«Para vos envergonhar o digo: Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?» (I Coríntios 6:5).
«E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.» (Idem, 14:29).
O exercício da disciplina na Igreja local é a tarefa mais difícil e ingrata que recai sobre os Anciãos. No entanto, os anciãos não podem se recusar de a exercer, sob pena de serem, eles mesmos, disciplinados por Deus.
As Escrituras apresentam três níveis de Disciplina:
- A auto disciplina;
- A disciplina da Igreja;
- A Disciplina de Deus.
I Coríntios 11 apresenta os vários níveis de disciplina da Igreja Local:
(1) «Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disso, há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem. Porque, (2) se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, (3) somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo» (I Coríntios 11:28-32).
Sendo que (1) o crente deve se examinar a si mesmo; (2) se esse nível falhar, os crentes devem se julgar uns aos outros; e, ainda, se esse nível falhar, (3) Deus pode actuar.
Termos Aplicados à Disciplina:
Vejamos expressões que estão relacionadas com a disciplina:
Julgar
«Porque que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo» (I Coríntios 5:12-13).
Disciplinar
«Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos» (Hebreus 12:8;
Repreender
«Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo» (I Coríntios 11:32);
«Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé...» (Tito 1:13);
Castigar
«Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal» (Romanos 13:4);
Provar
«Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse» (I Pedro 4:12);
Corrigir
«Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça» (II Timóteo 3:16);
Assinalar
«Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe» (II Tessalonissenses 3:14)
Tentação
«Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar» (I Coríntios 10:13).
Entendendo a Disciplina
O que é a disciplina na Igreja Local?
Porquê a disciplina na Igreja Local?
Quando, como e para quê deve ser exercida?
O que implica a disciplina, para a igreja local, para o indivíduo, para Deus e para os adversários: mundo e hostes espirituais?
«Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.» (II Coríntios 11:2).
A Igreja Local como um Corpo
As Escrituras comparam a Igreja local a um Corpo vivo, em que o Senhor Jesus Cristo é a cabeça, reflectindo a posição que tem nos lugares celestiais.
Este corpo reflecte a imagem espiritual de Deus, o seu Criador:
«E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos. Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição» (Colossenses 3:10-14).
Este Corpo é, também, o lugar santíssimo de Deus, onde o Senhor faz manifestar a Sua presença, como acontecia, simbolicamente, no Tabernáculo e no Templo de Jerusalém no Antigo Testamento:
«Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito.» (Efésios 2:20-22)
Este Corpo é santo:
«Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade» (Efésios 1:4);
«Como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível...» (Efésios 5:25-27).
Assim, e à semelhança do que acontece com o nosso corpo físico, que está preparado para reagir a todos os ataques exteriores com o propósito de enfraquecer e adoecer o corpo – ao que se chama de “sistema imunitário”, o Senhor dotou o Seu corpo espiritual e místico com análogas capacidades – mas espirituais – para repelir todos os males, que é o pecado.
Disciplina, por isso, é a erradicação do pecado do seio da igreja local. E, isso acontece quando já não há alternativas, ou seja: corresponde à cirurgia que é feita no corpo físico. Quando há sintomas, a doença pode ser isolada e medicado, ao que poderemos chamar de AUTODISCIPLINA. Quando a doença já não vai com remédios terá de haver intervenção cirúrgica. E, aqui, entra a faca que corta e fere!
«Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração» (Hebreus 4:12);
«Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça...» (II Timóteo 3:16).
O Propósito da Disciplina
Preservar o testemunho e promover o ministério;
Dar fruto para Deus;
Limpar o “corpo de Cristo” local – Expressar a Imagem de Deus;
Pode ser primeiramente para manifestar os fiéis;
Para recuperar o que caiu em pecado;
Dissuadir Outros;
O Ministério da Igreja
«Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.» (João 13:8).
Há uma multiplicidade de efeitos que o exercício da disciplina produz no meio do povo de Deus. Um dos principais resultados é a restauração da experiência da vocação da Igreja.
Uma igreja afectada pelo pecado e sem disciplina fica enferma de forma que se torna incapaz de ver e ter a capacidade para desempenhar as suas funções neste mundo. Isso pode ser visto em muitos exemplos encontrados nos escritos do Antigo Testamento, sobre os quais o Apóstolo Paulo escreveu:
«Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos.... Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança». (Romanos 15:2,4).
«Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos» (I Coríntios 10:11).
Neste sentido, notem as palavras do Senhor: “se te não lavar, não tens parte comigo!” E, o Senhor, estava a falar do ministério dos apóstolos: a sua comissão.
Outro exemplo que é descrito no Antigo Testamento é o pecado de Acã, em Josué 7. É sobejamente conhecido aquele relato bíblico onde verificamos que o pecado daquele homem afectou toda a nação e, especialmente, impediu que o povo de Deus obtivesse as suas vitórias, mesma diante de inimigos mais fracos!
«Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? limpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que façamos festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade» (I Coríntios 5:6-8)
«Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idóneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra» (II Timóteo 2:20-21).
Na sequência deste estudo, não encontrei nos escritos do Apóstolo Paulo nada que afectasse o crescimento e o desenvolvimento da igreja local, designadamente o seu ministério. Somente nos escritos Proféticos é que demonstram isso. No entanto, que o pecado afecta toda a igreja, isso é verdade; e, que se não houver disciplina da própria igreja, o Senhor será obrigado a “castigar” o causador dos males à igreja:
«Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo» (I Coríntios 3:16-17).
«Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo» (Idem, 11:32).
O Fruto da Igreja:
«Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado.» (João 15:1-3).
O homem natural não pode dar fruto para Deus; é um terreno amaldiçoado.
«Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus».
«Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte» (Romanos 7:4-5).
Mas, quando recebemos o Evangelho, ele começou a frutificar em nós a obra de Deus.
«Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual já, antes, ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que já chegou a vós, como também está em todo o mundo; e já vai frutificando, como também entre vós, desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade» (Colossenses 1:5-6).
Agora, devemos andar dignamente diante do Senhor e frutificando:
«Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus...» (Colossenses 1:10).
Pode ser que, um dos impedimentos que a igreja local encontre para o seu testemunho e alcançar as alma pela evangelização seja a corrupção existente no seio da igreja!
Manter o Templo de Deus Limpo
Expressar a Imagem de Deus - Pura
«Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? limpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento...» (I Coríntios 5:6-7).
«Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo» (Idem, 5:13).
«Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idóneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra» (II Timóteo 2:20-21).
«Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência e a avareza, que é idolatria...
Mas, agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca; não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou» (Colossenses 3:5-10).
«Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo» (Filipenses 2:14-15).
Os Fieis se Manifestem
E, por sua vez, os descrentes.
«Nisto, porém, que vou dizer-vos, não vos louvo, porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior. Porque, antes de tudo, ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio. E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.» (I Coríntios 11:17-19).
«Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade» (II Timóteo 2:19).
Já anteriormente abordamos este aspecto da questão; por vezes o Senhor permite que ocorram problemas no seio da igreja local para ver como reagimos. Isto acontece quando há um notável crescimento de “novos convertidos”, de aparente “sucesso” entre os crentes e nas igrejas locais e, supostamente, tudo são manifestações de sucesso.
