segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Mandamentos na Graça?

Olá Vítor:
Na presente dispensação há mandamentos?
Por exemplo:
Quando Paulo diz: "Que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Timóteo 6:14);
"Ora,o fim do mandamento é o amor de um coração puro e de uma boa consciência e de uma fé não fingida" (I Timóteo 1:5).
E outros versículos. Como fazes a leitura interpretativa deste assunto?
Abraço,

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Não! Vejamos:
«Pois não estais debaixo da lei, e sim da graça…» (Romanos 6:14), e estando debaixo da graça, toda a vida deve ser vivida segunda a graça e não sob qualquer obrigação. A vida sob obrigação colide com a vida da graça: têm naturezas diferentes. É esse o sentido de Gálatas 5:16-18, que diz:
«Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito (ensino da graça), não estais debaixo da lei».
Os termos «carne» refere-se ao ensino da lei, ordenanças, mandamentos; e «espírito» refere-se ao ensino do Espírito, a revelação do Mistério, o ensino da graça que domina o “Corpo de Cristo”!
«Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito (ensino da graça), acabeis agora pela carne? (ensino da lei)» (Idem, 3:2-3).

E, sobre esta vida do Espírito diz:
«Contra essas coisas não há lei» (Idem, 5:23).

Ou seja, a vida do Espírito está muito acima da vida segundo o padrão da lei, e quem a vive segundo a regra da graça mais que satisfaz a lei (Romanos 5:17, 20) ou o que Deus espera de uma vida que é vivida segundo o padrão da lei!

No entanto, como somos seres humanos e afetados pelo pecado, algumas instrução são-nos colocadas com uma configuração de mandamento, mas não deve ser vivido nesse espírito, mas com entendimento de compreensão clara e completa da vontade de Deus!

«Vós… estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações. E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus» (II Coríntios 3:14-15);

«Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito (entendimento) e não na caducidade da letra (mandamento)» (Romanos 7:6).

Vejamos mais, a natureza da graça nos dias da graça:
«Ora, àquele que faz qualquer obra, não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida…» (Romanos 4:4);
«E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça» (Romanos 11:6);
«Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça… E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!» (Romanos 6:14-15).

Assim que, quando os crentes andam hoje segundo mandamentos não passam de crianças e andam como crianças, à semelhança de Israel antes do tempo de maturidade… (Gálatas 4:23-25), e aqueles que assim andam «da Graça tendes caído…» (Gálatas 45:4);

E, que dizer dos textos supra citados que parecem revestir a forma de mandamento?

O único mandamento que temos é a graça:
«Se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente» (Efésios 3:2-3)

«Dispensação da graça de Deus» significa precisamente «Lei ou Instruções da casa da graça de Deus»! Ou seja, ser salvo pela graça e viver pela graça é o mandamento de Deus; e, quem não andar segundo a graça de Deus irá ser punido por Deus!
«E a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente connosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder» (II Tessalonicenses 1:7-9).

Por isso é que o Apóstolo Paulo fala de «obediência da fé»! Ou seja, a graça é imprescindível em qualquer circunstância: diga-se: a obrigação da graça!
«Pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome» (Romanos 1:5);
«Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras…» (Romanos 15:18);
«E que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações…» (Romanos 16:26);
«Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues» (Romanos 6:17).

E, quando o Apóstolo Paulo fala em guardar “este mandamento” refere-se «à doutrina da graça», e não a «mandamentos» objetivos, letras de lei, similares aos mandamentos de Moisés, dentro da presente dispensação. Notem bem o texto:
«Exorto-te, perante Deus, que preserva a vida de todas as coisas, e perante Cristo Jesus, que, diante de Pôncio Pilatos, fez a boa confissão, que guardes o mandato imaculado, irrepreensível, até à manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo» (II Timóteo 6:13-14).
«O mandato», com artigo definido enfático: «o». 1785 entolh entole, de 1781; TDNT-2:545,234; substantivo, feminino; Significa: 1) ordem, comando, dever, preceito.
«O mandamento imaculado», conforme «promessa eterna entregue por mandamento»:
«Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade, na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos e, em tempos devidos, manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador…» (Tito 1:1-4);

Este «mandamento» refere-se ao “corpo” de doutrina da Igreja “Corpo de Cristo” confiada ao Apóstolo Paulo para os gentios.

