domingo, 23 de março de 2014

Amor de Cristo e Amor de Deus

O Amor de Cristo e o Amor de Deus

A generalidade dos cristãos e mesmo os estudantes da Bíblia nunca se aperceberam da diferença que as Escrituras Sagradas fazem do amor de Deus e do amor de Cristo. Pior que isso, confundem estes dois tipos de amor. Há, certamente, uma relação estreita entre os dois: não poderá haver um amor sem o outro, mas são diferentes, na sua característica, nos motivos, nas causas e nos propósitos, porque, especialmente, são de pessoas diferentes.
Quando se fala do amor de Cristo as pessoas pensam logo na sua vinda ao mundo, fazer-se homem, morrer na cruz do calvário e salvar o mundo! Mas, depois de analisadas as Escrituras verificamos que não é bem a isso que se refere. 
Então, para percebermos esta diferença teremos de socorrer-nos dos escritos do Apóstolo Paulo, pois somente ele fala deste aspeto do amor de Cristo para com a Sua Igreja, a “Igreja Corpo de Cristo”.
Assim, quando vemos as referências que o Apóstolo Paulo faz ao amor de Cristo verificamos que ele não tem o sentido genérico, como o “amor de Deus” por todo o mundo, mas restringe o objeto do Seu amor à Sua Igreja “Corpo de Cristo”, como o seu povo exclusivo (Tito 2:4).
Vejamos:
                           «25 Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26 para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível» (Efésios 5).


Analisemos, agora, o texto de Efésios 3:
«Pai... 15 do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, 16 para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; 17 para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, 18 poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade 19 e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus».

Reflitam bem nestas palavras: « (1) conhecer o amor de Cristo > (2) que excede todo o entendimento > (3)para que sejamos cheios da plenitude de Deus».
Ou seja: conhecimento do conteúdo: o amor de Cristo >> natureza: excede todo o entendimento >> resultados: «cheios da Plenitude de Deus».

A explicação destas palavras estão na própria epístola aos efésios:
- A Plenitude de Deus é a Igreja “Corpo de Cristo” (1:22-23);
- Excede todo o entendimento porque, neste propósito da Igreja “Corpo de Cristo” ou, simplesmente “o Cristo” (I aos Coríntios 12:12-13; Romanos 12:4-5; Efésios 4:13-16; 5:30-31; Colossenses 2:17-19; 3:10-11), estão escondidos todos os tesouros da ciência e da sabedoria de Deus (Colossenses 2:2-3), as “riquezas incompreensíveis de Cristo” (Efésios 3:8), as coisas que «nenhum olho viu, nem ouvido ouviu, nem subiu ao coração do homem, é o que Deus preparou para os que o amam» (I aos Coríntios 2:9-10), as coisas profundas e ocultas de Deus!
- Conhecer o amor de Cristo, ou ter a mesma mente de Paulo acerca do mistério de Cristo, o Segredo de Cristo, que tem a ver com a Sua Igreja “Corpo de Cristo” e com o propósito que Deus tem para e através dela, em Cristo (Efésios 3:2-8).

Este versículo dezanove parece ser a explicação ou o resumo do que disse nos versículos anteriores (14-18): corroborados no homem interior, no coração, com o poder de Deus (a obra de Deus que se manifestará na Igreja com a ressurreição do arrebatamento, segundo 1:17-22; não o poder que se manifesta agora – agora, neste mundo, manifesta-se a fraqueza de Deus como em Cristo – e na ressurreição se manifestará o poder de Deus como se manifestou em Cristo: Filipenses 3:20-21, que são as riquezas da Sua glória), que é feito pelo Seu Espírito através da Sua Palavra (Romanos 8:16, 26-27; Efésios 5:18), e nos dá a capacidade de perfeitamente compreender a largura, o cumprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. O poder de Deus, segundo 6:10 refere-se aos nossos direitos em Cristo na glória (Efésios 1:3-6), nos quais nos devemos agarrar para nos mantermos firmes contra os ataques do diabo e das suas hostes.

Ou seja, poderia dizer ele:
«Conhecer o amor de Cristo que excede todo o entendimento para que sejamos cheios de toda a plenitude de Deus», que é a largura e o cumprimento, e a altura e a profundidade daquilo que devemos conhecer de Deus.

Assim, o amor de Cristo não é universal nem deve ser compreendido em algum sentido genérico, mas algo restrito à Sua Igreja, chamada de “Corpo de Cristo”, que é todo o conteúdo da revelação do Mistério de Cristo, a pregação de Jesus Cristo segundo a revelação do Mistério (Romanos 16:25-26) que estava oculta na Profecia até à chamada de Paulo pelo Senhor glorificado (I a Timóteo 1:15-16), designadamente: a forma como ele nos amou (Efésios 1:4-5) e nos elegeu e predestinou para fazermos parte de um propósito eterno onde Ele partilharia com os membros do Seu corpo os privilégios da Sua divindade, no governo da criação, segundo as riquezas da Sua graça (Idem, vv. 3-14).