Quando nada acontece, pode ser sintoma que são manifestações ou movimentos que nada têm a ver com Deus. São do mundo e com o mundo lidam.
Mas, se são manifestações em nome de Deus e se se invoca o nome de Deus, Deus é chamado a testar a veracidade e a sinceridade dessas manifestações. Os fieis, são aprovados, crescem e frutificam ainda mais; os infiéis se desviam, corrompem-se ainda mais, e cada vez mais se desviam da identidade de Deus. Podem crescer nominalmente e se multiplicarem os seus sucessos religiosos, mas isso não é sinónimo de “bênção de Deus”, pois esta se manifesta na verdade, na sinceridade e na santidade.
«E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles.»
«Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados» (II Timóteo 3:8,9,13
Em contraste com estes, temos Timóteo:
«Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, caridade, paciência, perseguições e aflições...»
«Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido» (II Timóteo 3:10-11, 13)
Recuperar o Irmão Fraco
Um dos principais propósitos da disciplina é recuperar o irmão fraco. A disciplina serve de instrumento para despertar o crente que, por vezes, adormecido pela influência do mundo, enveredou por caminhos dos quais não tem discernimento e forças para os abandonar.
A disciplina é como que uma intervenção cirúrgica que é administrada sobre o membro do corpo e que se destina à sua recuperação e não destruição.
«Portanto, escrevo essas coisas estando ausente, para que, estando presente, não use de rigor, segundo o poder que o Senhor me deu para edificação e não para destruição» (II Coríntios 13:10).
«Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.» (Gálatas 6:1-2)
«Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam. Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus.» (Romanos 15:1-2; 5-7)
«Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas. Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar.»
«Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo.» (Romanos 14:1-4; 19-20).
«Mas deliberei isto comigo mesmo: não ir mais ter convosco em tristeza. Porque, se eu vos entristeço, quem é que me alegrará, senão aquele que por mim foi contristado? E escrevi-vos isso mesmo para que, quando lá for, não tenha tristeza da parte dos que deveriam alegrar-me, confiando em vós todos de que a minha alegria é a de todos vós. Porque, em muita tribulação e angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho. Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos; basta ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que, pelo contrário, deveis, antes, perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja, de modo algum, devorado de demasiada tristeza. Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E para isso vos escrevi também, para por essa prova saber se sois obedientes em tudo. E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás, porque não ignoramos os seus ardis.» (II Coríntios 2:1-11)
«Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito; e não somente com a sua vinda, mas também pela consolação com que foi consolado de vós, contando-nos as vossas saudades, o vosso choro, o vosso zelo por mim, de maneira que muito me regozijei. Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos contristou, ainda que por pouco tempo; agora, folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte. Porque quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio. Portanto, ainda que vos tenha escrito, não foi por causa do que fez o agravo, nem por causa do que sofreu o agravo, mas para que o vosso grande cuidado por nós fosse manifesto diante de Deus.» (II Coríntios 7:6-12).
Dissuadir outros
Um dos propósitos do exercício da disciplina é para todos os crentes tomarem consciência do que implica para Deus e para a comunidade uma vida de pecado. Pois, a natureza humana é inclinada à indiferença! Assim, se não houver castigo, a tendência é essa mentalidade se generalizar e aquilo que, inicialmente, era considerado um mal inconcebível, passar a ser tolerado e, depois passar a ser um abito comum!
«Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor. Conjuro-te, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que, sem prevenção, guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade» (I Timóteo 5:20-21)
Um exemplo deste efeito de temor temos na disciplina de Pedro sobre Ananias e Safira, em Actos 5:
«E houve um grande temor em toda a igreja e em todos os que ouviram estas coisas» (v. 11).
Os Motivos da Disciplina
O que constitui motivo para a disciplina? Exemplos e Casos!
O principal motivo de disciplina é a desobediência à Palavra de Deus. No entanto, as Escrituras apresenta outros casos dignos de serem corrigidos e, quando não, objecto de disciplina.
Como ponto de partida, devemos obter os critérios que a Palavra de Deus faz, designadamente, marcar a diferença entre acto acidental de acto continuado (Gálatas 6:1-2).
«Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.»
“Surpreendido” (grego: Strong: 4301 – prolambanw = prolambano, de 4253 e 2983; 1) tomar antes; 2) antecipar, prevenir ).
A ideia é de alguém que foi acometido de um acto que não mediu as consequências. Cometeu um acto e foi surpreendido pelos seus efeitos e resultados.
“Ofensa” (grego: Strong: 3900 - paraptwma = paraptoma, de 3895; 1) cair ao lado ou próximo a algo; 2) deslize ou desvio da verdade e justiça; 2a) pecado, delito.
A ideia que é retirada da palavra é de uma falta ou um acto que causa ofensa, que pode ser a Deus como à igreja local e aos crentes em geral.
Trata-se, assim de um acto isolado e não de uma prática continuada. São aqueles que dão um passo em falso, ou seja, “foram surpreendidos”, ou como que “apanhados numa emboscada”! É o tipo de “ardis” de Satanás, referido em II Coríntios 2:
«Basta ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que, pelo contrário, deveis, antes, perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja, de modo algum, devorado de demasiada tristeza».
«E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás, porque não ignoramos os seus ardis» (v. 6-7, 10-11).
Outro facto importante, a ter em consideração, quando lidamos com a disciplina de alguém, devemos procurar saber e ficar perfeitamente inteirados que o indivíduo prefere se manter naquela situação de pecado. Isso veremos melhor no capítulo da “Aplicação da Disciplina”. No entanto, devemos desde já ter noção que a disciplina é considerada um corte sobre alguém que está em pecado e quer-se manter assim numa vida de pecado. A disciplina não é para ser aplicada no indivíduo que reconhece o mal que está a fazer, se arrepende e muda de vida.
Por fim, quando examinamos uma situação digna de disciplina devemos ter total conhecimento dos factos e não exercer disciplina com base em mexericos, fofoquices e “disse que disse”! Além disso, a pessoa deve ser primeiramente ouvida, para se certificar da veracidade dos factos.
Depois disto, consideremos os diversos actos ou factos que são dignos de repreensão, correcção e disciplina:
A) Imoralidade:
«Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem; isso não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas, agora, escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo» (I Coríntios 5:9);
«Não sabeis que os injustos não hão de herdar o Reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus. E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus» (I Coríntios 6:9-11)
«E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas, antes, condenai-as. Porque o que eles fazem em oculto, até dizê-lo é torpe. Mas todas essas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta. Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios» (Efésios 5:11-15).
A imoralidade é comportamento que é mais notado e com efeitos mais visíveis e imediatos. Pois, o imoral, além dos efeitos espirituais que produz, transporta consigo um mau testemunho e dá a imagem de si, do que professa e daqueles que o rodeiam.
É importante notar a força que o Senhor coloca nas palavras que têm a ver com a imoralidade e com aquele que é imoral.
Os anciãos têm uma responsabilidade redobrada:
«Não aceites acusação contra presbítero, senão com duas ou três testemunhas. Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.» (I Timóteo 5:19-20).