Mas há mais considerações a fazer sobre este assunto:
O Novo Testamento traduz «mandamento» três palavras:
Strong: 1785 entolh entole, de 1781; TDNT-2:545,234; substantivo, e significa: 1) ordem, comando, dever, preceito, injunção; 2) mandamento. O verbo «mandar»: 15 vezes no NT; Paulo não usa este verbo; o substantivo «mandamento»: 67 vezes no NT, sendo 18 vezes usado por Paulo, com referência a mandamentos gerais, mormente aos de Moisés (13x) e de Deus a Adão (2x) e em relação ao “corpo de doutrina” que recebera do Senhor (3x).
Strong: 2003 epitagh epitage, de 2004; TDNT-8:36,1156; substantivo, e significa: 1) Edito imperial, conforme septuaginta em Ester 1:8. O verbo «mandar»: 10 vezes no NT, nunca usado por Paulo; o substantivo «mandamento» 7 vezes no NT e sempre em Paulo e em relação ao seu apostolado, ou seja, foi constituído apóstolo por «Edito Imperial de Deus».
Strong: 3852 paraggelia paraggelia, de 3853; TDNT-5:761,776; substantivo; significado: 1) notificação, proclamação ou anúncio de uma mensagem a alguém… recomendações, exortações, instruções… como aquelas que se dão aos militares… aos atletas… etc. O substantivo «mandamento» é usado no NT 30 vezes, sendo 12 vezes usado por Paulo; o verbo «mandar» é usado no NT 5 vezes, sendo três em Paulo:
«Finalmente, irmãos, nós vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como de nós recebestes, quanto à maneira por que deveis viver e agradar a Deus, e efetivamente estais fazendo, continueis progredindo cada vez mais; porque estais inteirados de quantas instruções vos demos da parte do Senhor Jesus. Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição…» (I Tessalonicenses 4:1-3);
«Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia» (I Timóteo 1:5);
«Este é a instrução que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate…» (Idem, 1:18)

A versão da JFA RA é mais esclarecedora: não traduz por mandamento, mas instrução e admoestação, exortação (Idem, 6:13 e 17)
Assim, vemos que não há aqui mandamentos, com o caracter que tinha os mandamentos levíticos e mosaicos, mas instruções assentes na vida da graça.

A importância de andar segundo estas regras, ou seja, o mandamento de não ter mandamentos: a “lei da graça” de não estar debaixo de leis”, mas debaixo da graça, tem a ver com o galardão que será determinado no tribunal de Cristo: viver segundo as regras da graça, ou seja, nã por mandamento, mas como adultos, com entendimento, com inteligência, com sabedoria, naturalmente e não como por obrigação.
«Igualmente, o atleta não é coroado se não correr segundo as normas
Fiel é esta palavra: Se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos (nas normas da graça), também com ele reinaremos; se o negamos (à sua Palavra/doutrina), ele, por sua vez, nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo…» (II Timóteo 2:5, 11-13).

Assim, o crente se quer andar segundo o modelo de Deus e de forma que agrade a Deus terá de andar como verdadeiro adulto, e não mais como menino, com mandamentos, com obrigações, sem entendimento, com símbolos, figuras e sombras, mas como adulto, inteligente, sábio, com total entendimento do que deve e como deve viver na “casa de Deus”.

Aconselho a ler, brevemente, o artigo que será postado “A Dispensação de Deus”!

A graça de Deus e o Deus de toda a graça seja connosco.
VPaço


1 comentário:

  1. A verdade dói, mas precisa ser ouvida e repetida:
    "Assim, o crente se quer andar segundo o modelo de Deus e de forma que agrade a Deus terá de andar como verdadeiro adulto, e não mais como menino, com mandamentos, com obrigações, sem entendimento, com símbolos, figuras e sombras, mas como adulto, inteligente, sábio, com total entendimento do que deve e como deve viver na “casa de Deus”.

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