«Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm
sido entesourados para o fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e
destruição dos homens ímpios». (II Pedro 3: 7).
«Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os
quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação,
homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o
nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo». (Judas 1: 4).
«E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer
o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para
perdição?» (Romanos 9: 22).
Em Filipenses 3:19 deparamo-nos
com uma expressão do apostolo Paulo muito enigmática, para definir o fim dos “inimigos
da cruz de Cristo”, “cujo fim é a destruição”! Que significa isso? A
que é que ele se refere?
«Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos
dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O
destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está
na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas». (Filipenses 3: 18-19)
A palavra destruição é a tradução da
palavra «Apoleia”, Strong 684, apwleia (apoleia), um suposto derivado de 622; TDNT-1:396,67;
substantivo, feminino. Significado «ato de destruir, destruição total».
Esta palavra ocorre 19 vezes no NT e é
traduzida como "perdição" 8 vezes, "destruição" 5, "desperdício"
2 e "condenável", "condenação", "morrer",
"perecer", "caminho pernicioso", uma vez cada.
Esta variedade de significados revela a indecisão dos tradutores quanto ao significado dessas palavras intimamente relacionadas. E embora seja verdade que essas palavras podem ter mais de um significado, dependendo do contexto, o estudioso atento logo perceberá que "destruir" e "perecer" representam o seu significado mais forte possível da palavra, e a palavra "perdido" representa uso mais fraco possível da mesma.
Se a Bíblia for examinada na sua
totalidade a fim de encontrar tudo o que ela revela sobre o castigo futuro, o estudioso
atento descobrirá que repetidas vezes encontrará palavras como
"destruir" e "perecer". E, se ele verificar essas palavras
no grego, descobrirá que são traduções da palavra apollumi (palavra de Strong
622), ou uma palavra derivada desta, Apoleia (palavra de Strong 684). Apollumi é
encontrado 92 vezes no Novo Testamento, onde é traduzido "perecer" 33
vezes, "destruir" 26, "perder" 22, "perder-se" 5,
"perder-se" 4, "doente" 1, "morrer" 1.
Neste estudo das palavras e conceitos verificamos que a generalidade dos estudiosos linguísticos bíblicos e extra bíblicos determinam que o significado mais forte e fundamentado da palavra é “estar perdido”, numa condição da qual os homens podem ser salvos. Mas, infelizmente, alguns outros comentadores são induzidos a determinar que o significado mais fraco desta palavra é o seu verdadeiro significado, afirmando que estar perdido é uma condição transitória, como “estar doente”.
Ver-se-á, também, que aqueles que
insistem neste mais fraco significado são defensores de alguma doutrina de
salvação universal, restauração ou reconciliação universal. Uma vez que “apollumi”
é traduzido por alguma forma de "perder" cerca de 31 vezes no Novo
Testamento, eles insistem que tudo o que significa é um perdido, como se de uma
doença se tratasse! Eles não conseguem perceber que esse significado não pode
ser dado à maioria das suas ocorrências, muito mais fortes nas escrituras
gregas. E, quando alguém se depara com uma infinidade de traduções de uma única
palavra como esta, a “Apollumi”, o estudante atento sentirá a
ambivalência dos tradutores, e isso o leva a esperar que haja nas Escrituras
algum uso claro dessa palavra que lhe dê total luminosidade e direção quanto
ao seu significado, especialmente quando aplicado aos homens.
Tendo feito uma pesquisa, sei que há
nas Escrituras alguns usos de “apollumi” que nos dão muita clareza sobre
o significado e uso muito consistentes dessa palavra.
Perecer na Morte
«E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé,
e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo
pereceram. (I Coríntios 15: 17-18).