B) Vida Desordenada:
«Rogamo-vos também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos e sejais pacientes para com todos» (I Tessalonissenses 5:14);
Estes desordeiros eram aqueles que não viviam em ordem, ou seja, fora do espírito da mensagem do Evangelho. O Apóstolo é mais claro quando escreve a segunda Epístola:
«Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto: que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes, fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos e exortamos, por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia, não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.» (II Tessalonissenses 3:10-15).
«E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos símplices. Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas símplices no mal. E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém!» (Romanos 16:17-20).
Este é o tipo de vida que não se coaduna com a verdade que pregamos, seja do ponto de vista moral, como mesmo cerimonial. Exemplo desse tipo de conduta e mesmo de repreensão é feita pelo Apóstolo Paulo quando repreendeu a Pedro, em Antioquia:
«E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?» (Gálatas 2:11-14).
C) Erros Bíblicos que Ponham em Causa a Propagação da Verdade e da Fé:
«Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os que crêem em Deus procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens. Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs. Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado.» (Tito 3:8-11).
Pode parecer estranho o Senhor prever disciplina para aquele que é herege, ou que ensina coisas que põe em causa a mensagem da Graça de Deus, o Evangelho do Mistério. Mas, estes são os mais abundantes exemplos que temos de Disciplina. Vejamos alguns:
«Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
«Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns.
«Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.
«Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idóneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra.
«Foge, também, dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor. E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas.
«E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos.» (II Timóteo 2:15-26).
Notemos que a “iniquidade” referida no versículo 19 é usada no contexto doutrinário. E, nesse contexto, o Apóstolo faz referência que estariam disciplinados e presos nos laços do diabo. São os erros que corrompem a verdade exposta de Deus. Este tipo de pecados são os que produzem efeitos mais graves.
«Porque deste número são os que … aprendem sempre e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles.» (II Timóteo 3:6-9).
«Como te roguei, quando parti para a Macedónia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina, nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora.
«Ora, o fim do mandamento é a caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas, querendo ser doutores da lei e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam.
«Conservando a fé e a boa consciência, rejeitando a qual alguns fizeram naufrágio na fé. E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.» (I Timóteo 1:3-7; 19-20);
A Aplicação da Disciplina
Quem deve Exercer a Disciplina?
Os Anciãos... caracterizados pela idoneidade, pela experiência da vida, pela responsabilidade e exemplo...
«... Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém, também, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta e no laço do diabo» (I Timóteo 3:1-7).
“Não neófito”, no grego: Strong: 3504 neofutov neophutos, i.e. “recentemente plantado”, ou seja, um recém convertido.
«E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idóneos para também ensinarem os outros» (II Timóteo 2:2).
“Idóneo”, no grego: Strong: 2071 esomai esomai, i.e. “mais que suficiente”, “bastante capaz”.
«Não aceites acusação contra presbítero, senão com duas ou três testemunhas. Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor. Conjuro-te, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que, sem prevenção, guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade. A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro» (I Timóteo 5:19-22).
Como é que deve ser exercida a Disciplina?
Disciplina e Despotismo
Despotismo é sinónimo tirania, ditadura. A história secular e eclesiástica está repleta de exemplos de despotismo tirania que começou com o pretexto de disciplina. A Igreja de Deus não é uma democracia, mas muitos fazem dela um território déspota, impondo uma certa tirania. Daí que, o funcionamento da igreja local não deve reflectir o domínio de um pastor, de uma família ou de um grupo, seja ele qual for; mas deve imperar a liberdade do Espírito (II Coríntios 3:17).
João dá um exemplo de despotismo:
«Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Pelo que, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja. Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz bem é de Deus; mas quem faz mal não tem visto a Deus.» II João 1:9-11).
Disciplina e Descriminação
A discriminação é diferenciação. Infelizmente, por causa da humanidade das pessoas elas são levadas a usar de tratamentos diferenciados em função das pessoas que estiverem em causa. E, quando está em causa pessoas que são da própria família ou amigos chegados isso se faz sentir mais.
Neste contexto, diz o Apóstolo Paulo a Timóteo:
«Conjuro-te, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que, sem prevenção, guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade. A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro.» (I Timóteo 5:21-22).
Esta é uma das razões porque nem todos são capazes de exercer disciplina, mas somente os anciãos, diga-se: os que são verdadeiramente anciãos, ou seja, idóneos no serviço do Senhor, com as características espirituais, morais e humanas para o exercer.
A discriminação pode ser observada sob dois pontos de vista: (1) no abandono do disciplinado por parte da igreja, e (2) na recusa do disciplinado em receber a disciplina.
Sendo que a disciplina visa recuperar o membro enfermo, a igreja local nunca deve desistir do seu membro. Paulo diz:
«Todavia, não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.» (II Tessalonissenses 3:15).
Disciplina e Arbitrariedade
A arbitrariedade pode ser entendida como um comportamento caprichoso, discricionário e abusivo. E, aqui, também pode ser encarado sob a dupla perspectiva:
Na perspectiva do disciplinado, a reacção é: com que direito fazes isto? Quem és tu para me disciplinares? Não somos todos pecadores? Confundindo a disciplina bíblica com a arbitrariedade.
É preciso nunca esquecer que a autoridade na disciplina nunca vem daquele que a aplica, mas daquele que a ordenou, ou seja, o Cabeça e Senhor da Igreja (Efésios 1:22-23).
Na perspectiva dos que têm a responsabilidade de exercer a disciplina, a questão é diversa: a disciplina pode ser exercida sem qualquer critério. Disciplina-se e com agravamento, e com celeridade por se tratar de determinada pessoa.
Lembremos, novamente, I Timóteo 5:
«Conjuro-te, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que, sem prevenção, guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade. A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro.» (I Timóteo 5:21-22).
O versículo 22 salienta duas coisas importantes a acrescentar ao assunto: “juízos precipitados” e “partidarismos”.
A Disciplina Bíblica
Disciplina Bíblica: Amor e Disciplina (Apocalipse 3:19; Hebreus 12:4-13); imparcialidade (I Timóteo 5:21-22); Envolve relacionamento familiar (Hebreus 12:7-9); Quando os crentes estão a ser objecto de disciplina estão, simplesmente a ser tratados como filhos. Os anciãos têm o privilégio de ser os instrumentos desse exercício. É para bem (v. 10), produz paz e rectidão (v. 11), e restauração (v. 13).
Paulo: como um Pai (II Coríntios 6), como Mãe/ama (I Tessalonissenses 2); como amo (I Tessalonissenses 2);
«Antes, fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos» (I Tessalonissenses 2:7)
«Assim como bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos, a cada um de vós, como o pai a seus filhos...», (I Tessalonissenses 2:11);
«Ó coríntios, a nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado. Não estais estreitados em nós; mas estais estreitados nos vossos próprios afectos. Ora, em recompensa disso (falo como a filhos), dilatai-vos também vós.» (II Coríntios 6:11-13).
O maior exemplo para exercer a disciplina é Deus, que o faz como um PAI e não como um carrasco, senão vejamos:
«Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.