A generalidade dos crentes pensa que o amor de Deus e ou o amor de Cristo é um sentimento: como sentir muita emoção, sentir muito afeto, ter muitas emoções sentimentais; mas isso não é o amor de Deus. O amor de Deus é uma atitude: é aquilo que vemos na revelação da Sua palavra. O amor de Deus não é nenhum sentimento que possa partir de um coração humano afetado pelo pecado, imundo, um corpo de pecado onde não habita bem algum. O amor de Deus é derramado nos nossos corações pelo Seu Espírito através da Sua Palavra, que é o único meio de Deus comunicar com o homem, presentemente. Por isso é que o verdadeiro crente não fica em confusão com as tribulações, pois tem conhecimento da Palavra do Espírito (Romanos 5:1-6). E, quando somos chamados a amar como Cristo não é a ter um sentimento igual ou como o de Cristo, pois isso, nestes corpos, seria impossível, e quem disser o contrário é mentiroso: basta olhar para os seus exemplos (maus) que o negam. A Escritura diz para andarmos em amor como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós (Efésios 5:2), é para nós olharmos para a Sua Palavra pois é nela, unicamente, que vemos como Cristo nos amou… e ter a mesma atitude.
Não se deixem enganar por discursos vão e impossíveis de se realizar; nem se enganem a vós próprios desejando uma coisa impossível de experimentar enquanto estivermos nestes corpos mortais! A generalidade dos discursos religiosos nada tem a ver com a sua experiência, pela sua impossibilidade de se concretizar. Mas, quando entendemos a revelação e a experiência do Apóstolo Paulo, depois de Atos 28, verificamos que tudo é coerente com o discurso e a vida prática no “corpo da carne”! Mas, nada é coerente nos discursos religiosos, mesmo protestantes e evangélicos. Os cristãos poderão falar de amor e dizer que amam, mas se não conhecerem a revelação do Mistério de Cristo e não tiverem a mesma atitude de Cristo segundo esta revelação estão desfasados do amor de Cristo e alheios do amor de Deus.

Analisemos, então, a experiência que o Apóstolo Paulo tinha com este amor de Cristo e os seus efeitos sobre a sua vida, para vermos a importância de conhecermos melhor este amor e nos inteirarmos profundamente no conhecimento desta revelação do Segredo de Cristo:
«Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou» (II Coríntios 5:14-15).

O termo «constrange» significa estar cercado por todos os lados e só ver uma saída, e essa, aqui, é o amor de Cristo. Poderia ele dizer: posso olhar para todos os lados, mas só um me atrai: o amor de Cristo, para onde sou impelido a olhar, por uma razão: ele morreu por nós para, agora, podermos viver para Ele.
Este viver, no contexto, tem a ver com o propósito de Deus na Igreja “Corpo de Cristo”, pois passamos a ser uma nova criação e a pertencer a uma nova criação, não carnal, mas espiritual (vv. 16-17), e ao respetivo ministério: «o ministério da reconciliação» (v. 18, 20-21), e à «palavra de reconciliação que nos foi confiada» (v. 19). Pelo que, por essa razão, «todos – do corpo – serão apresentados diante do tribunal de Cristo» (v. 10). De forma que, por causa do «temor que se deve ao Senhor» a respeito do Tribunal de Cristo», devemos ter cuidado como estamos no ministério!
Por isso, neste temor da espectativa do Tribunal de Cristo, somos impelidos pelo amor de Cristo, ou seja, somos impelidos por este mistério e para este ministério, no aprofundamento do seu conhecimento e sermos dominados por ele.

Neste sentido ele diz:
«Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus…
«Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá de Deus o louvor.
«Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, ilustres, e nós, vis...» (I aos Coríntios 4:1-10).

Novamente a referência ao ministério: a respeito do amor de Cristo e a motivação: o Tribunal de Cristo»
E, isso, faz-nos superar as fraquezas:
«Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte» (II aos Coríntios 12:10).
  
O amor de Cristo, ou a revelação que desvenda o amor de Cristo em tudo aquilo que faz parte do Plano de Cristo para a Sua Igreja, também se torna como o modelo de vida do Crente, como Paulo escreve aos Gálatas:
«Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim» (Gálatas 2: 20).

A vida que vivo na carne vivo-a na fé e não segundo a carne. A ninguém conhecemos segundo a carne, diz o Apóstolo (II aos Coríntios 5:16-17), nem vivemos segundo a carne (II Coríntios 13:10). Os que querem viver na carne, valorizando as coisas deste mundo, humanas e carnais, estão desfasados de Cristo, não tendo qualquer noção do que é a vida cristã (Colossenses 2:18-19, 23), e vão ceifar a destruição das suas obras (Gálatas 6:8, conforme I aos Coríntios 3:9-21), no tribunal de Cristo.

Depois de considerarmos as questões da responsabilidade que temos no conhecimento do amor de Cristo, para terminar estas considerações, entre múltiplas que nos poderiam deter, chamo a atenção dos queridos leitores para uma verdade reconfortante do amor de Cristo e está revelada em Romanos 8: 35-39:
«Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
«Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou… nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!»

É consolador saber que, embora neste mundo e vivendo em fraqueza e rodeados por toda a sorte de fraqueza, está garantido o amor de Cristo e todo o propósito de Deus em Cristo para a Sua Igreja “Corpo de Cristo”, porque, este amor de Cristo está no amor de Deus: é uma expressão semelhante às do Senhor Jesus Cristo quando disse: «ninguém as arrebatará das minhas mãos… das mãos do meu pai…» (João 10:28-29).
 Notem que o Apóstolo está a falar da nossa esperança, da glória que em nós há de ser manifestada (v. 17-18), do decreto e/ou propósito de Deus quando traremos a imagem do Seu Filho… e que já nos vê glorificados… (vv. 28-30).

Que consolador: «quem nos separará deste propósito do amor de Cristo?»
Consolai-vos com estas palavras e não descoreis o conhecimento e a experiência do amor de Cristo.

E, a que se refere o amor no Espírito? (Romanos 15:30; Colossenses 1:8)
VPPaço

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