhecer o amor de Cristo > (2) que excede todo o
entendimento > (3)para que sejamos cheios da plenitude de Deus».
Ou seja: conhecimento do conteúdo: o amor de Cristo >> natureza: excede todo o entendimento
>> resultados: «cheios da
Plenitude de Deus».
A explicação destas
palavras estão na própria epístola aos efésios:
- A Plenitude de Deus é a
Igreja “Corpo de Cristo” (1:22-23);
- Excede todo o
entendimento porque, neste propósito da Igreja “Corpo de Cristo” ou,
simplesmente “o Cristo” (I aos Coríntios 12:12-13; Romanos 12:4-5; Efésios 4:13-16;
5:30-31; Colossenses 2:17-19; 3:10-11), estão escondidos todos os tesouros da ciência
e da sabedoria de Deus (Colossenses 2:2-3), as “riquezas incompreensíveis de
Cristo” (Efésios 3:8), as coisas que «nenhum olho viu, nem ouvido ouviu, nem
subiu ao coração do homem, é o que Deus preparou para os que o amam» (I aos
Coríntios 2:9-10), as coisas profundas e ocultas de Deus!
- Conhecer o amor de
Cristo, ou ter a mesma mente de Paulo acerca do mistério de Cristo, o Segredo
de Cristo, que tem a ver com a Sua Igreja “Corpo de Cristo” e com o propósito
que Deus tem para e através dela, em Cristo (Efésios 3:2-8).
Este versículo dezanove parece
ser a explicação ou o resumo do que disse nos versículos anteriores (14-18): corroborados no homem interior, no coração,
com o poder de Deus (a obra de Deus que se manifestará na Igreja com a
ressurreição do arrebatamento, segundo 1:17-22; não o poder que se manifesta
agora – agora, neste mundo, manifesta-se a fraqueza de Deus como em Cristo – e na
ressurreição se manifestará o poder de Deus como se manifestou em Cristo:
Filipenses 3:20-21, que são as riquezas da Sua glória), que é feito pelo Seu Espírito através da Sua Palavra (Romanos 8:16,
26-27; Efésios 5:18), e nos dá a capacidade
de perfeitamente compreender a largura, o cumprimento, a altura e a
profundidade do amor de Cristo. O poder de Deus, segundo 6:10 refere-se aos nossos direitos em Cristo na glória (Efésios 1:3-6), nos quais nos devemos agarrar para nos mantermos firmes contra os ataques do diabo e das suas hostes.
Ou seja, poderia dizer ele:
«Conhecer o amor de Cristo que excede todo o entendimento para que
sejamos cheios de toda a plenitude de Deus», que é a largura e
o cumprimento, e a altura e a profundidade daquilo que devemos conhecer de
Deus.
Assim, o amor de Cristo não
é universal nem deve ser compreendido em algum sentido genérico, mas algo
restrito à Sua Igreja, chamada de “Corpo de Cristo”, que é todo o conteúdo da
revelação do Mistério de Cristo, a pregação de Jesus Cristo segundo a revelação
do Mistério (Romanos 16:25-26) que estava oculta na Profecia até à chamada de
Paulo pelo Senhor glorificado (I a Timóteo 1:15-16), designadamente: a forma
como ele nos amou (Efésios 1:4-5) e nos elegeu e predestinou para fazermos
parte de um propósito eterno onde Ele partilharia com os membros do Seu corpo
os privilégios da Sua divindade, no governo da criação, segundo as riquezas da
Sua graça (Idem, vv. 3-14).
A generalidade dos crentes
pensa que o amor de Deus e ou o amor de Cristo é um sentimento: como sentir
muita emoção, sentir muito afeto, ter muitas emoções sentimentais; mas isso não
é o amor de Deus. O amor de Deus é uma atitude: é aquilo que vemos na revelação
da Sua palavra. O amor de Deus não é nenhum sentimento que possa partir de um
coração humano afetado pelo pecado, imundo, um corpo de pecado onde não habita
bem algum. O amor de Deus é derramado nos nossos corações pelo Seu Espírito através
da Sua Palavra, que é o único meio de Deus comunicar com o homem,
presentemente. Por isso é que o verdadeiro crente não fica em confusão com as
tribulações, pois tem conhecimento da Palavra do Espírito (Romanos 5:1-6). E,
quando somos chamados a amar como Cristo não é a ter um sentimento igual ou
como o de Cristo, pois isso, nestes corpos, seria impossível, e quem disser o
contrário é mentiroso: basta olhar para os seus exemplos (maus) que o negam. A
Escritura diz para andarmos em amor como Cristo nos amou e se entregou a si
mesmo por nós (Efésios 5:2), é para nós olharmos para a Sua Palavra pois é
nela, unicamente, que vemos como Cristo nos amou… e ter a mesma atitude.