«5 E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correcção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido; 6 porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho. 7 Se suportais a correcção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há a quem o pai não corrija? 8 Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos. 9 Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? 10 Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. 11 E, na verdade, toda correcção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela. 12 Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados, 13 e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado. 14 Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, 15 tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem.» (Hebreus 12:3-15).
O Processo da Aplicação da Disciplina
Os textos onde nos poderemos basear para aplicar a disciplina encontramo-los em I Coríntios 5, I Timóteo 5, e, como princípio de aplicação, em Mateus 18:15-17.
1. Abordagem Individual (v. 15);
2. Direito de defesa do Indivíduo (v. 15);
3. Admoestação Privada (v. 16);
4. Pronunciamento Público (v. 17);
5. Exclusão Pública (v. 17; I Coríntios 5:11) – Toda a Igreja;
6. A Carta de Disciplina[1].
A Base da Disciplina
A base para a aplicação da disciplina é a Palavra de Deus.
«Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir (repreender), para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra» (II Timóteo 3:16-17).
«Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração» (Hebreus 4:12).
Na Palavra de Deus, os casos de disciplina, são situações perfeitamente definidas e que se estendem no tempo.
A disciplina nunca é exercida com base em suposições, em desconfianças, em mexericos, ou algo parecido. O Apóstolo Paulo teve sempre o cuidado de divulgar as suas fontes, entes de pronunciar algum juízo ou fazer alguma recomendação:
Família de Cloe (I Coríntios 1:11); Estéfanas, e de Fortunato, e de Acaico (I Coríntios 16:17); Tito (II Coríntios 7:6-7); Epafrodito (Filipenses 2:25-30); Epafras (Colossenses 4:12-13), entre outros.
«Não aceites acusação contra presbítero, senão com duas ou três testemunhas...» (I Timóteo 5:19).
«Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada.» (Mateus 18:16 – Ver: II Coríntios 13:1).
Efeitos da Disciplina sobre o Disciplinado
“Seja entregue a Satanás!”
A situação é grave. A pessoa, crente ou não, prefere estar identificada com o mundo e às suas consequências, ou seja, à “condenação do mundo”.
A condenação do mundo é a grande tribulação que aguarda a sua manifestação. Assim, aquele que recusa a restauração à comunhão da igreja local fica como que ao dispor do “príncipe que agora opera nos filhos da desobediência” (Efésios 2:1-3) e corre o risco da “destruição do corpo” (I Coríntios 5:5).
As Escrituras são claras a afirmar que o indivíduo que permanece no pecado e recusa a comunhão com a igreja local está sob o domínio e influência do Diabo. Além disso, fica sem a protecção que o Senhor dá àqueles que pertencem ao “corpo de Cristo” e ao “Templo de Deus”, expostos aos mais horrendos ataques do Diabo.
“O espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (I Coríntios 5:5).
A situação é semelhante à descrita em I Coríntios 3, se bem que por motivos diferentes: sobre aqueles que destroem o “templo de Deus”, com uma construção não consistente, como a que o Apóstolo exemplifica, no “Edifício de Deus”:
«Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade, o Dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo» (I Coríntios 3:11-15).
Outros Textos que envolve anjos:
«Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos.» (I Coríntios 11:10).
O Ministério dos Anjos
O ministério dos anjos é um ministério muito pouco compreendido entre os crentes, inclusivamente daqueles que têm recebido o conhecimento da revelação do Mistério.
O ministério dos anjos tem tudo a ver com o Programa Profético, e, por isso mesmo, insere-se no Plano de Deus para a Terra, cuja concretização passa pela Nação de Israel, e com o rumo da terra de uma forma geral.
«Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?» (Hebreus 1:14).
Os anjos são ministros de Deus, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação, no quadro Profético, que será no reino messiânico. (Chamo a atenção do leitor para o facto do Apóstolo estar a escrever aos Hebreus, que se haviam convertido com a mensagem do Reino – 2:1-4 – cujos ensinos terão especial aplicação na Grande Tribulação e no Milénio). De forma que, no Programa do Reino cada pessoa está identificada com um anjo (Mateus 18:10), a nação de Israel é protegida por um exército de anjos, cujo príncipe é o Arcanjo Miguel (Daniel 10:13, 21; Judas 9); como cada nação tem um príncipe e determinados anjos que interferem no rumo dos acontecimentos (Daniel 10:13). Deus deu a Lei a Moisés através dos anjos (Actos 7:53; Gálatas 3:19), e as suas instruções espirituais sobre o seu povo terreno são dadas através dos anjos, de modo que, cada igreja local tem um anjo (Apocalipse 1:20; 2:1, 8, 12, 18; 3:1, 5, 7, 14). Por isso, vemos que o Programa do Reino é administrado a Israel com a intervenção dos anjos: e podemos confirmar isso pelas 67 referências que o Livro do Apocalipse tem aos anjos.
No entanto, a Igreja “Corpo de Cristo” irá julgar os anjos. Diz Paulo:
«Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?» (I Coríntios 6:3);
E diz mais, em relação à Igreja “Corpo de Cristo” no Reino:
«Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo?» (Idem, 6:2); e:
«Se sofrermos, também com ele reinaremos» (II Timóteo 2:12).
«Depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.» (I Tessalonissenses 4:17); de maneira que, «quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória.» (Colossenses 3:4).
Assim, e segundo eu creio, a ordem hierárquica estabelecida por Deus é esta: Deus... o Senhor Jesus Cristo (como Homem)... nós n’ Ele (a Igreja “Corpo de Cristo”)... os anjos... Israel... os gentios ou nações e, por fim, a natureza terrena. Deus acima de todas as coisas, que governará o mundo na pessoa do Senhor Jesus Cristo, no qual nos abençoou com todas as bênçãos, que serão por nós delegadas aos anjos para as transmitir a Israel, que, por sua vez, as ministrarão às nações e estas farão a gestão da natureza da terra.
Ora, a acompanhar a proclamação do Evangelho do Reino o Senhor deu aos portadores dessa mensagem poder para eles dominarem sobre as forças espirituais que combatiam contra o Reino. Era um poder especial de Deus, mesmo sobre os anjos, para limpar a terra e preparar o Reino. Provavelmente este poder seria exercido com a intervenção dos anjos de Deus (Marcos 3:15; 16:17), já que eles estão em constante conflito (Daniel 10; Judas 9; Apocalipse 12:7). E tal era este poder que nada havia que não lhes estivesse sujeito, ao ponto de, certa vez, depois dos discípulos regressarem de anunciar que o “Reino estava próximo”, o Senhor disse que vira “Satanás a cair do céu como um raio...” (Lucas 10:18). E o Senhor deu esse poder aos discípulos no Reino porque era uma antevisão do Reino Messiânico, onde e quando Satanás estará preso (Apocalipse 20:2).
O Apóstolo Paulo, também, chegou a experimentar este poder no seu ministério, antes da revelação do Mistério ter sido concluída. Actos 16:18 narram como o Apóstolo Paulo expulsou um demónio de uma rapariga de Filipos. E, em 19:15, da mesma Epístola de “Actos”, vemos que eles (demónios) o conheciam bem!