Em I Coríntios 15: 18, onde “apollumi”
é traduzido como "pereceram", encontramos uma ocorrência em
que podemos determinar o verdadeiro significado da palavra e, determinar a base
de interpretação para outras passagens bíblicas onde a palavra ocorre. O
assunto desta porção, tanto no texto quanto no contexto, é a ressurreição dos
mortos, e a importância da ressurreição é enfatizada pela declaração de Paulo
de que, se os mortos não ressuscitarem, "também os que dormiram em Cristo
perecerão". Assim, da Palavra de Deus aprendemos que, sem a ressurreição,
o estado dos mortos não é de bem-aventurança celestial, mas, sim, de destruição
definitiva. Por isso, apollumi é a palavra usada pelo Espírito Santo
para descrever o individuo morto, sem previsão de qualquer tipo de ressurreição.
Portanto, é lógico concluir que a
palavra hebraica sheol e a palavra grega hades são
usadas para indicar o estado de morte quando a ressurreição está em vista, pois
todos os que estão no estado de morte serão vivificados (I Coríntios 15: 22), e
apollumi significa o estado de morte quando nenhuma ressurreição está prevista.
Este é o estado mesmo daqueles que “adormeceram em Cristo”, se não houvesse
ressurreição.
Então, a partir de I aos Coríntios 15:
18 temos um significado claro da palavra apollumi, que não deve ser
ignorado. E embora esta palavra possa ter significados menores em outros
contextos, o seu mais forte significado é o que está aqui previsto, e que, aqui,
não pode ser negado.
Há alguns que insistem que apollumi
estabelece uma condição da qual os homens podem ser salvos, e apontam para o seu
uso em Lucas 15: 3-32, onde a palavra é usada para a "ovelha
perdida", a "moeda perdida" e o "filho perdido". Tudo
isso é figurativo, com usos metafóricos desta palavra, como será visto em Lucas
15: 24, onde o pai do filho pródigo é citado como tendo dito: “Porque este
meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi achado”.
Além disso, aquela ovelha que foi descrita como "perdida"
(apollumi) estava em condições e numa situação que poderia ser
encontrada (como foi), e aquela moeda estava em condições de ser
encontrada (como foi), e o filho estava numa condição que tudo o que ele
precisava de fazer era decidir e sair do estado paupérrimo em que se encontrava
(o que foi que fez).
No entanto, quando se lê na Bíblia
palavras como: "E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a
alma; temei antes Aquele que pode destruir (apollumi) tanto a
alma como o corpo na geena", será que alguém poderá dizer que o alerta
aqui feito é para situações compatíveis ou equivalentes ao do filho pródigo? No
entanto, é esse o uso que alguns estudiosos querem levianamente dar à palavra e
tentar torcer tendenciosamente o verdadeiro alcance do significado da palavra apollumi.
Mais, ainda, que não podemos negar que este texto do Senhor fala de algo mais
sério que a morte natural das coisas!
Além disso, quando chegamos à
declaração de Paulo em Filipenses 3: 19 que “o fim” de certos homens “é
a destruição”, enfrentamos o uso mais forte possível deste termo. O termo
determina o acabamento final desses homens. É o fim que está determinado para
eles: é o fim deles. Não é um estado intermédio para a destruição, ou algum
estado intermédio para algo melhor. Nem, está previsto aqui que eles serão destruídos
por um tempo e, depois, serem restaurados desse estado para algo diferente. Esse
é o seu estado final, o seu fim.
Há três passagens breves no Antigo
Testamento onde a palavra sheol está ligada à destruição, e são
importantes para a compreensão do nosso tema.
Job 26: 6
– “O sheol está nu perante ele, e não há coberta para a perdição”.
Provérbios 15: 11
– “O sheol e a perdição estão perante o SENHOR; quanto mais o
coração dos filhos dos homens”!
Provérbios 27:20
– "O sheol e a destruição nunca estão cheios, e os olhos do
homem nunca se fartam".
Estas três passagens nos mostram que o
sheol (o estado de morte), e a destruição (extinção total), têm
uma relação muito estreita e definida, e para descobrir isso precisaremos ser
mais definidos em nossa compreensão daquele estado que temos chamado de “estado
de morte”: estar morto!