Não se deixem enganar por
discursos vão e impossíveis de se realizar; nem se enganem a vós próprios
desejando uma coisa impossível de experimentar enquanto estivermos nestes
corpos mortais! A generalidade dos discursos religiosos nada tem a ver com a
sua experiência, pela sua impossibilidade de se concretizar. Mas, quando
entendemos a revelação e a experiência do Apóstolo Paulo, depois de Atos 28,
verificamos que tudo é coerente com o discurso e a vida prática no “corpo da
carne”! Mas, nada é coerente nos discursos religiosos, mesmo protestantes e
evangélicos. Os cristãos poderão falar de amor e dizer que amam, mas se não
conhecerem a revelação do Mistério de Cristo e não tiverem a mesma atitude de
Cristo segundo esta revelação estão desfasados do amor de Cristo e alheios do
amor de Deus.
Analisemos, então, a
experiência que o Apóstolo Paulo tinha com este amor de Cristo e os seus
efeitos sobre a sua vida, para vermos a importância de conhecermos melhor este
amor e nos inteirarmos profundamente no conhecimento desta revelação do Segredo
de Cristo:
«Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos,
logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam
mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou»
(II Coríntios 5:14-15).
O termo «constrange»
significa estar cercado por todos os lados e só ver uma saída, e essa, aqui, é
o amor de Cristo. Poderia ele dizer: posso olhar para todos os lados, mas só um
me atrai: o amor de Cristo, para onde sou impelido a olhar, por uma razão: ele
morreu por nós para, agora, podermos viver para Ele.
Este viver, no contexto,
tem a ver com o propósito de Deus na Igreja “Corpo de Cristo”, pois passamos a
ser uma nova criação e a pertencer a uma nova criação, não carnal, mas
espiritual (vv. 16-17), e ao respetivo ministério: «o ministério da
reconciliação» (v. 18, 20-21), e à «palavra de reconciliação que nos foi
confiada» (v. 19). Pelo que, por essa razão, «todos – do corpo – serão apresentados
diante do tribunal de Cristo» (v. 10). De forma que, por causa do «temor que se
deve ao Senhor» a respeito do Tribunal de Cristo», devemos ter cuidado como
estamos no ministério!
Por isso, neste temor da
espectativa do Tribunal de Cristo, somos impelidos pelo amor de Cristo, ou
seja, somos impelidos por este mistério e para este ministério, no
aprofundamento do seu conhecimento e sermos dominados por ele.
Neste sentido ele diz:
«Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e
despenseiros dos mistérios de Deus…
«Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha,
o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os
desígnios dos corações; e, então, cada um receberá de Deus o louvor.
«Nós somos loucos
por amor de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós,
ilustres, e nós, vis...» (I aos Coríntios 4:1-10).
Novamente a referência ao
ministério: a respeito do amor de Cristo e a motivação: o Tribunal de Cristo»
E, isso, faz-nos superar as
fraquezas:
«Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte» (II aos
Coríntios 12:10).
O amor de Cristo, ou a
revelação que desvenda o amor de Cristo em tudo aquilo que faz parte do Plano
de Cristo para a Sua Igreja, também se torna como o modelo de vida do Crente,
como Paulo escreve aos Gálatas:
«Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo
vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim» (Gálatas
2: 20).
A vida que vivo na carne
vivo-a na fé e não segundo a carne. A ninguém conhecemos segundo a carne, diz o
Apóstolo (II aos Coríntios 5:16-17), nem vivemos segundo a carne (II Coríntios
13:10). Os que querem viver na carne, valorizando as coisas deste mundo,
humanas e carnais, estão desfasados de Cristo, não tendo qualquer noção do que
é a vida cristã (Colossenses 2:18-19, 23), e vão ceifar a destruição das suas
obras (Gálatas 6:8, conforme I aos Coríntios 3:9-21), no tribunal de Cristo.
Depois de considerarmos as
questões da responsabilidade que temos no conhecimento do amor de Cristo, para
terminar estas considerações, entre múltiplas que nos poderiam deter, chamo a
atenção dos queridos leitores para uma verdade reconfortante do amor de Cristo
e está revelada em Romanos 8: 35-39:
«Quem nos separará do amor de Cristo? A
tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o
perigo, ou a espada?
«Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por
aquele que nos amou… nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de
Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!»
É consolador saber que,
embora neste mundo e vivendo em fraqueza e rodeados por toda a sorte de
fraqueza, está garantido o amor de Cristo e todo o propósito de Deus em Cristo
para a Sua Igreja “Corpo de Cristo”, porque, este amor de Cristo está no amor
de Deus: é uma expressão semelhante às do Senhor Jesus Cristo quando disse: «ninguém
as arrebatará das minhas mãos… das mãos do meu pai…» (João 10:28-29).
Notem que o Apóstolo está a
falar da nossa esperança, da glória que em nós há de ser manifestada (v. 17-18),
do decreto e/ou propósito de Deus quando traremos a imagem do Seu Filho… e que
já nos vê glorificados… (vv. 28-30).
Que consolador: «quem nos
separará deste propósito do amor de Cristo?»
Consolai-vos com estas
palavras e não descoreis o conhecimento e a experiência do amor de Cristo.
E, a que se refere o amor no Espírito? (Romanos 15:30;
Colossenses 1:8)
VPPaço
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