No entanto, com a revelação do Mistério a completar-se, o apóstolo faz algumas referências à impossibilidade de vencer Satanás. Diz ele:
«Pelo que bem quisemos, uma e outra vez, ir ter convosco, pelo menos eu, Paulo, mas Satanás no-lo impediu.» (I Tessalonissenses 2:18);
«E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor, para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.» (II Coríntios 12:7-10);
E só fala na sujeição definitiva e total de Satanás em termos futuros:
«E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém!» (Romanos 16:20);
Então, diz o Apóstolo Paulo:
«No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais» (Efes. 6:10-12).
Satanás e a Obra do Senhor Jesus Cristo na Cruz
A obra do Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário foi a maior derrota de Satanás. Ele não imaginava o conteúdo do “Segredo da Vontade de Deus”, e o que estava reservado por Deus naquela obra que parecia ser um acto de fraqueza de Deus (II Cor. 13:4 e I Cor. 1:23-25)! Parece que Deus não podia fazer nada para evitar a morte de Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, às mãos dos homens. Por trás desta estratégia destruidora estava Satanás:
«Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim» (João 14:30)
No entanto, com a obra do Senhor Jesus Cristo, Satanás e as suas hostes foram totalmente destruídos:
«Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo» (João 12:31); e: «E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado» (João 16:11).
«E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo» (Col. 2:15).
Vejamos o significado destas palavras:
«Despojado» (gr. “apekduomai”), significa “tirar”, “despir” ou “desarmar”;
«Expôs publicamente» (gr. “deigmatidzo”), significa “zombar”, “desmascarar”, “ridicularizar”;
«Triunfou» (gr. “thriambeuo”), significa “conduzir um cortejo triunfal”, conforme II Cor. 2:14, que diz:
«E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento».
Assim, na Cruz do Calvário, Satanás que tinha uma estratégia de vencer o Senhor e deitar tudo a perder do Propósito de Deus em Cristo, foi completamente dizimado, ao ponto de ficar despido de qualquer tipo de glória, e desarmado de alguma ferramenta que pudesse usar contra o Senhor e contra o Seu povo. E tal foi a vitória como a surpresa de Satanás: pois ele foi surpreendido na sua própria astúcia; aquilo que ele pensava ser a sua grande vitória sobre o Plano de Deus, isso foi a sua maior e a mais completo derrota. Além disso, o “príncipe deste mundo”, o Anticristo, a semente da serpente de Génesis 3:14-15, que reivindica o domínio sobre o mundo ao Senhor Jesus Cristo foi derrotado com as suas hostes e preso: “levado cativo o cativeiro” ao abismo (Efésios 4:8-9, Salmo 68:18; Romanos 10:7) onde estará preso até ser de novo libertado na grande tribulação (Apocalipse 17:8; 9:1-11; II Tessalonissenses 2:1-10). Uma das suas cabeças foi ferida de morte, pisada pelo pé do Senhor na Cruz do Calvário, de acordo com o profetizado em Génesis 3:14-15 (mas tem mais 6 cabeças em acção), conforme está escrito em Apocalipse 13:3,14).
A obra do Senhor na Cruz é, ainda, o motivo da maior vergonha de Satanás, porque por ela, ele ficou despido, desarmado e foi motivo de zombaria. Pela Cruz e pelos seus efeitos Satanás teve a sentença final. Ainda anda à solta, é verdade, mas, face à Cruz, anda desarmado e envergonhado.
A Actuação de Satanás e a Igreja “Corpo de Cristo”
É verdade que Satanás foi derrotado; É verdade que o seu príncipe – o príncipe deste mundo foi derrotado, ferido e preso no abismo; No entanto, Satanás ainda está à solta, na tentativa de sobreviver ou adiar o mais possível o que lhe está determinado e, assim, procura minimizar a sua vergonha, na tentativa de tirar a glória a Deus. E perguntamos: qual é a sua actuação? Que pode ele fazer? Como podemos reagir?
Quando o Apóstolo Paulo escreve aos Colossenses e redige o versículo citado, vem na sequência da descrição da situação da Igreja em Cristo: «Estais perfeitos n’ Ele!» (2:9-10). De modo que, a Igreja “Corpo de Cristo”, passou a ser propriedade exclusiva de Deus, «povo seu, especial» (Tito 2:14), e vive numa esfera totalmente nova: «o reino do Filho do Seu amor» (Colossenses 1:13), e sob a protecção do próprio Deus (Romanos 8:31-34; I Coríntios 6:19-20; 3:16-17). É uma zona que não é acessível a Satanás nem às suas hostes. A Igreja tem a presença do próprio Senhor, e é Ele que a alimenta e a sustenta (Efésios 5:29), a firma (Romanos 14:4; 16:25), a fortalece (II Timóteo 2:1) e a conforta (II Coríntios 1:3). É Ele que a defende e que a protege (II Timóteo 1:12; Hebreus 13:6).
Mas, Satanás tem uma preferência muito especial na sua adversidade contra a Igreja “Corpo de Cristo”. E as razões são bem conhecidas. O Programa de Deus para a Igreja consiste em elevá-la em Cristo aos mais altos céus [Gr. “en tois epouranios” (Strong 2032), que significa “sobre os celestiais” (Strong: 1909 – “epi”, ou seja, “sobre”, “em cima”, e Strong: 3772 – “ouranios”, que é “celestiais”)]. Ali a fez assentar (Efésios 2:5), e ali a abençoou com todas as bênçãos espirituais (Idem, 1:3). Ora, esses lugares foram exactamente os lugares que Satanás sempre desejou para si e que foram a causa da sua queda:
«E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo» (Isa. 14:13-15) * Este texto refere-se directamente ao Anticristo, que assumirá na grande tribulação o governo da Babilónia e do mundo, de acordo com o contexto e Ezequiel 28. No entanto, aplica-se ao trio maligno: Satanás, besta e falso profeta, ou seja aos espíritos demoníacos que encarnarão neles, na grande tribulação.
O domínio maligno que é exercido sobre o mundo (vide infra) é operado pelas hostes espirituais dos lugares celestiais, uma vez que o pretenso imperador maligno terreno está preso. O Apóstolo Paulo revela que o príncipe da terra está preso e que o príncipe dos ares é que anda solto, activo, e influência o mundo (Efésios 2:1-3). É o espírito que agora opera nos filhos da desobediência, e cuja vida corrupta será castigada nos dias da ira de Deus, a grande tribulação (vide infra).
No entanto, Satanás sabe que nada pode fazer contra a Igreja. Ela é propriedade especial do Senhor, de forma que ela tem uma protecção directa e permanente do Senhor. Na glória, a Igreja está em Cristo, assentada nos mais altos lugares celestiais; na terra, os crentes que fazem parte da Igreja “Corpo de Cristo” têm a presença do Senhor. Então, a sua forma de actuar é diversa: ele lança dardos inflamados para o “seio” da Igreja (Efésios 6:16), ou seja, ele tenta atacar a Igreja de fora para dentro, criando situações que levem ao seu enfraquecimento espiritual. A fraqueza espiritual da Igreja tem como consequência a própria disciplina de Deus sobre os crentes. Por outro lado, com uma igreja fraca a influência de Satanás fica sem oposição no mundo.