Não há ensino que seja mais enfático
ou simplesmente apresentado nas Escrituras do que a morte é RETORNO! E,
pelo registo das Escrituras sabemos que Adão não tinha existência antes de ser
criado. É verdade que o pó da terra (o solo) do qual ele foi feito e trazido à
existência, nada era! Era somente terra! E, por isso, o pó, em si, mesmo com a
forma que tinha, não era o homem Adão. No registo da criação do homem nos é
dito que Deus o fez da própria terra, do pó que compunha o solo e, depois, soprou
em suas narinas o “sopro” de vida e o homem se tornou um ser vivente.
Este é o registo da criação do homem.
Mas, se o leitor inverter a ordem e o procedimento, o que temos? Temos a morte do
homem. Por isso, a morte é a inversão da criação. Se o espírito (o fôlego de
vida) volta para Deus que o deu, e se o solo volta para a terra como antes era,
então nós temos a morte do homem.
Como Eliú disse, na sua conversa com
Job:
“Se ele pusesse o
seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego,
toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó”.
(Job 34: 14-15).
A isso podemos acrescentar as palavras
de Salomão, que, seguindo sua majestosa descrição de um homem idoso, declarou:
“E o pó volte à
terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. (Eclesiastes
12: 7).
Na morte, nenhuma parte do homem ou o
homem como um todo entra em qualquer condição nova ou desconhecida. O homem
estava no solo antes de sua criação e na morte ele retorna ao solo; o espírito
(sopro de vida) que estava com Deus antes de ser dado ao homem, retorna a Deus
que o deu. Esta é a condição de todos os homens na morte, é o estado de morte.
Mas visto que o homem vai para o estado de morte tendo em vista a ressurreição,
e isso é claramente declarado nas Escrituras (Atos 24:15, 1 Coríntios 15:22)[1],
podemos ampliar nossa definição de sheol e hades para entendermos cada vez que nos depararmos com estas palavras que significam "o estado de morte
com a ressurreição em vista”. Se o facto da ressurreição fosse de alguma forma
apagado por Deus, na perspetiva do futuro do homem, então o sheol
se tornaria a destruição definitiva.
Assim é quando Deus diz que o FIM de
alguns é a destruição, Ele eliminou toda a perspetiva de uma ressurreição e de salvação
no seu futuro. Isso também é verdade quando Deus diz daqueles lançados na geena
escatológico: "seu fogo não será extinto e o seu verme não morrerá"!
Nunca haverá reversão do julgamento que determinou o seu estado de destruição e morte
sem qualquer ressurreição em vista.
Desde a morte do primeiro homem (Abel)
Deus tem retomado para si o espírito (vida) de cada ser vivo que morre. O homem
que foi formado do pó da terra volta ao pó de onde fora tirado, e o espírito
(sopro de vida) que fez do homem um ser vivente volta para Deus que o deu.
Este não é o fim do homem, pois ele
simplesmente entrou no estado de morte onde a ressurreição está em vista. A
ressurreição não depende da redenção, perdão ou salvação. Com Paulo, acreditamos
numa ressurreição dos justos e dos injustos. Se não fosse a ressurreição, a
morte seria o fim do homem. A ressurreição não é reencarnação. A ideia de que
algo chamado alma reaparece em outra forma ou corpo após a morte, não existe,
nem Deus deu alguma ideia nesse sentido.
A ressurreição é a recriação, a restauração na
qual o homem é, novamente, tirado da terra e recebe, novamente, o sopro de vida
(a Palavra de Deus/ a Voz de Cristo) para que ele se torne, novamente, um ser vivente.
O homem tem um começo e pode chegar a um fim
completo e ser como se nunca tivesse existido, para Deus. Mas isso não acontece na morte.
Ocorrerá após a ressurreição, com sofrimento, determinado pelos Juízo de Deus. Essa é a destruição: o fim dos ímpios. E, isso é
determinado pelo estado espiritual em que se encontrar no período da Sua vida.
[1] “Tendo
esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver
ressurreição de mortos, tanto dos justos como dos injustos”. (Atos
24: 15).
“Porque,
assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo”.
(I Coríntios 15: 22).
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