Assim, a actuação de Satanás em relação à Igreja e no tempo presente é especialmente atacando a verdade (que a Igreja é a coluna e firmeza – I Timóteo 3:15-19) introduzindo “doutrinas de demónios” (I Timóteo 4:1), e cariz moral e espiritual. É a isto que se refere Paulo quando diz que “o ministério da iniquidade já opera” (II Tessalonissenses 2:7), que no concreto se trata da construção do “anti-corpo” ou do “anti-edifício” ou da “anti-igreja” que Satanás está construindo para confundir o mundo e desistabilizar o próprio povo de Deus. É o lado físico da igreja, no mundo, onde são o seio de todo o tipo de erros doutrinários, e que se propagam em nome de Deus. “Iniquidade” no sentido de insujeição a Deus e anarquia em relação à Lei de Deus (Gr. “anomia”). No caso, é a insujeição da cristandade ao ensino de Deus revelado e confiado a Paulo (II Tessalonissenses 1:8-10).
Relativamente à imoralidade, ele usa o mundo para induzir os crentes à imoralidade, ao pecado e ao desvio espiritual. Temos, como exemplo disso, casos de imoralidade consumada na Igreja em Corinto (I, 5:1) e casos que poderão ser situações potenciais de imoralidade, como é a circunstância de incontinência conjugal prolongada (I Coríntios 7:5). Paulo refere, ainda, a actuação de Satanás em situações de moças crentes que se desviam do comportamento cristão, seguindo vidas mundanas (I Timóteo 5:15).
Por isso, diz Ele:
«Porque não ignoramos os seus ardis» (II Cor. 2:11).
E diz mais:
«Não deis lugar ao diabo» (Efe. 4:27),
ou seja, não deis espaço para que o diabo se movimente.
Para entendermos melhor a actuação de Satanás sobre a Igreja “Corpo de Cristo” temos o exemplo de Israel nas campinas de Moabe narrado em Números 22 a 25.
Israel ia no seu percurso para entrar na terra de Canã. Quando chegou às campinas de Moabe, o rei dos Moabitas constatou que não poderia derrotar Israel, face às grandes vitórias que Deus lhes havia dado antes.
Com o objectivo de enfraquecer Israel, Balac chama um profeta: Balaão, para maldizer a Israel.
A verdade é que ele nada pôde dizer nem fazer contra aquele que era o Povo de Deus e cujo Deus estava no meio deles.
Então, qual foi a sugestão de Balaão para enfraquecer Israel? Induziu o povo à imoralidade, levando que os filhos de Israel se corrompessem com as Moabitas.
Esta situação enfraqueceu a Israel e levou o Senhor a disciplinar aqueles que se tinham desviado d’ Ele, dos seus ensinos e do Plano que Deus tinha para eles, como seu povo.
No entanto, tal actuação de Balac e de Balaão não foram suficientes para travarem o Senhor e o Seu povo, pelo que o Senhor lhes deu uma vitória demolidora, ao ponto de Israel ficar com as terras deles como herança.
Actuação de Satanás no Mundo
A actuação de Satanás é preferencialmente no mundo. O homem, perdido nos seus pecados, vive sob o domínio e influência de Satanás:
«Em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência» (Efe. 2:2).
Mas, esta actuação de Satanás sobre o mundo, como príncipe dos ares, é predominantemente de cariz espiritual e moral. Assim, e do ponto de vista espiritual, ele actua como “deus deste século”, cegando os entendimentos, com as doutrinas de demónios que levanta (I Timóteo 4:1), e mantendo-as aprisionados no seu domínio de perdição:
«Os que se perdem... nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.» (II Cor. 4:4).
Nesta actuação ele tem a capacidade de se mascarar em “anjo de luz” (II Cor. 11:14), criando e divulgando doutrinas atractivas, lógicas, aparentemente boas e saudáveis, com algum cariz moral e religioso, mas cujo fim é a perdição. No entender do Apóstolo Paulo, tal actuação também visa influenciar a Igreja, de modo que tais ensinos desviam os crentes da verdade e os faz perder a visão da sua vocação celestial, com todas as consequências que daí resultam. Por isso, muitas das doutrinas que têm surgido no seio das igrejas locais, e contrárias à verdade do Mistério, são ensinos que têm a sua fonte no mundo, nos descrentes, com grandes doses de carnalidade, que as criaram por influência de demónios!
Satanás movimenta-se com as suas hostes no mundo, sendo elas – as hostes – compostas por uma casta a que as Escrituras chamam de “demónios”. Os demónios são seres espirituais, com uma hierarquia própria, com actividades diversas e em áreas de intervenção distintas. São os “mensageiros” e súbditos de Satanás, (Mateus 12:24). Por vezes entram em conflito entre si por parcelas de influência (Mateus 12:25). Sobre a sua actividade no mundo o Apóstolo Paulo fala do “cálix dos demónios” (I Coríntios 10:20), da “mesa dos demónios” (ver. 21), da “doutrina dos demónios” (I Timóteo 4:1) e do “sacrifício aos demónios” (I Coríntios 10:20). Todas as referências estão muito impregnadas de um cariz religioso e moral.
A Escritura diz que o domínio de Satanás é um domínio de trevas. De forma que, quando o poder do Evangelho actua no indivíduo destrói todas as barreiras espirituais e arrebata a alma do “domínio das trevas e a transporta para o Reino do Filho Amado” (Colossenses 1:13), o Senhor Jesus Cristo.
Paulo foi vocacionado por Deus com este mesmo propósito, como lhe disse o Senhor:
«Para lhes abrires os olhos e das trevas os converteres à luz e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados pela fé em mim.» (Actos 26:18)
Lemos, ainda, em Efésios «do espírito que opera nos filhos da desobediência» (2:2). Em Colossenses 3:5-6 vemos que a tal operação sobre os filhos da desobediência é a imoralidade:
«Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência».
Esta é outra forma de Satanás actuar no mundo, conduzindo o homem à corrupção e à degradação espiritual. O objectivo inclui, também, que tal degradação se reflicta nos crentes e com isso, enfraquecer a Igreja, pelos casos já referidos.
Poderemos indicar outras formas de actuação de Satanás no mundo, mas não serão muito claras, designadamente perseguições, tribulações, etc. No entanto, elas só deverão ser consideradas como tal indirectamente, porque as pessoas estão em trevas e na incredulidade. Porque muitas dessas acções são inatas ao ser humano corrupto e perverso e não oriundas de Satanás. O Apóstolo Paulo fala de homens “inventores de males” (Romanos 1:30) e “homens maus” (II Timóteo 3:1-9).
Actuação de Satanás na Disciplina de Deus
Deus pode usar Satanás para disciplinar os próprios crentes que caem e vivem em pecado.
Antes estivemos a considerar como a Igreja, no mundo, nada pode fazer para contrariar a actuação de Satanás; só pelo poder a graça de Deus é que O Senhor pode contrariar estas limitações, sendo que, pela sabedoria de Deus, tais vicissitudes provocadas por Satanás e suas hostes sobre o povo de Deus redundam sempre no benefício da obra de Deus e glorificação de Deus. «Somos mais que vencedores...» (Romanos 8:37). Mesmo assim, Satanás não poderá fazer qualquer mal à Igreja, senão fisicamente (“estamos entregues à morte todo o dia” – Romanos 8:36; II Coríntios 1:9; 4:11), já que ela é o povo especial de Deus, tem uma protecção especial de Deus, de modo que, enquanto o crente estiver identificado com a Igreja local está sob a protecção directa de Deus.
No entanto, quando o crente cai em pecado e é disciplinado pela Igreja, esse crente é como que abandonado no mundo e deixado à sua sorte, sem a protecção de Deus. Esta situação coloca o tal crente ao abandono e assim sujeito à intervenção de Satanás. Dai o perigo da situação de um crente sob disciplina. Satanás, poderá assim, com a permissão de Deus, aplicar disciplina que pode levar à morte do crente, ficando sempre salvaguardada e garantida a sua condição espiritual, ou seja, a sua salvação:
«Que o que tal acto praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus.» (I Cor. 5:3-5);
«E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.» (I Timóteo 1:20);
«mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo» (I Coríntios 3:15).
Depois da disciplina da Igreja, se o crente se arrepender, deve ser novamente recebido à comunhão, reintegrado e, de novo, volta à protecção de Deus:
«E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás...» (II Coríntios 2:10).
Mas, esta “entrega a Satanás” ou disciplina aplicada por Satanás é mais que uma operação no corpo; pode ser uma operação espiritual, no sentido que levará o disciplinado à insegurança espiritual, incerteza espiritual, a abraçar erros doutrinários, “lavado por todo o vento de doutrina” que o fará sucumbir no erro e à perda de todos os prémios que, porventura, receberia, se estivesse em comunhão.
A Actuação do Crente Sobre Satanás e suas Hostes
Segundo a revelação do Mistério, e porque o Senhor ao abandonar o mundo o deixou entregue a si mesmo (Romanos 1), o crente está numa posição de fragilidade em relação ao mundo e aos perdidos que são do mundo. No entanto, e na experiência do Apóstolo Paulo, não vemos que isso fosse preocupação para si ou para o Evangelho. Não vemos, também, que ele tivesse algum poder especial para actuar sobre as hostes espirituais da maldade. Não vemos, ainda, que haja uma guerra entre os anjos de Deus e os anjos caídos em actuação a favor da Igreja, mas lemos que o próprio Senhor, e directamente, esta sempre disponível para nos socorrer, logo que o invoquemos.
Por vezes, O Senhor pode mesmo permitir que a actuação de Satanás nos crie algumas dificuldades no ministério, na tentativa de nos impedir de progredir espiritualmente. Sobre isso, diz o Apóstolo Paulo:
«Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!» (Rom. 8:37-39).
Por outras palavras: a actuação de Satanás pode ser usada por Deus para nosso benefício, seja no processo que nos conduz a um maior e melhor conhecimento do poder de Deus, seja no surgimento de novas oportunidades para o Evangelho. “Somos mais que vencedores”, que é o mesmo que dizer: venceremos de forma arrasadora.
Deus pode permitir que Satanás nos corte um caminho, mas isso só servirá para, com tal actuação, abrir-nos uma porta grande e eficaz para o progresso do Evangelho (I Cor. 16:9). E é nisso que devemos estar empenhados;
Deus pode permitir que “um anjo de Satanás nos dê algumas bofetadas” (II Cor. 12:7); mas isso será uma oportunidade excelente para experimentarmos o poder vencedor de Deus nas nossas vidas (8-10).
Deus pode permitir que Satanás use os descrentes para nos afrontar e nos levar mesmo à morte; no entanto, isso será uma outra situação onde Deus tem oportunidade de demonstrar o seu poder nas nossas vidas. Mas, uma coisa é certa: Satanás não fará nada que Deus não permita; e nós não seremos tentados acima do que podemos suportar (I Cor. 10:13), pois nessas situações o Senhor nos dará a graça suficiente para aguentar, ou então nos dará o escape.
Não podemos reclamar dons e poderes sobrenaturais para dominar as forças espirituais, mas temos o Senhor que não nos deixa nem nos desampara (Hebreus 13:5) e o Seu Espírito Santo que nos ajuda nas nossas fraquezas (Romanos 8:26-27), de modo que podemos dizer:
«Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera» (Efésios 3:20); e:
«Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?» (Romanos 8:31).
Assim, o combate que é feito contra Satanás e contra as suas hostes é o próprio Senhor que o faz, com o seu poder, o poder do Evangelho da Graça de Deus. Podemos combater Satanás e as hostes espirituais da maldade não com algum poder especial que tenhamos, nem com algum dom distinto que tenhamos recebido do Senhor, nem com a intervenção dos anjos, mas pelo próprio Senhor. Enquanto, com Israel os anjos tinham uma intervenção directa de auxílio, para defendê-los, como povo de Deus, cuja liderança é feita pelo Arcanjo Miguel, em relação à Igreja “Corpo de Cristo” essa intervenção é feita directamente pelo Senhor (II Cor. 12:7-10; Efé. 6:10-11; II Tim. 1:12; 4:17). Nunca lemos que, em relação à Igreja “Corpo de Cristo”, os anjos tenham uma intervenção activa; mas lemos que eles têm uma função contemplativa. Eles estão a aprender da Igreja a sabedoria, o poder, e a Graça de Deus demonstrada sobre os crentes (I Cor. 4:9; 11:10; Efésios 2:7; 3:10; I Tim. 3:16; 5:21) e fazem-no com muito agrado (I Ped. 1:12), e, certamente, com louvor para Deus (Efésios 1:6, 12, 14). Com o “povo terreno” do Senhor (Israel), os anjos intervinham directamente: dando a lei (Act. 7:53; Gál. 3:19), fortalecendo (Sal. 78:25; 91:11), protegendo (Mat. 18:10), confortando (Luc. 22:43). Eles são «espíritos administradores, enviados para serviram a favor daqueles que hão de herdar a salvação» (Hebreus 1:14 – ver nota anterior). Mas, em relação à Igreja celestial, todo este trabalho é efectuado directamente pelo Senhor e pelo Seu Santo Espírito (Rom. 8:13; 26-28; Efé. 3:16-17; Gál. 5:16-6:10). Os anjos estão, por isso, numa atitude contemplativa, apreciando a forma como Deus salva as almas que estão em inimizade com Ele, os seus inimigos, pela sua graça; estão a apreciar a graça de Deus na salvação e na santificação de pessoas fracas e pobres; estão a apreciar a presença do Senhor e a sua a actuação no ajuntamento dos crentes como igreja, e na própria vida dos crentes em particular. Paulo disse que era feito espectáculo aos anjos (I Coríntios 4:9); Eles observam a sabedoria de Deus, pela forma como Ele trabalha com o seu povo, e mesmo nos propósitos que tem com o Seu povo (Efésios 3:10). Apreciam o poder de Deus dispensado aos seus remidos, na forma como eles superam todas as hostilidades das hostes de Satanás e do mundo. Observam, também, a santidade de Deus (I Tim. 5:20-21) pela forma como os crentes se comportam no mundo e como igreja, no exercício da disciplina daqueles que se portam indignamente, conforme observamos pelo contexto do texto citado. Observam, ainda, a glória de Deus e a Sua autoridade (I Cor. 11:10) pela forma como os crentes se reúnem à volta da Sua Palavra. Por isso mesmo, as mulheres devem estar caladas e ter um véu como sinal de sujeição à autoridade de Deus e esconder a sua glória, para que não colida com a glória de Deus. E nós, como igreja, deveríamos ser exímios na demonstração destas qualidades divinas e espirituais aos anjos.
Conclusão: “Posso todas as Coisas naquele que me fortalece”!
Como assim? Pela Palavra de Deus. Orando. Tendo comunhão com Deus. Estando em comunhão com os verdadeiros crentes, os membros da Igreja “Corpo de Cristo”. É na proporção que buscamos a Deus que ficamos mais fortes; só buscando a Deus é que nos fortalecemos; só buscando a Deus em oração e na Sua Palavra é que o poder de Deus se aperfeiçoa nas nossas vidas; é na presença de Deus que a sua graça é derramada sobre nós (Hebreus 4:16); e quanto mais fortes estivermos no Senhor mais Ele opera em nós, e mais o poder das trevas se enfraquece e perde influência; e quanto mais fortes estivermos no Senhor, e fraco estiver o poder influenciador de Satanás, mais o Evangelho de Deus progride.
O crente que ora, ou a igreja que ora, Satanás e as suas hostes os conhece bem, e os teme; Satanás afasta-se e não quer nada com eles, porque sabe que ali está o Senhor e o Seu poder verdadeiramente aperfeiçoado.
A forma de actuação do Senhor na Igreja “Corpo de Cristo” é comparável à Sua actuação na Nação de Israel, se bem que em “estratos” diferentes. Os inimigos de Israel eram diferentes: eram carnais e humanos; eram os povos e as nações pagãs. Os inimigos da Igreja “Corpo de Cristo”, pelo contrário, não são carnais, nem a sua batalha é material, mas o pecado que se manifesta na “carne” (Gálatas 5:16-21), o “mundo” – o sistema pagão e oposto a Deus (Romanos 12:2) e as “hostes espirituais da maldade” (Efésios 6:10-12), que agora operam nos filhos da desobediência (Efésios 2:2-3).
Quando consideramos a experiência de Israel notamos que as suas vitórias foram alcançadas pelo Senhor. Eles, normalmente, limitavam-se a “estar ali”, confiar no Senhor e a observar a vitória conseguida por Ele. É certo que, em muitas ocasiões, eles desviaram-se do Plano de Deus e isso resultou na perda da sua identidade e levou-os a confundirem-se com o mundo, sendo absorvidos e dominados por ele. Com a Igreja o processo é o mesmo, mas do ponto de vista espiritual. Os crentes obterão tantas vitórias quanto mais o Senhor dominar sobre as suas vidas.
Face a tudo o que temos considerado e, de acordo com a revelação do Senhor glorificado para a Igreja, só poderemos ter como errado os crentes afirmarem e agirem como se tivessem em si poderes especiais sobre a sua carne, sobre o mundo ou sobre os espíritos. Não vemos Paulo, o exemplo de crente que viveu segundo o “modelo da graça”, a fazê-lo, inclusivamente a orar por isso, excepto, como ele disse em II Coríntios 12:1-8, quando o Senhor permitiu que um anjo de Satanás o incomodasse pela excelência das revelações. Sobre isso ele orou três vezes, mas foi repreendido pelo Senhor. Nunca mais ele o fez e só o revelou catorze anos mais tarde. Serviu-lhe de lição: agora ele deveria andar pela graça.
Este é o nosso modelo. O Senhor nos ensina a aceitar aquilo que Ele permite que venha à nossa vida, a esperar n’ Ele, sem questionar, já que os seus propósitos são mais sublimes que os nossos pensamentos e, em tudo, “seremos mais que vencedores por Aquele que nos amou” (Romanos 8:37), e, nesse tudo, “dar graças ao nosso Deus e Pai, em nome do Senhor Jesus Cristo” (Efésios 5:20). E, se em algum momento sentirmos que estamos a ser impedidos por Satanás na realização de alguma obra para o Senhor, não nos alarmemos... não nos precipitemos... não queiramos enfrentar a situação por nossa ousadia... esperemos em Deus, confiemos n’ Ele, e Ele a seu tempo nos ajudará a realizar a Sua Vontade e os resultados serão muito mais compensadores. Devemos ser encontrados, sempre, firmes na fé que cremos e anunciamos.
Como tratar um Disciplinado
Nestes dias de confusão teológica e de contemporização eclesiástica, qual é a posição que o membro do “Corpo de Cristo” deve assumir para com ensinadores de heresias e erros religiosos? Devemos patrociná-los, associarmo-nos com eles, aceitar sustento ou ajuda deles, aumentar seus números, enviar-lhes convertidos, fortalecer-lhes o prestígio, seguir a liderança deles, identificar nossas igrejas com as deles, ocultar e esquecer importantes diferenças bíblicas que temos com eles?
A resposta da Bíblia é clara:
1. Provai-os... «Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.» (II Coríntios 13:5); “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” (I João 4:1);
2. Notei-os... - “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.” (Romanos 16:17);
3. Repreende-os... “Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé.” (Tito 1:13); «Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.» (I Timóteo 5:20);
4. Não tenhais comunhão... “E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as.” (Efésios 5:11); «Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem; isso não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas, agora, escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais.» (I Coríntios 5:9-11);
5. Apartai-vos... “Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu.” (II Tessalonicenses 2:6); «Se alguém ensina alguma outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfémias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho. Aparta-te dos tais.» (I Timóteo 6:3-5);
6. Destes afasta-te... «Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.» (II Timóteo 3:5);
7. Não o recebais... «Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras.» (II João 1:10-11);
8. Não vos mistureis com ele... “Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe.” (II Tessalonicenses 3:14);
9. Evitai-o... “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o,” (Tito 3:10);
10. Apartai-vos... “Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei” (II Coríntios 6:17).
Mas, aqueles que se arrependem e decidem voltar aos caminhos da fé, com humildade e dedicação, a igreja deve recebê-los em comunhão, sem quaisquer reservas:
«Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas…» (Romanos 14:1);
«Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos.»
«Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus.» (Romanos 15:1,7);
«Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.» (Filemon 1:17);
«Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos; basta ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que, pelo contrário, deveis, antes, perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja, de modo algum, devorado de demasiada tristeza. Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E para isso vos escrevi também, para por essa prova saber se sois obedientes em tudo. E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás, porque não ignoramos os seus ardis.» (II Coríntios 2:5-11);
«Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.» (Gálatas 6:1-2);
«Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia, não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.» (II Tessalonicenses 3:14-15).
O Deus de toda a graça esteja convosco.
Vítor Paço
[1] As escrituras falam de cartas de recomendação (I Coríntios 16:3; II Coríntios 3:1; ) e de cartas de disciplina, que são comunicações às diversas igrejas locais da disciplina lavrada de pessoas em pecado e perigosas: I e II Timóteo são casos desses. I Coríntios também.
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